MOVIMENTO

Greve de fome contra a reforma da previdência

Integrantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) iniciaram no último dia 5 o protesto contra a proposta do governo que tramita na Câmara dos Deputados
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 7 de dezembro de 2017

Integrantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) iniciaram no último dia 5 o protesto contra a proposta do governo que tramita na Câmara dos Deputados

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Na manhã desta quinta-feira, 7 de dezembro, houve coletiva de imprensa dos três integrantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) que iniciaram no último dia 5 uma greve de fome contra a proposta de reforma da previdência que tramita na Câmara Federal. Após mais de 48 horas de jejum, se utilizando somente de água e soro, os grevistas reafirmam que a ideia é ir até as últimas consequências. “Não sei quantos dias vai durar a greve de fome. Não seremos nós que vamos dizer a data de encerramento. Nós dissemos o início, a data de encerramento quem pode dizer é o presidente dessa casa, o deputado Rodrigo Maia”, declarou o Frei Sérgio Görgen, um dos grevistas, que integra a Coordenação Nacional do MPA. Na coletiva, ainda foi informado que os grevistas se deslocarão para a sede da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) onde serão abrigados até segunda-feira, dia 11, quando deverão retornar ao Congresso com uma equipe de apoio e outros militantes sociais que também irão aderir à greve.

No dia 6 de dezembro, passadas 24 horas da greve de fome, os dirigentes do MPA solicitaram audiência com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Até o momento não houve resposta. O objetivo da audiência é denunciar o desmonte da Previdência, bem como o que o movimento entende como mentira: que os trabalhadores rurais estariam fora da Reforma da Previdência, como havia anunciado o relator da proposta, Arthur Maia (PPS-BA).

Em nome de mais de 300 mil famílias camponesas de todo país os integrantes do MPA que iniciaram a greve no dia 5,  o Frei Franciscano Sergio Görgen, do Rio Grande do Sul, e as agricultoras Josi Costa, Piauí, e Leila Denise, Rondônia, afirmam que sabem o desafio que é imposto a privação de se alimentar, mas que devido ao nível de retirada de diretos que se encontra o país a atitude é uma das ações que estão dispostos a fazer para contribuir com a derrocada da reforma que está sendo proposta pelo Governo Federal.

“A Greve de Fome para o Movimento significa que alguns passarão fome por alguns dias para evitar que muitos passem fome uma vida inteira”, falou no primeiro dia da greve Leila Denise, camponesa e coordenadora nacional do MPA. Segundo o Frei Sérgio Görgen, que em 1997, na capital gaúcha, também se utilizou do recurso de uma greve de fome para a luta pela reforma agrária, “só estamos tomando água e soro apenas e vamos fazer isso até que essa reforma seja enterrada e o Brasil possa ter um Natal com mais esperança e não um Natal com desgraça e desespero. Nós esperamos que haja sensibilidade dos parlamentares e do governo para que essa reforma não se concretize”, declarou o religioso no primeiro dia, coincidentemente ou simbolicamente, a data marcou os vinte anos do início da greve de fome que o Frei realizou em Porto Alegre por 17 dias, na sede do Sindicato dos Bancários.

Na coletiva, a agricultora grevista Josi Costa afirmou que a greve de fome é “uma das lutas que se chega ao extremo” destacando que o Brasil vive um período de vários extremos. “Não houve só um golpe para derrubar um governo legítimo. O Brasil está vivendo vários golpes com cada dia os trabalhadores perdendo os seus direitos”. Para Josi, os pobres estão ficando com os ônus e a classe rica com os bônus. Ela declarou ainda que devido à série de solidariedade que estão recebendo, os três grevistas estão “fortes, muito fortes”. A agricultora ainda destacou que a luta é pra evitar um retrocesso sem precedentes que “atinge até mesmo quem é contra nós e não nos apoia, mas ainda não perceberam isto”. Emocionada na coletiva, Leila destacou a sua condição de camponesa e mãe. “O nosso ato não é uma decisão particular. É responsável e coletiva”, finalizou

Parlamentares

Os manifestantes que permaneceram durante todo o dia 5, na Taquigrafia da Câmara dos Deputados recebendo o apoio de vários parlamentares que se posicionam contra a PEC que reforma a previdência, bem como simpatizantes, amigos e parceiros do movimento. Mesmo com as tentativas da Polícia Legislativa que os pressionavam para desocupar a casa, os manifestantes passaram a noite na Liderança do Partido dos Trabalhadores.

Os manifestantes receberam apoio de deputados e senadores

Foto: Adilvane Spezia/Divulgação

Os manifestantes receberam apoio de deputados e senadores

Foto: Adilvane Spezia/Divulgação

Segundo deputado Afonso Florence (PT-BA), presente na coletiva, havia uma determinação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) de retirar com o uso da força se fosse necessário os três integrantes do MPA das dependências da Câmara. O deputado afirmou que houve necessidade da intervenção do líder do PT, Carlos Zarattini (PT-SP) que deslocou os grevistas para a liderança do partido. Florence ainda destacou que hoje de manhã que um parlamentar que prefere não nominar pois acha que o nome não merece ser citado ainda zombou do movimento afirmando que a greve estava acontecendo para o Frei Sérgio perder peso. “Um ato que só demonstra o desrespeito dessa gente”, completou indignado.

Presente no primeiro dia da greve, o Senador Paulo Renato Paim (PT-RS) declarou “A reforma da Previdência do governo Temer é uma estupidez e um banditismo contra o povo brasileiro jamais visto na nossa história. É um tiro dos covardes contra o bom senso e a sabedoria. A greve que os pequenos agricultores estão realizando para protestar contra esses absurdos todos é um exemplo a ser seguido. Que bom seria se esse movimento se espalhasse por todo país”. Para o deputado também gaúcho Paulo Pimenta (PT-RS) “É uma ação de resistência e para conscientizar a população dos efeitos negativos de mais essa maldade desse governo golpista. Com Temer, todos os dias os brasileiros acordam com menos direitos. Impedir, agora, o direito à aposentadoria é mais um crime contra a população, especialmente a que mais precisa de proteção do Estado”, finalizou. O deputado fluminense Glauber Braga (PSol-RJ) enfatizou “Fui para prestar toda a minha solidariedade. Essa greve de fome é legitima, contra o desmonte da Previdência. O Governo falou que ia trabalhar com tudo para aprovar mais essa retirada de direitos e estão transformando o Parlamento em um grande balcão de negócios. Nós do PSOL, continuaremos na luta e na resistência contra essa Reforma. A mobilização popular é fundamental para impedir que mais esse absurdo do Governo Temer se concretize”. Ainda no dia 6, os três grevistas receberam a visita de solidariedade de João Pedro Stédile, Coordenador Nacional do Movimento dos Sem Terra (MST).

Em Nota, MPA afirma que “as organizações do campo e da cidade não aceitam a manobra do governo golpista e asseguram que irão cerrar fileiras contra a Reforma da Previdência e a retirada de direitos impostas pelo Governo Golpista. As organizações sociais afirmam ser este é apenas um aviso prévio das ações que estão sendo organizadas”.

Deflagração

As recentes notícias da proposição do relator da Reforma da Previdência, Arthur Maia (PPS-BA), de retirar os trabalhadores rurais da proposta encaminhada para votação é, conforme denunciam os grevistas uma mentira e a não votação da reforma na Câmara do Deputados não desmobilizou os trabalhadores. O MPA declara que o Movimento segue somando nas atividades da Frente Brasil Popular em todo o País.

Para o também membro da Coordenação Nacional do MPA, Bruno Pilon, a organização nesse ato extremo reafirma sua posição contrária a Reforma da Previdência, posição que é expressa por todas as organizações do campo e da cidade que de fato defendem os interesses da Classe Trabalhadora. “Nem a aparente retirada dos rurais da Reforma Previdenciária nos fará retroceder a luta, essa é uma Luta de Classe. Se nossos irmãos e irmãs urbanos serão atingidos também seremos, vamos nos manter firmes para barrar esses retrocessos”, declara Pilon.

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