MOVIMENTO

Educadores organizam ato em defesa de Paulo Freire

Manifestação será na próxima segunda-feira, 23, na PUC/SP, onde Freire trabalhou até sua morte em maio de 1997
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 18 de outubro de 2017

Personalidades do mundo acadêmico e representantes das mais variadas entidades da sociedade civil estão organizando para a próxima segunda-feira, 23, em São Paulo, o primeiro grande ato formal em defesa de Paulo Freire como Patrono da Educação Brasileira – título que movimentos capitaneados em torno da bandeira Escola sem Partido buscam cassar no Congresso Nacional.

Foto: Instituto Paulo Freire

Freire: Uma das obras mais citadas nas Ciências Humanas

Foto: Instituto Paulo Freire

A atividade ocorrerá na Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC/SP), coincidentemente a instituição onde, a convite de Dom Paulo Evaristo Arns, então Cardeal Arcebispo de São Paulo, Freire lecionou até o fim da sua vida (maio de 1997), no retorno do seu exílio.

O ato não é o primeiro sinal de reação à proposta legislativa criada por uma estudante apoiadora do Escola sem Partido, que pede a revogação da Lei 12.612 que concede o título a Freire. O Coletivo Paulo Freire por uma Educação Democrática lançou nesta segunda, 16, um manifesto em defesa do legado do educador, cuja principal obra, Pedagogia do Oprimido, é a terceira mais citada em toda a literatura das Ciências Humanas, segundo pesquisa realizada por Elliott Green, professor associado à London School of Economics. O manifesto, que iniciou com mais de 400 assinaturas de educadores e 81 instituições, grupos de pesquisa, entidades e movimento do Brasil e de países da África Lusófona e de Portugal, é encabeçado por Nita Freire, viúva do educador, pela deputada Luiza Erundina (Psol-SP), que propôs e conseguiu, por unanimidade no Congresso, à honraria à Freire, Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito a Educação e organizações como o Instituto Paulo Freire.

O manifesto declara que ceder ao retrocesso de retirar o nome de Paulo Freire da titulação de patrono da educação nacional é impor a Freire e à sua obra, uma espécie de segundo exílio, tão violento quanto o primeiro sofrido pelo educador de 1964 a 1980 e levado a cabo pela Ditadura Civil-Militar (1964-1985).

Para Daniel Cara, apesar da reação contrária à proposta de retirada do título de Paulo Freire, que circula entre adeptos do Movimento Brasil Livre (MBL), de Bolsonaro e de Olavo de Carvalho, ter ocorrido bem depois da proposta ser apresentada ao Congresso, a melhor notícia “é que o belo trabalho de mobilização do Instituto Paulo Freire está ganhando corpo. Já temos 20 mil assinaturas na Petição do IPF contra 21 mil dos ultraconservadores. Nossa meta é bater 25 mil”.

Educadores como Lisete Arelaro (USP/SP), Vitor Henrique Paro (USP/SP), Jaqueline Moll (UFRGS) e Moacir Gadotti, educador, professor titular da FE-USP e presidente de Honra do Instituto Paulo Freire, afirmam que defender o título de Freire é o mesmo que defender a produção intelectual, a boa prática pedagógica e o próprio Brasil.

O manifesto pede ainda que o Brasil encontro um mínimo de pontos de convergência sobre o legado de Freire à educação brasileira. “Respeitar Paulo Freire é resguardar a História daquelas pessoas imprescindíveis que dedicam sua vida, dia após dia, à luta por um mundo livre, fraterno, igualitário, justo, próspero e sustentável”.

Para aderir ao Manifesto em defesa do Patrono Paulo Freire, basta enviar e-mail para o endereço eletrônico paulofreirepatrono@gmail.com, informando nome, formação, cargo e/ou função. Entidades e movimentos devem apenas enviar o nome.

Confira a entrevista exclusiva ao Extra Classe de ANA MARIA ARAÚJO FREIRE, viúva de Paulo Freire,  sobre reedição da biografia e do legado de um dos pensadores mais notáveis da história da pedagogia mundial: Paulo Freire nunca foi um doutrinador

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