OPINIÃO

Os professores, Leandro Karnal e as Organizações Tabajara

Por Moisés Mendes / Publicado em 13 de março de 2017

Os professores, Leandro Karnal e as Organizações Tabajara

Foto: reprodução/facebook

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Teve um tempo em que o Brasil quase resolveu seus problemas de educação dentro de um jatinho da Globo. O Jornal Nacional contratou um consultor famoso e o colocou no avião com um repórter e um cinegrafista. Que pegassem as malas e saíssem a examinar o que estava certo e errado nas escolas.

A equipe voou pelo Brasil todo. Era o JN no Ar, e o programa de visitação aos colégios foi batizado de Blitz da Educação. O consultor Gustavo Ioschpe aterrissava numa cidadezinha, aparentemente de surpresa e sem planejamento algum, e aparecia de repente em uma escolinha.

Percorria os corredores, ia às salas de aula, conversava com a direção, os professores e os alunos e numa manhã tinha o diagnóstico de gestão, de métodos de ensino, de aprendizado e até do salário dos professores. Era tudo muito rápido e surpreendente. Por isso, claro, o espaço no JN era chamado de blitz.

A Globo inventava ali o consultor de educação à la minuta. Quando ele apontava problemas, lá numa escolinha do agreste alagoano, o país inteiro, ligado no JN, ficava com a sensação de que uma pessoa apenas, num jato da Globo, sabia só de olhar o que nenhum professor daquele colégio lá de Quebrangulo seria capaz de saber. O oráculo do Jornal Nacional voava para levar sabedoria a um mundão que poucas vezes via um avião.

Uma das coisas que ele mais repetia e repete, nos artigos que publica, é que o professor no Brasil não ganha mal. Esta frase é de um texto dele: “O professor ganha pouco por ser brasileiro, não por ser professor”. O professor ganharia tão mal quanto os políticos, os engenheiros, os empreiteiros, os juízes, os promotores, os advogados e os consultores de educação.

Ele também acha que o professor brasileiro não trabalha muito. E aponta outro problema, “a ideologização do ensino, presente em todas as escolas brasileiras”. E a ideologia, claro, é de esquerda. Tanto que a maioria dos estudantes brasileiros deve ter, pela conclusão do homem da blitz, uma forte formação esquerdista (o moço é um dos inspiradores dos argumentos da tal “escola sem partido”).

O sábio do JN nunca mais foi visto na TV, mas continua escrevendo e refletindo sobre as soluções para o ensino brasileiro. E o país continua reproduzindo oráculos midiáticos saídos da universidade, com o lustro acadêmico dos que estudaram muito, em todas as áreas.

Ioschpe era um mestre da era da TV, mais focado em gestão. Mas agora temos Leandro Karnal, por exemplo, o cara da era do Facebook, focado nas mais variadas histórias e filosofias. Ioschpe, o professor-minuto, quer resultados. Karnal anda pelas trilhas das divagações e das humanidades.

Por que falar deles agora? Porque o oráculo Karnal foi o personagem da semana passada, com a divulgação da foto com o juiz Sergio Moro. O professor decepcionou muita gente que o considerava parte da trincheira cavada contra o golpe. É o custo da fama e da imagem que ele mesmo forjou no mundo virtual.

Ambos – ele e Ioschpe – são, pelo poder midiático, catalisadores de uma vasta multidão de adoradores. Karnal não frustrou alunos, mas seus seguidores de ‘esquerda’ nas redes.

Colegas da mesma linhagem têm o perfil do professor-celebridade, que surfa agora na internet. A PUC/RS já o contratou e o colocou num time com Sergio Moro, Ricardo Amorim, Max Gehringer, Luis Felipe Pondé e outros que estarão ensinando em Porto Alegre este ano.

Um corpo docente com fama, cheio de craques, pode ajudar a tirar o negócio da educação da crise, pelo menos no ensino superior. E talvez seja o jeito de competir num mercado em que proliferam as Organizações Tabajara.

E o professor que se puxou, que estudou, que trabalha em casa nos fins de semana, mas leciona lá nos fundões do Rio Grande do Sul? Este será submetido sempre à realidade linear (para copiar Karnal) dos que trabalham sem glamour e sem salário, quase invisíveis, muitas vezes sem o respeito da própria comunidade, sem muitos seguidores no Facebook e sem audiência no Youtube.

O desafio deles é tentar entender a revolução educacional do Mendoncinha. Porque o homem da blitz pode reaparecer a qualquer momento para dizer o que mudou nas escolas e avaliar se esse professor sem fama merece o salário que recebe em parcelas todos os meses.

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