SAÚDE

Um mercado que não para de crescer

Por Maricélia Pinheiro / Publicado em 4 de junho de 2010

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Foto: Banco de Imagens

Foto: Banco de Imagens

A progressiva queda da taxa de nascimentos e o aumento da expectativa de vida vêm ampliando o número de adultos na população. Em 2008, os brasileiros na faixa etária mais ativa – entre 15 e 64 anos – já eram dois terços da população total, uma proporção jamais vista na história. Esse fato favorece diretamente a economia do país. E como os idosos representam 15 milhões de consumidores (14% da população adulta) – que deve chegar a 30 milhões até 2020 – com uma renda que soma R$ 7,5 bilhões ao mês, tornaram-se público-alvo, nos últimos anos, de um mercado de consumo cada vez mais qualificado.

A ponto de algumas empresas investirem quantias significativas em pesquisas para mapear melhor o perfil deste “novo” consumidor e, a partir dos resultados, pensarem estratégias de marketing tanto para os jovens de hoje, que em breve farão parte dessa fatia, quanto para os idosos. Embora já se tenha desenvolvido muitos produtos específicos para a terceira idade, ainda há um grande mercado potencial, de produtos e serviços, a ser explorado.

No campo da informática, podemos destacar o computador lançado em março deste ano pela Microsoft em Portugal com o objetivo de facilitar o processo de inclusão digital da população com mais de 60 anos. Batizado de “Activo PC Sénior”, a máquina pensada especialmente para o público dessa faixa etária engloba um site com informação e conteúdos, software e computadores com configuração especial com destaque para o teclado com teclas ampliadas e mouse ergonômico. No final do ano passado, a Inglaterra ganhou o SimplicITy, produzido pela empresa de informática Wessex Computers e o website de descontos para idosos Discount Age. A tela inicial deste modelo, direcionado para pessoas com mais de 60 anos que não têm prática com computadores ou com a internet, possui apenas seis botões para facilitar a navegação. As opções direcionam os usuários para atividades básicas como envio e leitura de e-mails e conversas on-line.

O celular para idoso já era velho conhecido dos japoneses. No final do ano passado, finalmente chegou ao Brasil. O S302 da ZTE, que mais parece um celular de brinquedo, foi especialmente desenhado para atender um grupo esquecido pelas grandes marcas.

A verdade é que muitas das funções que para os mais jovens são fundamentais, para o público com mais de 60 anos são desnecessárias e acabam complicando ainda mais o uso do aparelho. O S302 tem teclas grandes, que se iluminam para melhor visualização, alarme, lanterna, calculadora e até rádio FM que não necessita de fone de ouvido. Tem também uma tecla SOS na parte de trás do aparelho, na qual é possível gravar até quatro números de emergência. Quando acionada, toca uma sirene e faz chamadas para os números programados.

Computadores da melhor idade
E se a demanda por computadores é tanta, a ponto de empresas do ramo investirem na produção de modelos específicos para a terceira idade, é porque esse público cada vez mais vem buscando a inserção no mundo digital. No Senac/RS, por exemplo, talvez uma das escolas mais procuradas, existe um curso voltado exclusivamente para a terceira idade chamado Informática Melhor Idade. São dez alunos por turma, com aulas duas vezes por semana. Segundo o coordenador do Núcleo de Desenvolvimento e Inovação da área de Informática Básica do Senac, Paulo Ricardo Araújo Leal, geralmente os aposentados procuram o curso com o intuito de interagir melhor com as gerações mais jovens e, principalmente, poderem se comunicar com a família através de redes sociais e canais de comunicação como Orkut, MSN e Skype. “Depois que as aulas terminam eles se tornam amigos e continuam se comunicando pela internet”, conta. Nesse curso, os alunos aprendem a ligar o computador, noções dos programas Windows, Word e internet.

Academias, cursos de idiomas, entre muitas outras atividades, também já despertaram para o crescente mercado que tem como principal consumidor o público acima de 60 anos. Praticamente em quase todas as áreas hoje se vê serviços específicos oferecidos para pessoas da chamada terceira idade. E como a maioria dos que procuram esses produtos e serviços pertence às classes média e média-alta, os fornecedores costumam cobrar valores também “especiais”.

Bailes a qualquer hora
E se mulheres e homens muitas vezes se privaram de ir a festas quando os filhos eram pequenos, ou porque no dia seguinte era preciso acordar cedo para encarar o batente, quando chegam à aposentadoria parece que retornam à adolescência. É impressionante a intensidade da programação voltada para terceira idade oferecida pelos clubes de Porto Alegre, que na verdade reflete uma realidade de todo o país, jamais imaginada há 30 ou 40 anos. Os bailes, dos mais populares aos mais requintados, acontecem em pleno meio de semana. E por que não? Não há mais compromissos rígidos, com horários marcados. Até melhor do que na adolescência, quando havia a escola e os deveres de casa.

Malas pra que te quero

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Foto: Banco de Imagens

Foto: Banco de Imagens

Aposentadoria garantida, filhos criados, tarefa cumprida e muita disposição. É hora de arrumar as malas e conhecer todos aqueles lugares que sempre quis, mas a rotina laboral não permitiu. Sem dúvidas o mercado do turismo tem sido um dos mais beneficiados pelo aumento da longevidade e consequentemente pelo crescimento do número de consumidores aposentados.

Nos últimos anos, as agências de turismo têm dado especial atenção a esse público, ao ofertar pacotes atrativos, geralmente em baixa temporada. Como os aposentados já não possuem filhos em idade escolar, trabalho ou outros compromissos mais rígidos, essas ofertas se encaixam perfeitamente na demanda. Os diferenciais são a comodidade, uma vez que os passeios são melhor programados e mais completos para que o idoso apenas se preocupe em voltar para o hotel e descansar, e um maior número de refeições inclusas. Geralmente, os pacotes específicos para a terceira idade incluem café da manhã, almoço ou jantar. Tudo para proporcionar mais comodidade.

Segundo Inês Linck, gerente da Victória Turismo, “existe um programa pela Embratur onde os idosos têm direto a descontos em passagens aéreas e hotéis, mas não é bem divulgado e as agências junto às empresas aéreas não colocam isto em prática”. No entanto, há pacotes oferecidos por agências que saem mais baratos do que os similares que levam o selo do programa Viaja Mais Melhor Idade *, do Ministério do Turismo. Vivian Fritsch, gerente da agência de viagens New Line, conta que a empresa recebe em média dez ligações por dia de interessados em determinado roteiro específico para a terceira idade. “Nos últimos cinco anos aumentou significativamente o número de idosos que viajam. Eles preferem ir para lugares quentes quando aqui é inverno”, observa. Os destinos mais requisitados são Nordeste do Brasil – com destaque para Salvador, na Bahia – e a cidade de Bonito, no Pantanal.

* O Viaja Mais Melhor Idade é uma iniciativa do Ministério do Turismo para facilitar e estimular brasileiros com mais de 60 anos a viajar pelo país na baixa temporada. Fazem parte do programa, que visa promover a inclusão social do idoso e fortalecer o turismo interno, pacotes especiais e descontos exclusivos em passagens aéreas e hospedagens. 

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