EDUCAÇÃO

Empresários e pais de alunos protestam pela reabertura de escolas

Donos de escolas e empresários do transporte escolar fizeram ato em frente ao Palácio Piratini com simulação de “aula” ao ar livre e insultos ao governador “comunista”
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 20 de abril de 2021
Ato foi convocado de forma anônima pelas redes sociais

Foto: Igor Sperotto

Ato foi convocado de forma anônima pelas redes sociais

Foto: Igor Sperotto

Movimento organizado por pais de alunos, proprietários de escolas e empresários do transporte escolar reivindicou, na tarde dessa terça-feira, 20, em frente à sede do governo do Rio Grande do Sul, o retorno das aulas presenciais no estado.

Manifestantes querem crianças em sala de aula, mesmo com o alto risco de contágio por covid-19

Foto: Igor Sperotto

Manifestantes querem crianças em sala de aula, mesmo com o alto risco de contágio por covid-19

Foto: Igor Sperotto

Com a chamada Mobilização pela educação! Pelo transporte escolar e fretamento!, a atividade foi convocada pelas redes sociais através de um card que invoca as polêmicas que estão dividindo a sociedade gaúcha em meio à pandemia.

O movimento que se propôs a reunir pessoas de outras localidades do estado, além da capital, foi organizado em menos de uma semana. Não contou com uma presença expressiva de manifestantes.

Aline Kerber, presidente da Associação Mães e Pais pela Democracia (AMPD) ressalta e critica o caráter apócrifo da convocação que também foi fortemente distribuída via WhatsApp.

“Nós sempre assinamos nossos materiais. O que da para entender é que é de um grupo que quer voltar às aulas e de fato não reconhece a gravidade da situação sanitária ao ponto de dizer para as pessoas levarem seus filhos”, lamenta Aline.

A AMPD é uma das entidades que, junto com o Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro/RS) e Cpers-Sindicato, obteve liminar na Justiça que impede a reabertura das escolas em meio ao período mais grave da pandemia.

Chamar a atenção

Katia Henriques, presidente da Associação Transportadores Escolares de Porto Alegre

Foto: Arquivo Pessoal

Katia Henriques, presidente da Associação Transportadores Escolares de Porto Alegre

Foto: Arquivo Pessoal

Já Katia Henriques, presidente da Associação Transportadores Escolares de Porto Alegre (ATE), uma das organizadoras do ato, entende que “por estarem presentes diversas esferas, pais, proprietários de escolas e de vans e alunos, não vejo a necessidade de uma assinatura”.

O movimento, segundo a dirigente da ATE, tem o objetivo de chamar a atenção do governador para a necessidade do retorno às aulas. “Se tivermos que ter uma bandeira, que seja a do governo pressionar o judiciário”, afirma ao aludir a recente decisão da juíza da 1ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre, Cristina Luísa Marquesan da Silva. Em 12 de abril, a magistrada negou o pedido do governo para reconsiderar a suspensão do retorno dos alunos às escolas na vigência da bandeira preta.

Katia ressalta: “a gente respeita muito os pais que estão preocupados, mas pedimos a empatia com os pais que querem ter o direito de ter seus filhos na escola já passados mais de 400 dias sem atividades presenciais”.

Afirmando que fala na condição de transportadora e de mãe, Katia acredita que “as crianças estão muito mais seguras nas salas de aulas do que nas ruas ou sob os cuidados de pessoas que são pagas para dar atenção porque os pais precisam trabalhar”.

Ela ainda ressalta sua preocupação com a saúde mental dos alunos e a dificuldade que vê, por exemplo, na alfabetização. “Não vai haver alfabetização sem contato com um educador”, acredita.

Durante o ato, os manifestantes improvisaram uma “aula” ao ar livre em frente ao Palácio Piratini.

Controvérsias e insultos

Aline Kerber, do movimento de pais e mães pela democracia: "não parece ser um movimento preocupado com a educação"

Foto: Portal Adverso

Aline Kerber, do movimento de pais e mães pela democracia: “não parece ser um movimento preocupado com a educação”

Foto: Portal Adverso

Para Aline Kerber há uma incoerência no tom do ato realizado. “Não parece ser um movimento preocupado com a educação, pois menciona ‘não é pela educação’ no card. Lamentável. Tem que ser pela educação o que nos move por um retorno seguro às aulas com entendimento de que o essencial é a vida”, critica.

A presidente da AMPD ainda vê no chamamento para se realizar “aulas” na frente do Palácio Piratini um desrespeito à Justiça. “Por decisão judicial ratificada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), estão proibidas as aulas presenciais na bandeira preta, portanto, é ilegal esse chamado”, aponta.

A diretora do Sinpro/RS, Cecília Farias, ressalta a luta pela vacinação dos professores e demais trabalhadores das escolas como caminho para um retorno seguro às atividades presenciais. “Somos a favor do retorno às aulas presenciais desde que haja a imunização de todos os que estão envolvidos nesse processo”, enfatiza.

Cecília viu desde o início da convocação do ato questões que lhe preocupam. “Questionamos a ideia de se fazer uma aglomeração no meio dessa crise sanitária e o uso genérico do termo aula em frente ao Palácio”.

Simplificação: uma "aula" ao ar livre foi simulada durante o protesto

Foto: Igor Sperotto

Simplificação: uma “aula” ao ar livre foi simulada durante o protesto

Foto: Igor Sperotto

Para a dirigente sindical, se desconstitui o que, realmente, é uma aula. “Do ponto de vista pedagógico, uma aula não é uma junção de pessoas e ter umas falas”, conclui.

Se até o encerramento dessa matéria, não havia mais do que cem pessoas presentes no ato, no microfone que passava de mão em mão, o clima foi quente. Termos como “fora políticos, eles querem uma geração de ignorantes” e protestos contra o governador Eduardo Leite (PSDB) foram a tônica.

“Governador comunista! Quer derrubar o Bolsonaro para pegar o lugar dele”, disse um manifestante. Outro, no entanto, carregou nas palavras: “Incompetente! Eu odeio você!”.

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