CULTURA

Israel e o apartheid, segundo Finkelstein

César Fraga / Publicado em 4 de novembro de 2005

Noam Chomski disse tratar-se do estudo mais revelador sobre o background histórico do conflito e das tentativas de acordos de paz entre Israel e Palestina. Chomsky refere-se ao livro Imagem e realidade do conflito Israel-Palestina (Record, 432 páginas), de Norman Finkelstein*, que sai no Brasil. O autor já era conhecido por seu polêmico A indústria do holocausto, que em 2000 sugeria uma nova visão sobre a tragédia do Holocausto, durante a 2ª Guerra. Seu autor, professor da New York University, questionava os motivos para o interesse da mídia e de instituições governamentais pela questão judaica, o que gerou protestos e réplicas em toda a parte. A indústria do Holocausto transformou-se em um best-seller, que permaneceu semanas nas listas de mais vendidos.

Neste novo trabalho, Finkelstein – ele próprio descendente de judeus, nascido no Brooklin, em Nova Iorque (em 1953) – trabalha na linha de desmascarar as origens das representações acadêmicas e sociais que permeiam as raízes deste confronto. O leitor é introduzido neste universo a partir de uma discussão dos fundamentos do sionismo. Para isso, ele começa pela abordagem dos simbolismos e iconografia da guerra dos Seis Dias, em 1967, que marcou a conquista do Sinai, da Faixa de Gaza, da Cisjordânia, das colinas de Golã, na Síria, e da Zona Oriental de Jerusalém – na definição dos contornos do confronto; e da guerra de 1973, quando tropas do Egito e Síria avançaram sobre o Sinai e Golã e foram repelidas com duras perdas para o exército israelense. O autor também faz análise dos tratados de paz, definidos com os acordos de Oslo a partir de 1993, e suas conseqüências, e compara a política israelense nos territórios ocupados ao apartheid sul-africano.

Finkelstein argumenta ainda que o sionismo político propunha que a nação judaica resolvesse sua questão estabelecendo-se num Estado, e para isso os judeus teriam de se constituir como maioria. Para o sionismo trabalhista, a questão judaica não era apenas a ausência de um Estado, mas a estrutura de classe da nação judaica, que se desequilibrou e se deformou com a diáspora. O exílio havia criado um excesso de comerciantes, pequenos negociantes e um déficit de trabalhadores judeus. O sionismo trabalhista também imbuía a minoria judaica com outras exigências: ratificava o direito dos judeus de reivindicar o Estado e assim alterar o equilíbrio demográfico na Palestina, abrindo caminho para a concentração territorial da nação judaica. Já os sionistas culturais defendiam a elaboração de uma síntese do legado cultural para a contemporaneidade, exigindo um “centro espiritual” capaz de unificar as energias da nação, servindo-lhes de força centrípeta – projeto que não poderia se efetivar enquanto o povo permanecesse disperso.

* Norman G. Finkelstein é professor de Ciências Políticas na Universidade DePaul, em Chicago. Autor da tese de doutorado The Theory of Zionism, defendida no Departamento de Política da Universidade de Princeton, é colaborador do London Review of Books. Publicou, entre outras obras: A indústria do Holocausto, The Rise and Fall of Palestine e A Nation on Trial: The Goldhagen Thesis and Historical Truth.

Um revolucionário desarmado
Em Trotski – o profeta desarmado (Civilização Brasileira, 574 págs.), o autor Issac Deutscher (1907-1976), um dos mais importantes biógrafos dos líderes revolucionários russos, aborda o drama do Partido Bolchevique que, depois da morte de Lênin, viu-se mergulhado no que foi provavelmente a mais polêmica controvérsia política dos tempos modernos. Enquanto o Partido Comunista russo buscava uma direção, Troski e Stalin polarizavam em campos opostos. A obra abrange os anos de formação da União Soviética. Começa em 1921, período imediatamente posterior à guerra civil, com Trotski no auge do poder e termina em 1929, com a ida de Trotski para Constantinopla e a URSS ingressando na época da industrialização e coletivização forçadas. O livro é a segunda parte da trilogia sobre a história da vida e da obra de Trotski a partir de 1921 e foi lançada no Brasil originalmente em 1968, pela mesma editora, no auge da ditadura. Grande parte da documentação em que se baseia o autor era desconhecida antes da publicação. Deutscher recorreu intensivamente aos arquivos de Trostski, que oferecem ricas perspectivas sobre o funcionamento do Comitê Central e de todas as facções do Partido Bolchevique. O Volume também faz alusão às atividades do biografado como um dos principais críticos literários russos.

Pós-modernidade em xeque
Para Evilásio Borges Teixeira, em seu livro Aventura pós-moderna e sua sombra (editora Paulus, 116 págs.), atualmente, vive-se numa espécie de labirinto interpretativo. A modernidade não parece estar à altura de seu programa, marcado por conceitos como subjetividade e racionalidade, e a pós-modernidade é incapaz de responder às perguntas de uma contemporaneidade livre do peso das ideologias. O livro pretende um diálogo entre esses dois, buscando uma contextualização da modernidade e do seu processo de secularização, como uma chave de leitura importante para a compreensão da filosofia contemporânea.

Transmissão dos saberes
Escola, cultura e saberes (editora FGV, 172 págs.), organizado por Libânia Nacif Xavier, Marta Maria Chagas de Carvalho, Ana Waleska Mendonça, Jorge Luiz da Cunha apresenta dez pesquisadores da área de história da educação e disciplinas afins. Os textos tratam das formas e do aparato de transmissão dos saberes na escola: os modelos e as práticas pedagógicas, as formas de produção dos saberes e de utilização dos materiais escolares, os modos de organização e funcionamento da vida escolar, enfim, as múltiplas maneiras de aquisição e transmissão da cultura através da educação institucionalizada.

Africanidade no Sul
Afro-brasileiros: história e realidade (EST Edições, 143 págs.), organizado por Mário Maestri e Luiz Carlos Amaro, está sendo lançado na Feira do Livro de Porto Alegre pela editora do Patrono da Feira. É um dos trabalhos mencionados pelo Frei Rovílio em sua entrevista nesta edição (ver pág. 4). Contém textos de vários autores, incluindo os organizadores. O resultado de mais uma iniciativa no campo da ciência histórica do GT Negros, História, Cultura e Sociedade, um grupo de estudos e pesquisas vilculado à Associação Nacional de História, núcleo do Rio Grande do Sul. O trabalho dá um breve, porém rico painel sobre a história dos afro-brasileiros no Estado.

EaD em foco
Educação a distância em processo (Evangraf, 113 págs.), organizado por Celmar Corrêa de Oliveira e Fernando Gonçalves Pilotto, conta com textos de vários autores, dentre eles Luciano Andreatta Carvalho da Costa, Fábio Saraiva da Costa Henrique Fraquell e Norma Marzola. São 14 autores. A proposta do livro é a reunião das vivências relacionadas à utilização de recursos tecnológicos disponíveis para a Educação a Distância (EaD) nas mais diversas áreas do conhecimento. A abordagem dos temas e metodologias em estudo resultou na pluralidade de contribuições, características, que tem se mostrado cada vez mais necessária ao aperfeiçoamento da sociedade democrática contemporânea.

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