GERAL

A miscigenação veio para melhorar o sangue

Por José Weis / Publicado em 21 de janeiro de 2007

Cantor, compositor, inventor e instrumentista nada convencional (usa até mesmo lixadeiras e ferramentas no palco), Tom Zé tem tudo para não se queixar deste recém-finado ano de 2006. Seu novo CD, Danç-éh-Sá – Dança dos Herdeiros do Sacrifício, lançado em setembro de 2006 mas ainda pouco conhecido do grande público é celebrado como um hino à miscigenação. “Herdamos o sacrifício de várias nações africanas”, diz nesta entrevista. Aos 70 anos, Tom Zé esbanja uma vitalidade que ele atribui à alimentação macrobiótica e também ao fato de não fumar nem beber. Seu disco Estudando Pagode, lançado nos EUA foi classificado em terceiro lugar na categoria de estrangeiros da Rolling Stone. Também ganhou o prêmio Personalidade do Ano do jornal O Globo. Neste ano, reaparecer em Fabricando Tom Zé, de Décio Matos Jr., considerado o melhor documentário pelo público do último Festival do Rio e da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O documentário teve pré-estréia no dia 15 em Porto Alegre, no Santander Cultural, onde fica em cartaz até 8 de fevereiro.

O cidadão Antônio José Santana Martins, filho de um pequeno comerciante de Irará, cidade baiana onde veio ao mundo em outubro de 1936, está mais “arreado” do que sempre. Radicado na capital paulista desde meados dos anos 60, Tom Zé participou de importantes movimentos musicais do Brasil, como a Tropicália. Porém, foi em Salvador que teve a oportunidade de estudar música com um de seus maiores mestres, Hans-Joachim Koellreutter, nos tempos de aluno de música na Universidade Federal da Bahia.

Voltando à Tropicália, ele está na capa do disco-manifesto Panis et circenses (1968) que integrou esse movimento. Também é dele a canção Parque Industrial, aquela que diz “no jornal popular que não se espreme porque pode derramar/é um banco de sangue endernado”. Na capa de Panis et circenses, Tom Zé aparece de mala na mão e envergando roupas de um retirante nordestino. No disco Mutantes (1969), ele comparece com duas canções em parceria com o grupo paulista: a emblemática 2001, que fala em “astronauta libertado” e a bela Qualquer Bobagem. E ainda em 1968, Tom Zé ganhou o VI Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, com São São Paulo.

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Foto: André Conti/Divulgação

Foto: André Conti/Divulgação

Mesmo com todo seu talento, Tom Zé teve de amargar por pelo menos duas décadas um tempo de ostracismo. Continuava criando e, em 1976 lançava o
LP Estudando o Samba. À época, foi recebido entre o estranhamento e o deslumbre. Cerca de 15 anos depois, David Byrne, que liderava a banda norte-americana Talking Heads, descobriu o disco em uma loja em São Paulo, levou para casa e se apaixonou pelo trabalho. Resultado: Tom Zé, de Irará para o Mundo desde então, cultiva fãs como Sean Lennon, filho mais novo do próprio beatle, John.

Nem só de esquecimento viveu Tom Zé; durante aquele tempo, deu para inventar instrumentos, como foram os casos de um de tal enceroscópio (feito a partir de uma enceradeira que necessitava de um conserto) ou o buzinório (encanamento dotado de buzinas). O inventor também é um leitor dedicado e eclético, de Gilberto Freyre a John Cage, de Euclides da Cunha a Dyonélio Machado, “é daqueles que têm um olhar voltado para os menos favorecidos no mundo”, observa.

É sobre essa trajetória que o multi-instrumentista conversou com o Extra Classe por telefone, de São Paulo. Durante a entrevista, Tom fez uma declaração de amor à cidade de Porto Alegre. “Eu queria era morar aí.” Também n%C

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