OPINIÃO

Quadrilha

Por Fraga / Publicado em 13 de junho de 2014

Quadrilha

Ilustração: Rafael Sicca

Ilustração: Rafael Sicca

Segundo Carlos Drummond de Andrade, foi assim: João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.

Segundo investigações e suspeitas, a coisa toda foi além. João, doleiro nas altas rodas, amava Teresa, mas por não se sentir amado começou a desconfiar que Teresa amava outro. Quem seria? Um bancário ou um banqueiro? Pensando bem, podia ser um Raimundo. Sim, mas qual? Havia tantos vigaristas com esse nome! Contratou um detetive para seguir Teresa. Enquanto isso, Teresa amava Raimundo, mas sabia que era rejeitada, sem imaginar porque.

Logo ela, que falsificava a assinatura da avó para sacar dinheiro da pensão da idosa e investia na aparência: silicone por tudo, salão de beleza quase todo dia, botox na genitália. Um mulherão. Seu maior problema era denunciar assédios. Até que Teresa resolveu mandar grampear o telefone do Raimundo.

Já Raimundo, contrabandista nas horas vagas, amava Maria, ou pensava que. Pois vez ou outra se sentia atraído por bombeiros e feirantes. Raimundo se sentia incomodado por uma tal de Teresa que o seguia, que por chamar atenção acabavam ele e ela perseguidos por vários homens. Podia atrapalhar os negócios.

E a Maria, que sonegava o IR, amava Joaquim, sem saber que o português era seu irmão por parte de mãe, ex-ladra, que o tinha vendido para uma família inglesa que se arrependera e o largara noutra favela. Joaquim mexia com negócios da Petrobras e amava qualquer uma que cobrasse pouco por sexo. Porém, amava mesmo era Lili, mas essa era garota de programa caríssima, que chantageava políticos e empresários.

Em meio a reviravoltas novelescas na trama de Drummond, João foi para os EUA, buscar dólares. O detetive o informara de um piloto chamado Raimundo, que o traía com Teresa. João pensou em sequestrar o avião, mas os clientes de caixa 2 em Brasília aguardavam a grana.

Teresa foi para um convento, onde odiava a madre superiora, que a detestava pelo corpanzil e sensualidade. O drama é que não sabiam que eram mãe e filha: a superiora entrara anos antes no convento por não ser amada por um fraudador de licitações. Raimundo, cujo telefone até a CIA grampeou, morreu de desastre, mas não de aviação: bateu com o carro de frente numa van de um falsário, sem saber que o motorista era seu pai.

Maria ficou pra tia, com uma penca de falsos sobrinhos, que davam golpes por toda a cidade, feliz com essa espécie de felicidade.

Joaquim tentou suicídio várias vezes, ao descobrir que a garota dos seus sonhos era familiar, conforme os exames de DNA. Nos intervalos, intermediava negócios no caso Siemens. Agora namora uma ricaça corrupta. Crê que o parentesco é impossível. E Lili, insensível e interesseira, casou com o tal J. P. que não tinha entrado na história, mas em outra, na do mensalão. Uma quadrilha, como disse Drummond.

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