OPINIÃO

Palavras Bárbaras

Por Fraga / Publicado em 22 de janeiro de 2007

A História é como um depósito de quinquilharias. De canhões a declarações de independência, os badulaques históricos se empilham, se espalham por é pocas, empulham o amanhã. Com o passar do tempo, se revestem de simbolismos, sendo o principal deles a poeira.

Também a Linguagem tem sua história. Mas, da algazarra à algaravia, quando muito se extravasa, um outro tanto se extravia. Em vez de elucidativo mural, o que se contempla é um prosaico mosaico de cacos arcaicos, para o intérprete interpretar como quiser. Como o caso dos barbarismos e das hordas de palavras incivilizadas.

Em algures do mundo antigo, havia tribos remanescentes de palavras rústicas. Em constante confronto vociferante, era impossível ter um dicionário em comum. Prolixas, disputavam exíguos espaços de expressão. Um pandemônio num minifúndio. Aí surgiu Átono, o Uno, que barbarizou ao propor invadir territórios lingüísticos. Um líder tosco, um unificador atilado.


Átono organizou e treinou as hostes dos hífens hostis. Com gigantesco exército formado por tropas de impropérios e batalhões de altos brados, Átono avançou, rumo às nações de regência perfeita. À frente, lanceiros de baixo calão. Na retaguarda, catapultas de vulgaridades. Um grosso contingente de generalidades para dominar o que encontrassem.

Conforme se deduz pelos estragos idiomáticos, as palavras bárbaras marcharam para uma agressão simultânea à Verbália e à Frasística, direto por entre suas fronteiras. Desse modo, essas civilizações não teriam como se unir em defesa. Estratégia de massa, massacre com adágio.

Imagine o horror: sólidas sintaxes a desmoronar sob o ataque de barbaridades orais, truculências verbais esfarelando o poder de síntese, estilos reduzidos à incompreensão. Classes gramaticais perdendo a classe; o vernáculo, agora venal; as palavras sofisticadas, seviciadas em diálogos brutais, sem nobreza.

Sem falar nas crueldades do linguajar com palavrinhas educadas (estupradas sem retórica e parindo hibridismos), nos saques aos bancos de sinônimos e antônimos, esvaziando os cofres coloquiais, nos incêndios aos paióis de fonemas, na destruição das plantações de prefixos e sufixos, nas velhas declinações espancadas por robustos verbos irregulares.

A partir daí, seguiram-se séculos de grosserias. Atualmente, porém, os descendentes do barbarismo têm diploma, personal styler e até freqüentam crônicas lidas por você.

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