EDUCAÇÃO

Desligamentos no reinício do ano letivo provocam revolta

Publicado em 8 de março de 2016

O conturbado período de resci­são contratual dos professores ga­nhou um agravante em 2016. Ape­sar do número de demissões ter re­duzido aproximadamente 11% em relação a 2015, as instituições de ensino, que tradicionalmente con­firmam os desligamentos no final do ano letivo, neste ano surpreen­deram com o aumento de desli­gamentos no início do ano letivo, período que inviabiliza a recolo­cação dos professores no mercado de trabalho, uma vez que os qua­dros de docentes já estão fechados para o início das aulas.

Do total de 1.829 rescisões ho­mologadas no Sinpro/RS de no­vembro de 2015 a fevereiro de 2016, 62,6% foram nos primeiros meses do ano. Em alguns casos registrados pelo Sindicato, os pro­fessores foram informados de sua demissão no momento em que re­tornariam à escola para o início das atividades. “Fui demitida uma semana antes de terminar o reces­so”, desabafa uma professora da educação básica da capital. “Ne­guei uma proposta de trabalho em dezembro, na volta das férias, fui demitido”, relatou um professor ao assinar a rescisão. “Em uma sema­na a escola resolve seu problema e contrata alguém. Um profissional demitido fica de­sempregado por pelo menos um ano”, expõe outro professor.

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Foto: Carlos Carvalo

Foto: Carlos Carvalo

“Essas escolas demonstraram uma profunda in­sensibilidade e o quanto não se preocupam com seus professores. Quando entramos em contato, as res­postas são evasi­vas em relação ao motivo da demis­são”, explica Cecília Farias, diretora do Sinpro/RS. Cecília ressalta ain­da que o Sindicato dá assistência aos professores na homologação das rescisões com o objetivo de conferir as verbas rescisórias, ofe­rece o banco de currículos on-line para ajudar na recolocação e, em situações graves como as que de­mitem os professores, quando é difícil nova colo­cação, entra em contato com as escolas na tenta­tiva de reverter a demissão.

Na educação superior, não foi diferente. Em fe­vereiro, o Centro Universitário Me­todista (IPA) de­mitiu 43 professo­res, aproximada­mente 15% do seu quadro de docen­te. Na Uniasselvi, 20 professores-tu­tores foram desli­gados. Nesta última, a assessoria jurídica do Sinpro/RS já ingressou com diversas ações por descon­formidades trabalhistas e contra­tuais. “O Sinpro/RS repudia essa política de desligamento em mas­sa no ensino privado. O Sindicato manifesta sua solidariedade aos professores e reafirma que conti­nua zelando pelo cumprimento dos seus direitos”, afirma Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS.

A psicanalista Carla Cervera Sei, do Núcleo de Apoio ao Profes­sor contra a Violência (NAP), que acompanhou as rescisões neste ano, aponta como relatos mais co­muns dos professores a falta de hu­manização nas relações profissio­nais, o desapontamento com a mer­cantilização da educação e a au­sência de sinalização da demissão. “Falta às instituições mais trato na hora de despedir um profissional que, muitas vezes, dedicou anos de trabalho àquele local”, afirma Car­la. Ela destaca que apesar do mo­mento ser um dos mais complexos, nenhum professor afirmou querer abandonar a carreira. “Se percebe que este é um profissional que ama o que faz. Mesmo os mais antigos sinalizam que fariam tudo nova­mente”, conclui.

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