CULTURA

Pesquisa mostra que gaúcho lê de forma fragmentada

Por Gilson Camargo / Publicado em 22 de novembro de 2006

A média dos leitores gaúchos não é movida pelo prazer da leitura, e sim pela busca de informações para a vida e a atualização profissional. Falta tempo ou interesse pelos livros. Por isso, a maioria lê apenas capítulos ou parte deles, e os romances e contos vêm depois dos livros didáticos, religiosos e literatura infantil. O perfil dos leitores gaúchos foi delineado por uma pesquisa sobre os hábitos de leitura encomendada pela Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL) ao Ibope. Os resultados foram divulgados no dia 31, na Feira do Livro. A sondagem foi realizada de 22 a 26 de outubro em 60 municípios gaúchos, com 1.008 entrevistados com idades entre 5 e 50 anos. Apesar de recortes negativos, como a fragmentação sendo uma forte característica do hábito de leitura, a pesquisa mostra, por exemplo, que o gaúcho lê a média de 5,5 livros por ano, enquanto a média de leitura nacional é de 1,8 livro por ano, e que o interesse pelo livro e a literatura é maior na infância.

A sondagem investiga hábitos de leitura na infância e associa os professores ao interesse das crianças por livros. Em Porto Alegre, 47% dos entrevistados desenvolveram o gosto por livros sozinhos, e 75% os lêem com freqüência. Associada ao processo educacional, a leitura de livros é maior na infância, conforme 78% dos pesquisados de 5 a 10 anos de idade e 88% dos de 11 a 15, e metade daqueles de 5 a 15 anos de idade lêem livros uma vez por dia. A partir dos 50 anos, o percentual cai a 44%. Mais da metade (51%) daqueles que estudaram até a 4ª série afirmam que lêem livros com freqüência. O prazer da leitura é cultivado com mais intensidade dos 11 aos 15 anos (61%), enquanto a atualização profissional predomina como motivação dos 25 aos 39 anos. Quem tem mais de 50 ou menor escolaridade lê por motivação religiosa.

Nos últimos 12 meses, 69% compraram até 5 livros, e 17% compraram de 6 a 10. O que mais influencia na hora da compra: o título (32%), o autor (29%), o preço (28%), a temática (21%). E só 13% compram o livro pela capa. O gaúcho lê em casa (64%). Para 24%, leitura é pesquisa; 22% disseram que lêem para estudar, e 17%, por prazer. Ler devagar é o que desmotiva 27% das crianças de 5 a 10 anos, e 25% dos pesquisados dos 16 aos 24 anos afirmam não ter paciência para ler um livro até o fim. Só 29% lêem uma obra inteira de uma só vez, e 37% lêem partes ou capítulos. Mario Quintana (7%) e Paulo Coelho (6%) são os escritores brasileiros mais admirados e, entre os autores gaúchos, Quintana (19%), Erico Veríssimo (11). Só 1% citou Luis Fernando Verissimo ou Moacyr Scliar.

FICÇÃO
A revolta dos motoqueiros

Apresentada como obra ficcional, A revolta dos motoqueiros (Boleadeira Voadora Edições, 80 páginas), do jornalista Leandro Malósi Dóro, é também um livro-reportagem e um mergulho na obscura história dos anos de chumbo a partir do assassinato de um motociclista de 17 anos, atingido com um tiro pelas costas ao ser perseguido por um policial militar em Passo Fundo. Os acontecimentos reais do final da tarde do dia 5 de fevereiro de 1979 são o ponto de chegada da narrativa, que começa contando a história de Clodoaldo Teixeira, o mecânico de motos cuja morte desencadeou uma revolta popular, apedrejamento do quartel, confronto com as tropas de choque e outras duas mortes de civis pela polícia da ditadura. O posfácio do professor de História André Martinelli Piasson ajuda a contextualizar o cenário dos últimos 30 anos, do AI-5 à abertura política. Com ilustrações do próprio autor.

CARTUM
Um garoto arteiro

Em Direto pro SOE, livro de 16 páginas de tirinhas do personagem Artur, o arteiro, o cartunista e desenhista gráfico gaúcho Rafael Torres reúne seu traço certeiro, o desenho limpo, simples e rico de expressão. Os adjetivos vêm de um dos mais respeitados cartunistas do Estado, Edgar Vasques, que assina o prefácio desse lançamento da Razão Bureau Editorial. Daniel exercita “a verve reflexiva falsamente ingênua das piadas ferinas”, define Vasques, ao apresentar o trabalho do jornalista, editor e “visionário” criador do zine Bodoqe e que atua como cartunista e desenhista da Catarse – Coletivo de Comunicação.

Marketing e negócios
Em Ética em marketing e o novo consumidor brasileiro: teoria e prática para o administrador responsável (Editora UniRitter, 232 páginas), os autores Paulo Ricardo Meira e Renato Luiz de Oliveira abordam os fundamentos éticos para uma boa prática corporativa nos negócios. Apresentam as bases do marketing e do comportamento do consumidor, discutem as responsabilidades das empresas em relação aos clientes e à sociedade e trazem referências práticas pelas quais os administradores e estudantes de Administração podem pautar-se.

Gênero e forma
Na obra Gênero, agência e escrita (Cortez Editora, 144 páginas), do lingüista e professor Charles Bazerman, a abordagem de gênero apresentada vai além do gênero como um constructo formal, para vê-lo como ação tipificada pela qual podemos tornar nossas intenções e sentidos inteligíveis para outros. Na medida em que os alunos aprendem que sua escrita não somente pode afetar as pessoas na sala de aula e na comunidade, mas também pode levar significados e intenções para outras pessoas que não conhecem pessoalmente, eles focam mais atenção no mundo de interação criado dentro do texto. O texto torna-se um lugar em que a interação acontece, em vez de ser o acessório à interação face a face enriquecida como história pessoal.

História e meio ambiente
História ambiental no Brasil (Cortez Editora, 120 páginas), de Paulo Henrique Martinez, integra a Coleção Questões da Nossa Época. Reúne três textos produzidos de forma independente um do outro, que exploram questões acerca do meio ambiente pela ótica dos historiadores. O primeiro capítulo, “Os historiadores e o meio ambiente”, foi publicado originalmente na revista Nômadas, número 22, editada pela Universidad Central, da Colômbia, em 2005. O segundo texto, “Sociedade e natureza”, é inédito e foi redigido para uma aula de extensão universitária da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O terceiro, “O sentido da devastação”, de cunho metodológico, foi escrito para o Programa de Pós-Graduação.

Tecnologia e ensino
Escrevendo com o computador na sala de aula(Cortez Editora, 120 páginas), de José Márcio Augusto de Oliveira, integra a Coleção Questões da Nossa Época. A obra discute os impactos causados pela introdução do computador na produção de textos, promovendo a verificação de possíveis efeitos imediatos no domínio dos usos e funções
da língua na construção de redações escolares produzidas por estudantes da 8ª série do Ensino Fundamental. Analisa comparativamente textos construídos no computador e os de forma convencional, com papel e caneta.

Jornalismo alternativo
A necessidade de uma imprensa alternativa aos grandes veículos de comunicação para a manutenção da saudável pluralidade de opiniões, que caracteriza a democracia, é o tema de Jornalismo Solidário(Evangraf, 117 páginas), de Beatriz Dornelles e Osvaldo Biz. Na primeira parte, “Ações conjuntas para construção de uma nova sociedade”, são abordados temas como a busca da democracia, o cidadão e a política. Já a segunda parte aborda o “Jornalismo solidário e ações educativas”, com temas como a nova imprensa alternativa, economia social, jornalismo local e imprensa de bairro. Uma reflexão acerca da necessidade da imprensa alternativa.

Inversão de papéis
Quem vai cuidar dos nossos pais? (Editora Record, 238 páginas) analisa a experiência de filhos que têm a responsabilidade diária de cuidar de pais idosos, seja por estarem doentes ou devido ao processo natural de envelhecimento. Relata, entre outros sentimentos, a raiva, dor, frustração a impotência que os filhos sentem em situações delicadas como a desconstrução da imagem dos pais como heróis imortais. Com depoimentos emocionantes, tenta colocar-nos no lugar do idoso para compreendermos o mundo de perdas e solidão em que este vive.

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