MOVIMENTO

Vigiado por forte aparato militar, Grito dos Excluídos denuncia golpe e promete luta contra Temer

Movimentos sindical e social organizam para o próximo dia 22 de setembro, uma jornada nacional de paralisações, greves, atos e protestos
Por Marco Weissheimer / Publicado em 7 de setembro de 2016

Vigiada por forte aparato militar, Grito dos Excluídos denuncia golpe e promete luta contra Temer

Foto: Igor Sperotto

A 22ª edição do Grito dos Excluídos, realizada na manhã desta quarta-feira, 7, em Porto Alegre, engrossou o coro dos protestos que vem ocorrendo nos últimos dias, em várias cidades do país, em defesa da democracia e contra o impeachment que afastou a presidente Dilma Rousseff, colocando em seu lugar o até então vice-presidente Michel Temer (PMDB).

Os gritos de “Fora Temer!” marcaram todo o trajeto da Marcha em Defesa da Democracia que partiu por volta das 9h45min da sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ocupada desde segunda-feira por cerca de dois mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em defesa da democracia, contra o golpe e pela retomada da Reforma Agrária no país. As bandeiras do MST dominaram a marcha do Grito dos Excluídos, que contou com a participação de representantes de outros movimentos sociais e sindical, partidos políticos, organizações ligadas a igrejas, Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo e Frente de Luta Contra o Golpe, entre outras entidades.

Sob um vento forte e gelado, a marcha seguiu pela avenida Loureiro da Silva em direção à avenida Beira Rio, onde ocorria o desfile militar de 7 de setembro, data da independência brasileira. Na linha frente da marcha, algumas faixas davam o tom da pauta da 22ª edição do Grito dos Excluídos: “Fora Temer”. “Não à Previdência Rural de Temer”, “Lutar sempre, Temer jamais” e “Este sistema insuportável exclui, degrada e mata”, este último o lema deste ano, inspirado em uma afirmação do Papa Francisco.

Acompanhada por um helicóptero da Brigada Militar, a caminhada passou ao lado do Acampamento Farroupilha, no Parque Harmonia, e se dirigiu para a avenida Beira Rio. No meio deste percurso, o tenente coronel Mario Ikeda, titular do Comando de Policiamento da Capital, da Brigada Militar, foi conversar com os organizadores da marcha sobre o posicionamento da mesma em relação ao desfile militar do 7 de setembro. Na presença do deputado estadual Edegar Pretto (PT) e de dirigentes do MST e da CUT, ficou acertado que os manifestantes aguardariam o final do desfile para prosseguir sua caminhada pela Beira-Rio. Quando a marcha chegou perto da avenida, a mesma estava bloqueada por dezenas de homens do pelotão do batalhão de choque da Polícia do Exército, carregando escudos, cassetetes, fuzis e extintores de incêndio. Neste momento, a marcha interrompeu sua caminhada e ficou aguardando o término do desfile, liberando uma das pistas para a passagem de tanques e outros veículos militares. Apesar de alguma tensão no encontro entre a tropa do exército e os manifestantes, não ocorreu nenhum incidente.

Sem retrocessos
Cedenir de Oliveira, da direção estadual do MST/RS, destacou que o Grito dos Excluídos vem adquirindo novos significados ao longo do tempo. “Se, na década de 90, ele começou denunciando os excluídos do modelo neoliberal que abrangiam grande parte da sociedade brasileira, neste momento ele se reposiciona e trata também daqueles que serão excluídos pela Reforma da Previdência, dos que serão excluídos de direitos sociais e dos excluídos que perderão o emprego em função dessa manobra político que ocorreu no país. Sem dúvida, quem pagará essa conta será a classe trabalhadora e os excluídos dessa sociedade”.

Vigiada por forte aparato militar, Grito dos Excluídos denuncia golpe e promete luta contra Temer

Foto: Igor Sperotto

A estratégia dos movimentos sociais para enfrentar esse novo cenário, acrescentou o dirigente do MST, será, juntamente com a Frente Brasil Popular e com a Frente Povo Sem Medo, retomar um processo forte de mobilizações, sobretudo os movimentos do campo, como ocorreu no início desta semana. “Vamos continuar denunciando esse golpe, continuar reafirmando que o governo Temer não tem legitimidade política e, sobretudo, recolocando as nossas pautas estratégicas na ordem do dia. Nós não aceitaremos retrocessos nas conquistas que acumulamos nos últimos anos”, assegurou Cedenir de Oliveira.

Na mesma linha, o presidente da Central Única dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul (CUT/RS), Claudir Nespolo, convocou uma intensificação da mobilização em defesa da democracia e dos direitos e contra o golpe para as próximas semanas, na direção de uma greve geral. “A 22ª edição do Grito dos Excluídos se manifesta em todo o Brasil, no dia 7 de setembro, denunciando a pauta do golpe que está em curso no Brasil. Já consolidaram o golpista Michel Temer na presidência e os seus ministros não escondem que sua pauta principal é mexer nos direitos trabalhistas, sociais e previdenciários. Estamos aqui hoje, as principais organizações do campo e da cidade que fazem a defesa diária da classe trabalhadora e de um Brasil soberano, denunciando e acumulando forças para enfrentar a agenda do golpe. Essa agenda é contra o povo. Por isso, realizaremos no próximo dia 22 de setembro, uma jornada nacional de paralisações, greves, atos e protestos com o objetivo de barrar esses ataques e essa agenda que é contra o Brasil e contra a classe trabalhadora”.

Diversos oradores e participantes do Grito dos Excluídos salientaram a importância das mobilizações de rua para barrar a agenda política do governo Temer e de seus aliados. “Vamos viver momentos de muita disputa sobre os rumos do Brasil a partir da instalação desse governo ilegítimo via um golpe parlamentar. É um governo com minoria social que quer aplicar no país um programa que nunca seria aprovado nas urnas”, disse o deputado federal Henrique Fontana (PT). “Só intensas mobilizações de rua permitirão derrotar essa agenda e retirar Temer do governo. No Congresso, ele terá um grande apoio, mas nas ruas ele terá grande dificuldade para legitimar o seu governo. O que nos preocupa são os crescentes sinais de aumento da repressão contra essas mobilizações de rua. Eles estão agindo com muita rapidez, pois os compromissos que assumiram foram muitos grandes”, assinalou ainda Fontana.

O ex-secretário geral do governo Dilma e ex-ministro do Trabalho e da Previdência, Miguel Rossetto, também participou da manifestação e destacou o sentido de defesa da soberania que ela carrega. “A construção de uma verdadeira independência exige democracia popular, direitos para o povo e um projeto de futuro soberano para o país. No momento em que a elite brasileira rasga a Constituição e agride a democracia com um golpe, mais do que nunca é preciso resistir e enfrentar essa agenda anti-nacional que pretende entregar os recursos do pré-sal para empresas estrangeiras e retirar direitos do nosso povo”, afirmou.

Após o final do desfile e da passagem dos veículos militares, os organizadores do Grito dos Excluídos decidiram retornar para o pátio da sede do Incra, onde foi realizado o encerramento do ato. Ao final, foi feita uma convocação geral para a preparação do dia 22 de setembro, próxima escala na preparação de uma greve geral contra o golpe e a agenda política e econômica dos golpistas.

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