CULTURA

“Esta economia mata”, diz Papa Francisco

Vaticano lançará documento nesta quinta-feira, 17, que deve reforçar teologicamente as criticas do pontífice à nova ordem econômica mundial
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 16 de maio de 2018
O pontífice sintetiza em uma frase, documento que o Vaticano lançará nesta quinta-feira, 17, criticando a nova ordem econômica mundial

Foto: VaticanNews/YouTube/Reprodução

O documento ‘Oeconomicae et pecuniariae quaestiones’ trás considerações para um discernimento ético sobre alguns aspectos do atual sistema econômico-financeiro internacional

Foto: VaticanNews/YouTube/Reprodução

“Esta economia mata”. Com essa frase o Papa Francisco praticamente chegou ao ápice de demonstração do seu descontamento com o sistema capitalista global, o qual ele ainda acusa de ter perpetuado uma “cultura do descarte”. No que deve ser um reforço para dar mais peso teológico às frequentes críticas de Francisco, neste próximo dia 17 de maio, segundo o jornalista americano Joshua McElwe, correspondente em Roma do National Catholic Reporter, dois importantes organismos do Vaticano lançarão um documento que avalia a moralidade do sistema de mercado global.

Com o título em latim, conforme os protocolos da Santa Sé, o trabalho “Oeconomicae et pecuniariae quaestiones. Considerações para um discernimento ético sobre alguns aspectos do atual sistema econômico-financeiro”, é fruto da colaboração entre a toda poderosa Congregação para a Doutrina da Fé e o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral. A primeira é a mais antiga das nove congregações da Cúria Romana e engloba a Comissão Teológica Internacional e a Pontifícia Comissão Bíblica. Substituta do antigo Santo Ofício, a Congregação para a Doutrina da Fé tem o objetivo de difundir a doutrina católica e defender os pontos da tradição da Igreja que possa estar em perigo, como doutrinas novas não aceitáveis pela Igreja Católica. Nâo é a toa que nos anos do conservador João Paulo II, sob o comando do então Cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, ela foi a responsável pelo expurgo do ensino de importantes teólogos progressistas, como Hans Kung e Leonardo Boff.

Já o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral foi criado pelo próprio Papa Francisco em 2017, integrando o trabalho de quatro Pontifícios Conselhos (Justiça e Paz, Cor Unum, Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, Pastoral para os Agentes de Saúde). Sua importância foi evidenciada por ter coordenado a elaboração da segunda carta encíclica de Francisco, “Laudato Si” ( Louvado sejas) que teve como subtítulo: “Sobre o Cuidado da Casa Comum”. Focado nas questões ambientais presentes e futuras que afligem o planeta, a encíclica foi saudada internacionalmente como uma das mais importantes referências mundiais sobre o tema.

O “Oeconomicae et pecuniariae quaestiones” será apresentado em coletiva de imprensa pelo arcebispo Luis Francisco Ladaria Ferrer, titular da Congregação para a Doutrina da Fé e pelo Cardeal Peter Turkson. Ladaria é um importante teólogo espanhol, com origens na mesma comunidade religiosa de Francisco, os Jesuítas, e Turkson é o primeiro Cardeal nomeado em Gana.

Crítica à cultura do descarte

Francisco, desde eleito em 13 de março de 2013, tem sido um crítico ferrenho do capitalismo, o que já lhe custou em certos ambientes da própria Igreja as acusações de socialista, comunista e até herege pelos mais tradicionalistas. O termo cultura do descarte que cunhou para descrever uma sociedade “que serve para enriquecer os ricos às custas dos mais pobres do mundo” foi o primeiro de uma série de críticas ao status quo. Em um dos questionamentos mais fortes do pontífice, ele disse aos moradores de uma favela queniana durante uma visita em 2015 que eles estavam sofrendo de “feridas provocadas pelas minorias que concentram o poder, a riqueza e desperdiçam egoisticamente, enquanto a crescente maioria deve se refugiar em periferias abandonadas, poluídas, descartadas”.

 

 

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