OPINIÃO

Luciano Huck e as latas velhas da direita

Por Moisés Mendes / Publicado em 10 de janeiro de 2018

 

Luciano Huck e as latas velhas da direita

Foto: YouTube

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Luciano Huck foi ressuscitado como candidato. Alckmin não reage, mesmo com respiração boca a boca de todo o PSDB, da imprensa e do pato do Fiesp. E Henrique Meirelles é um sujeito cansado, que aciona todos os neurônios para responder a uma pergunta singela sobre gastos do governo.

Alckmin e Meirelles raciocinam devagar demais até para a direita esclerosada. Não têm conserto. Dora Farinata Júnior revelou-se o pangaré dos tucanos. E Bolsonaro já está sob o massacre dos jornais como o milionário da Barra da Tijuca. Quem pode confiar em Bolsonaro, além dos que o enxergam apenas como a metralhadora suja antiPT?

Por isso Huck anda por aí de novo, com  Angélica sempre ao lado. Circula um vídeo na internet em que ele aparece no programa do Faustão dizendo que conhece os pobres. Que não é candidato, mas se o chamarem contarão com alguém que entra na casa de qualquer um.

Huck está certo de que leva felicidade às casas dos pobres, assim como conserta a vida de muita gente ao transformar Chevettes em Ferraris. O moço da Globo é a melhor imagem reformada do elemento de direita que se apresenta como novo.

Huck é mais uma lata velha. Primeiro, não é gurizão para se passar como um adolescente que de repente decidiu fazer política. Tem 46 anos (Collor se elegeu com 40). Ele e o prefeito de Porto Alegre, Marchezan Despacito Júnior, têm a mesma idade. E seus marqueteiros insistem em apresentá-los como meninos.

O guri velho da Globo é o cara descolado que aparece como o riquinho com intimidade com os suburbanos. Ele abre portas e geladeiras. Entra no banheiro e na cozinha dos pobres. Bebe água da torneira.

Sabe que é apenas um visitante eventual a besbilhotar e explorar os sonhos e as misérias humanas, mas tenta vender, com patrocinadores, que ele e os pobres têm coisas em comum.

O altruísmo seria o que os identifica. Huck já disse que esse é o sentimento que captou do povo e determina sua postura como celebridade militante. Se for político, o altruísmo será a sua marca.

As melhores e mais simples definições de altruísmo são estas: empatia e amor com o próximo, identificação com seus anseios e dedicação aos outros antes de se dedicar a si mesmo.

Os freis franciscanos e capuchinhos, as irmãs de caridade da Igreja, os monges budistas e todos os que neles se inspiram são exemplos clássicos de altruísmo. Luciano Huck parece querer se equiparar a eles, porque vai atrás de pessoas que terão a sorte de serem felizes com alguma coisa material que melhore suas vidas.

Huck oferece coisas às pessoas porque as coisas têm fornecedores. O altruísmo de Huck só funciona com patrocínio de alguma coisa. Se fosse mesmo altruísta, se pensasse nos outros, se o coletivo estivesse na frente de seus interesses, Huck não teria se apoderado de uma área em Angra do Reis para ampliar o alcance da sua propriedade e se isolar do mundo.

Foi processado por dano ambiental. Mas seu dano social é maior. Huck cercou com boias e redes a área ao redor da mansão, na Ilha das Palmeiras, com a desculpa de que iria criar moluscos em cativeiro. Era um pretexto para que a área fosse privatizada e estranhos não se aproximassem demais da propriedade.

Esse Huck que chega nas casas e vai abrindo geladeiras foi condenado pela Justiça a pagar R$ 40 mil de multa (imaginem se fosse Lula) porque transformou o espaço ao redor da sua mansão em um cercado instransponível. É o cara que fala em altruísmo.

Huck poderia ser simplesmente um Faustão, que atribui seus prêmios à sorte e não tem a pretensão de ser um altruísta. Faustão enche a casa de alguém de eletrodomésticos. Só isso. Huck vai até as casas e diz aos pobres que está ali como enviado dos ricos para tirá-los daquela situação.

Sua mensagem é egoísta e egocêntrica: nós da Globo, da elite, do mundo das celebridades, amigos do pato da Fiesp, da grande imprensa, do mercado financeiro, nós podemos resolver os problemas das suas vidas.

O altruísmo de Huck e de toda a direita é o exercício do poder econômico em que o povo somente teria a chance de ganhar algo por concessão. O povo depende dos gestos de Huck, Aécio, Serra, Alckmin, Meirelles, porque é assim que o mundo funciona. Ninguém conquista nada, eles é que nos presenteiam com a felicidade.

Mas o povo vai acreditar de novo, como acreditou em Fernando Collor, que um riquinho é seu amigo? As pesquisas do DataFolha dizem que sim. Huck está aí outra vez, depois de ter anunciado em novembro que não iria concorrer a presidente, porque a maioria dos eleitores de Lula, se desamparada pela condenação do ex-presidente, se bandearia para os braços do cara da Globo.

Huck sabe teatralizar, como homem de palco, as demandas e os sonhos dos pobres. O governo pode virar um show. Depois do lulismo, teríamos o huckismo.

Parece um plano perfeito e imbatível para que a Globo finalmente chegue ao poder sem intermediários. Só falta combinar com o povo.

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