CULTURA

O labirinto nunca termina

Por César Fraga / Publicado em 28 de junho de 2006

Em 14 de junho de 1986 morria em Genebra, Suíça, Jorge Luis Borges. No dia seguinte, o Clarín, jornal da capital Argentina, publicou na capa de seu suplemento especial em homenagem ao maior expoente literário daquele país e talvez de toda América Latina a manchete: El final del laberinto. Será? Passados vinte anos da morte de Borges sua obra permanece vigorosa. Para alguns, não houve nada de novo na literatura depois dele. Entre os partidários dessa idéia, Italo Calvino, que afirmou que os contos “superconcisos”, sem deixarem de ser “repletos de idéias e surpresas” de Borges, foram “a última grande invenção de um gênero literário”. Outro italiano teria feito uma homenagem, ainda em vida, porém um tanto macabra. Umberto Eco, assumidamente influenciado por Borges, em sua relação de amor e ódio com o mestre argentino, criou o monge cego Jorge de Burgos, guardião da biblioteca do mosteiro onde se desenrola a trama de O nome da rosa, à sua imagem e semelhança. “Queria matar um monge queimado”, explicaria um Eco, piadista, em entrevistas.

No famoso conto A biblioteca de Babel, a biblioteca é posta pelo autor como um universo, um caos organizado, onde se pode encontrar justificativas para a existência humana. O Homem Livro, ou o bibliotecário imaginário, lê um volume “que contém o código que resume todo o resto… e se assemelha a um deus”. Com isso cria um universo paralelo, numa biblioteca que pode ser vista como um único livro que contém todos os outros.

E a prova de que o labirinto não tem fim é a própria referência que J.G. Cobo Borda (organizador de mostras referentes à produção do autor argentino) faz no mesmo Clarín, um ano depois, em texto alusivo ao primeiro ano da morte do autor. Ele diz: “O bom com Borges é que ele nunca termina”. Mais de duzentos livros já haviam sido reunidos de e sobre Borges e a lista permanecia aumentando. Realidade que não mudou nas últimas duas décadas, diga-se.

Uma parte do segredo o próprio Borges nos entrega de bandeja no prólogo do Elogio da sombra (traduzido por Carlos Nejar e Alfredo Jacques): “[…] O tempo ensinou-me algumas astúcias: evitar os sinônimos, que têm a desvantagem de sugerir diferenças imaginárias; evitar hispanismos, argentinismos, arcaísmos e neologismos; preferir as palavras habituais às palavras assombrosas; intercalar em um relato traços circunstanciais, exigidos agora pelo leitor; simular pequenas incertezas, já que, se a realidade é precisa, a memória não o é; narrar os fatos (isso aprendi em Kipling e nas sagas da Islândia) como se não os entendesse totalmente; lembrar que as normas anteriores não são obrigações e que o tempo se encarregará de aboli-las […]”.

No final do labirinto, descobrimos que ele nunca termina.

(N.E.: Agradecimento ao jornalista José Weis que cedeu as edições do Clarín, que fazem parte de seu arquivo pessoal.)

A articulação das políticas de proteção aos direitos de crianças e adolescentes em Porto Alegre é investigada em AUTO-ORGANIZAÇÃO – Um caminho promissor para o conselho tutelar(Editora Annablume, 132 p.), de Mônica Bragaglia. Ao analisar concepções, interesses e práticas dos conselheiros, a autora atribui à im-previsibilidade e certa desordem o poder de auto-organização dos Conselhos. Mônica é Mestre e Doutora em Ciências Sociais pela PUC/RS, professora do IPA e da Ulbra, onde coordena o Núcleo de Estudos da Criança e do Adolescente (Neca).

 

A quem pertencem, quem deve proteger e que legislações regem as reservas hídricas comuns a países do Mercosul são questões propostas pelo professor da Unifra e analista judiciário de Santa Maria, João Hélio Ferreira Pes, no livro O MERCOSUL E ÀS ÁGUAS: a harmonização, via Mercosul, das normas de proteção às águas transfronteiriças do Brasil e Argentina (Editoras Urcamp e UFSM, 104 p.).

 

 

A ORGANIZAÇÃO DE PROJETOS NA ESCOLA– Um sonho possível, de Adriana Beatriz Gandin e Soraya Silveira Franke, integra a coleção Fazer e transformar (AEC/Loyola) com uma instigante proposta aos educadores: estimular o trabalho com projetos em sala de aula em todas as faixas etárias.

 

 

No conjunto de crônicas APRENDER A (VI)VER(Record, 160 p.), Juremir Machado da Silva passeia pelo cotidiano convidando o leitor a observar o que está por trás e além do mundo das imagens. Direto e fluente, vai apresentando temas diversos do mundo contemporâneo como moral, família, mídia, felicidade, o novo homem, a nova mulher, o mistério da existência, aliando-se a grandes pensadores nas suas reflexões e ques-tionamentos. Romancista, ensaísta, historiador, tradutor, jornalista e professor, Juremir lançou em 2004 o romance Getúlio e publicou também Cai a noite sobre Palomas, Viagem ao extremo sul da solidão, Fronteiras e a trilogia Mitomanias.

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