MOVIMENTO

Trabalho arriscado

Publicado em 30 de outubro de 2010

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Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

O segurança noturno não tem tempo para ficar com a família, porque dorme boa parte do dia depois de uma noite tensa de trabalho. As metas impostas pelas instituições bancárias empurram o bancário para um quadro depressivo. Com menos de um ano na função, o motoboy (foto) já apresenta sintomas como ansiedade, dores de cabeça e pouca memória. Além destes, profissionais do mercado financeiro, informática ou aqueles que exercem atividades diferentes daquelas para as quais foram capacitados estão na lista dos mais afetados pelos transtornos mentais.

A pressão e as condições de trabalho ocupam hoje lugar de destaque entre os fatores externos que contribuem para os quadros de depressão e outros transtornos. E mais: são responsáveis por cinco das dez principais causas de afastamento do trabalho no País, segundo levantamento feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em parceria com o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS). A Secretaria de Segurança Pública de Goiás, em recente pesquisa, constatou que os transtornos mentais e de comportamento são a principal causa de afastamento de policiais civis e militares do trabalho.

Estudo realizado pelo International Stress Management Association (ISMA –BR) com profissionais das mais diversas áreas de Porto Alegre e de São Paulo, revelou que 70% dos brasileiros carregam alguma sequela em decorrência da pressão profissional – cansaço excessivo, dores musculares e depressão são os sintomas mais comuns. Policiais e seguranças lideram o ranking, drama muito bem documentado no polêmico “Tropa de Elite”. Motoristas de ônibus, controladores de voo e bancários vêm em seguida.

Em Porto Alegre, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) avaliaram as condições de saúde mental de uma centena de motoboys em atividade e descobriram que 75% tinham ao menos um diagnóstico de doença psiquiátrica – crises de ansiedade, mudanças bruscas de humor, transtornos de personalidade, uso abusivo de álcool e drogas.

Além das condições inerentes à cada função, que por si só já propiciam um quadro de estresse, há ainda as pressões dos empregadores, o chamado assédio moral. As adversidades do trânsito, no caso de motoristas e motoboys, e a dura realidade com a qual os policiais se deparam todos os dias, empurram quase que automaticamente esses profissionais para um quadro emocional patológico. (Maricélia Pinheiro)

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