CULTURA

Literatura para jovens e crianças

César Fraga / Publicado em 6 de junho de 2005

O lançamento de uma coleção infanto-juvenil pela Editora Cortez vem preencher uma lacuna no já respeitável catálogo da editora, que é bastante atuante no meio didático e paradidático. Ao todo soma 25 títulos, dos quais destacaremos nessa coluna quatro deles. Todos podem ser utilizados como apoio em sala de aula.

ABC e Numerais, pra brincar é bom demais, de Tatiana Belinky, com ilustrações de Dulce Osinski, em forma de dicionário infantil, trabalha letras e números e apresenta as letras do alfabeto junto com imagens relacionadas. Nada de novo, mas muito bem resolvido do ponto de vista do conteúdo e como objeto gráfico. Tatiana é russa naturalizada brasileira e já tem seu nome entre os maiores autores infantis, tendo se dedicado também ao teatro e televisão, com livros traduzidos para diversas línguas. Dulce é pintora, desenhista e gravadora. Coleciona vários prêmios em salões de arte e tem feito exposições em âmbito nacional e internacional. Formou-se na Escola de Música e Belas Artes de Cracóvia (Polônia) e é professora na Universidade Federal do Paraná.

Olha a ariranha…, de Denise Rochael (argumento e ilustrações), apresenta às crianças de todas as idades uma história sem palavras, protagonizada pelo animal (ariranha) que habita os grandes rios brasileiros. Por conter apenas ilustrações, é também indicado para crianças que ainda não foram alfabetizadas. Rochael é formada em Belas Artes pela UFMG, e dois de seus livros já receberam o selo Altamente Recomendável para Crianças, concedido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

Julieta de bicicleta, de Liana Leão e Márcia Széliga é, talvez, o mais interessante da coleção. As autoras, inclusive, brincam com o processo de criação, afirmando na última página do livro que Liana sonhou escrevendo e Márcia desenhou sonhando. Ambas assinam a autoria do livro em pé de igualdade, o que parece bem apropriado em se tratando de literatura infantil, já que as imagens são tão importantes quanto o texto para este segmento. Julieta, a personagem principal, é uma menina que gosta das coisas certinhas e que tinha medo do inesperado. O gancho do livro explora justamente o conflito existente entre o senso de organização das crianças e a dificuldade delas em lidar com o inusitado. O escritor de ficção científica Isaac Asimov perguntou certa vez sobre qual mistério levava o processo de educação a sufocar a curiosidade natural das crianças. Em sentido oposto a essa lógica questionada por Asimov, o conteúdo de um livro ou de uma disciplina pode ser encarado como um brinquedo ou um aliado, e não como um obstáculo ou um inimigo. É essa a busca das autoras.

O mais juvenil da coleção, Popul Vuh, o livro das criações dos maias, adaptado por Luiz Galdino a partir de dois de um total de quatro livros que compõem o Livro sagrado dos maias, no dialeto quiché, falado pelos antigos maias da Guatemala, Honduras e El Salvador na época da conquista espanhola, Popul Vuh significava coleção de folhas escritas, que também é uma boa definição para livro. A linguagem visual é bastante atraente, graças ao traço do ilustrador Roberto Melo, que se aproxima bastante da estética nas novas histórias em quadrinhos hiper-realistas de super-heróis. É curioso como uma cultura além do oceano possui mitos da criação com tantos paralelos e semelhanças com os que geraram a base da religiosidade cultural ocidental judaico-cristã. Galdino é escritor e professor. É pesquisador de Pré-história e História Colonial, com vários livros nessa área. Ao todo, é autor de mais de 50 títulos de ficção adulta e infanto-juvenil. Seu trabalho vem sendo estudado e é objeto de teses universitárias no Japão, Holanda e Brasil. Possui mais de vinte prêmios, inclusive no México, Itália e Alemanha. O mais recente foi o Prêmio Clio de História para o livro Os incas no Brasil. Possui ainda obras publicadas no México e Estados Unidos.

A poesia de Susana

Donaldo Schüler escreveu: “O poeta escreve para outro poeta, seja o outro João ou cada um de nós. Percorremos versos. Vertemos e revertemos. Os versos de Susana vertem versos. Convertem”. O texto está na contracapa do livro Memorabilia, de Susana Vernieri (Libretos, 103 págs.). O João a que se refere Schüler é João Cabral de Melo Neto, autor cuja obra foi objeto de dissertação e tese de mestrado e doutorado da autora pela Ufrgs. O lançamento ocorre no dia 07 de julho na Palavraria Café (Vasco da Gama, 165), em Porto Alegre.

O eu de todos nós

O jogo do eu (Editora Unisinos, 184 págs.), de Alberto Melucci, sociólogo e psicólogo clínico italiano, falecido em 2001, aprofunda temas da subjetividade, da intimidade e do eu como entidades socioculturais e psicológicas. O livro é resultado de uma pesquisa que pretende entender os traços das experiências individuais e dos fenômenos coletivos. A obra é considerada uma importante referência para a Sociologia do século XXI.

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