ECONOMIA

Quem ganha com a recessão

Por Gilson Camargo / Publicado em 11 de abril de 2016

Instituições financeiras, fundos de investimentos, investidores e seguradoras, que correspondem ao 1% mais rico dos brasileiros, abocanharam quase metade do orçamento da União em 2015, faturando alto com a retração da economia e com a alta dos juros, aponta informe do Dieese. A lógica rentista, sustentada pelos ganhos do capital financeiro em detrimento do crescimento econômico e social, nada produz e ainda ameaça os avanços conquistados pelos trabalhadores.

Quem ganha com a recessão

Foto: Roberto Parizotti/Secom CUT

Ato público comemorou uma década de resistência à Alca, com manifestação em frente à Bovespa

Foto: Roberto Parizotti/Secom CUT

A análise dos principais indicadores da economia aponta que em 2015 somente os rentistas, que representam menos de 1% da população, se apropriaram de quase metade do orçamento do governo federal. Enquanto 99% da população tendem a conviver com a redução nominal do PIB em R$ 236,2 bilhões de reais em 2015 (queda de 3,8%), por conta da recessão econômica, o 1% mais rico obtém ganhos financeiros adicionais devido à alta dos juros. De acordo com o informe do Dieese, intitulado A brutal transferência de renda para o setor financeiro, enquanto a economia encolheu 3,8% no ano passado, o lucro dos bancos cresceu 16,2%. A soma do resultado líquido dos cinco maiores bancos alcançou R$ 69,8 bilhões.

Para a economista Daniela Sandi, técnica do escritório regional do Dieese no Rio Grande do Sul, os beneficiários da lógica rentista são as instituições financeiras, os fundos de investimento, os investidores não residentes e as seguradoras, que detêm títulos da dívida pública. “A política fiscal (superávit primário) e monetária (taxa de juros) garante os ganhos do capital financeiro em detrimento do crescimento econômico e social do país”, constata.

Somente em 2014, segundo a associação Auditoria Cidadã da Dívida, o governo federal gastou R$ 978 bilhões com juros e amortizações da dívida pública, o que representou 45,11% de todo o orçamento, ou mais que o dobro do investimento em previdência social (21,76%), 12 vezes o orçamento da educação (3,73%) e 11 vezes o gasto com saúde (3,98%).

Daniela Sandi, do Dieese: lógica rentista nega direitos sociais

Foto: Igor Sperotto

Daniela Sandi, do Dieese: lógica rentista nega direitos sociais

Foto: Igor Sperotto

Para a economista, as sucessivas elevações da taxa Selic com a justificativa de controlar a inflação, na verdade estão a serviço do capital rentista. “O nível de atividade não justifica taxas nessas alturas. Os componentes de pressão da inflação têm sido os preços administrados como energia, combustíveis, além do câmbio e o choque de oferta de alimentos e não a demanda, sendo a Selic ineficaz no combate à inflação. Não há economia que consiga deslanchar com essa combinação”, aponta.

O plano de ajuste fiscal atinge  a renda e os direitos dos trabalhadores mais vulneráveis ao dificultar o acesso ao seguro-desemprego, ao abono salarial, à pensão por morte, ao auxílio-doença e ao seguro-defeso pago aos pescadores no período de proibição da sua atividade, além do fim dos benefícios fiscais e restrição ao crédito, enumera a técnica do Dieese. “Setores conservadores da sociedade querem o fim da política de valorização do salário mínimo, a diminuição das receitas vinculadas aos direitos sociais (educação, saúde), a flexibilização da legislação trabalhista e a diminuição do Estado”, pontua. Para Daniela, a lógica rentista e dos demais setores conservadores quer fazer crer que as políticas e direitos sociais atrapalham a competitividade do país, encarecem o custo do investimento privado e não permitem a poupança do setor público. “A crise política atual tem alvos definidos, ainda que dissimulados. Um deles é desfazer os avanços que os trabalhadores conseguiram na última década”, constata.

APROPRIAÇÃO – “O  capital  tem levado vantagem descomunal na apropriação dos recursos financeiros e patrimoniais ao redor do mundo. O avanço da dominância, possibilitado por desregulamentação financeira, sigilo bancário, acesso a paraísos fiscais, entre outras benesses, tem utilizado múltiplos mecanismos que geram obrigações financeiras para estados, multiplicam a chamada dívida pública e provocam contínuas crises”, assinala a coordenadora nacional da Auditoria Cidadã, Maria Lucia Fattorelli. Com base no estudo A rede de controle corporativo global, ela explica que um reduzido grupo de instituições bancárias concentra poder e propriedade na economia mundial, como Citigroup, Morgan Stanley, Merrill Lynch, Bank of America, Barclays, Goldman Sachs, JP Morgan Chase, Deutsche Bank, UBS e CreditSuisse, justamente os grupos que foram salvos da falência em 2007 com a transferência  de  US$ 1 trilhões pelo FED.

Lucro líquido dos cinco maiores bancos

Fonte: Demonstrações Financeiras dos Bancos | Elaboração: Dieese

Fonte: Demonstrações Financeiras dos Bancos | Elaboração: Dieese

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