MOVIMENTO

CUT reavalia estratégias de mobilização

Plenária reuniu nesta sexta-feira, 13, em Porto Alegre, sindicalistas dos três estados do Sul para debater a luta em defesa da democracia, direitos dos trabalhadores e eleições
Por Gilson Camargo / Publicado em 13 de julho de 2018
Encontro contou com mais de 500 sindicalistas dos três estados da região Sul, que lotaram o Teatro Dante Barone, na Assembleia Legislativa do RS, em Porto Alegre

Foto: Igor Sperotto

Encontro contou com mais de 500 sindicalistas  que lotaram o Teatro Dante Barone, na Assembleia Legislativa do RS, em Porto Alegre

Foto: Igor Sperotto

Dirigentes e sindicalistas de entidades filiadas à Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul lotaram o Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa, em Porto Alegre, na manhã e início da tarde desta sexta-feira, 13, para a realização de uma Plenária Interestadual. Na pauta da Plenária, organizada por regiões do país, estão a mobilização dos trabalhadores em defesa da democracia e dos direitos, a continuidade da campanha pela libertação e lançamento da campanha à presidência da República do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso na sede da Policia Federal em Curitiba, e o debate sobre as estratégias dos trabalhadores para as eleições de outubro deste ano.

Por volta das 10h, após a apresentação dos presidentes estaduais da CUT na Região Sul (Marizar Mello, da CUT/RS, Regina Cruz, da CUT/PR e Anna Julia Rodrigues, da CUT/SC) e da composição da mesa, um “Bom dia presidente Lula!” foi repetido 13 vezes ao som de palmas e gritos pelos cerca de 500 participantes da plenária, que pediram a liberdade do ex-presidente. Marizar Mello, presidente em exercício da CUT/RS, defendeu uma “maior aproximação com a base e o enfrentamento com o capital”. Para o dirigente, a plenária se fez necessária diante do período de exceção política vivido pelo país. “A derrota de um projeto deve servir para a nossa reorganização, para podermos lutar com mais determinação contra um governo que tomou de assalto o país”, disse.

Foto: Igor Sperotto

Wagner Freitas: “Temos que reconhecer os erros e construir um movimento mais forte”.

Foto: Igor Sperotto

O presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, lembrou que a CUT, o PT e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo vêm adotando uma postura “muito cavalheiresca nesse debate” e propôs: “temos que reconhecer os erros e construir um movimento mais forte”. Ele convocou os sindicalistas para o Dia do Basta, que será marcado com paralisações e protestos em todo o país, no dia 10 de agosto, e para o ato de registro da candidatura de Lula à presidência da República, no dia 15 de agosto. “Somos o maior foco de resistência das organizações de trabalhadores do país”, disse, lembrando que o movimento sindical sempre esteve na vanguarda da sociedade e vem denunciando desde o início a investida contra os trabalhadores. “Nós não vacilamos em nenhum momento em alertar a classe operária que o golpe era contra os trabalhadores”.

Para o dirigente, trata-se de uma construção internacional da direita no mundo contra os direitos dos trabalhadores e a democracia. “A CUT disse o tempo inteiro: a direita deixou de ser liberal ela hoje é intolerante com a democracia, ela não quer nem mais conviver com a democracia de direita. Eles cansaram de conviver com partido político, com o Congresso Nacional, instituições que possam ser disputadas pelos trabalhadores. Agora no afã de fazer valer as suas opiniões e os seus lucros, eles resolveram constituir uma outra pilastra governamental, que é o poder financeiro, o poder da mídia, o poder da toga e das instituições nacionais. No Brasil, o Ministério Público e Polícia Federal”, aponta Freitas.

Os movimentos sociais saem fortalecidos

Gilberto Carvalho: "É muito provável que o povo dê uma resposta como deu nas eleições de 1974, durante a ditadura"

Foto: Igor Sperotto

Gilberto Carvalho: “É muito provável que o povo dê uma resposta como deu nas eleições de 1974, durante a ditadura”

Foto: Igor Sperotto

Ao avaliar a conjuntura política a partir da primeira eleição de Lula, o presidente nacional da CUT afirma que “o golpe foi um basta a um governo popular”. “FHC se fez de morto porque para o PSDB era melhor que o Lula se elegesse e não o candidato tucano. Mas quando o Lula se reelegeu e fez sua sucessora com mais de 55% dos votos eles resolveram dizer basta”. O golpe, afirma o sindicalista, era para impedir uma consolidação histórica de que os trabalhadores governam mais e melhor que a direita e que “nós somos alternativa de poder para o Brasil, para a América Latina e para o mundo.

“Construímos os Brics, tivemos a ousadia de dizer que o FMI e o Banco Mundial não são a única alternativa, propusemos que o dólar não fosse moeda que servisse de parâmetro para o mundo, dissemos que havia uma outra realidade possível. O golpe se construiu por conta disso. Agora, eles não conseguiram desfechá-lo, porque ainda não conseguiram nos derrotar”. De acordo com Freitas, o apoio popular a Lula, mesmo após a condenação e prisão, impediu o desfecho esperado pelo campo político que tomou o poder no país. “Com tudo que aconteceu, o presidente Lula, em qualquer pesquisa para a presidência da República, aparece com mais de 35% dos votos e com a possibilidade grande de se eleger em primeiro turno. E com tudo que aconteceu, as pesquisas mostram que o PT tem 20% das preferências daqueles que têm partido político. Não conseguiram cassar o registro do PT, não conseguiram fechar a CUT, o MST, o MTST, a UNE e os movimentos sociais”, aponta Vagner Freitas.

Gilberto Carvalho, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, que tem atuado junto aos movimentos sociais em defesa da democracia e da liberdade para Lula, defendeu que a base deve se organizar para eleger o maior número de deputados para formar uma base de governo que garanta os direitos da classe trabalhadora. Ao avaliar a apatia da população diante de tudo que vem ocorrendo no país, Carvalho propôs uma reavaliação das estratégias de mobilização adotadas pelos movimentos sindical e social. O ex-ministro acredita que “é muito provável que o povo dê uma resposta como deu em 1974 quando, nas eleições, na ditadura ainda, havia um silêncio, a esquerda mais radical tentando fazer o voto nulo, o MDB começando a crescer e de repente dá um estouro de votos para o MDB, que era a reação à Arena da ditadura”.

Almoço grátis e reforma trabalhista

Foto: Igor Sperotto

“Não esqueçam que não existe almoço grátis no capitalismo”, ironizou o presidente licenciado da CUT/RS, Claudir Nespolo

Foto: Igor Sperotto

Às 11h30, representantes da CUT, demais centrais sindicais e sindicatos filiados realizaram ato público contra a reforma trabalhista em frente ao Hotel Sheraton, no bairro Moinhos de Vento, durante uma reunião-almoço, com “inscrições gratuitas”, promovida pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, presidida pelo ex-ministro do Trabalho e deputado Ronaldo Nogueira (PTB-RS), e organizada por confederações e federações empresariais. Com anúncios e encartes na grande imprensa e ampla cobertura dos jornais gaúchos, as “Jornadas Brasileiras de Relações do Trabalho” foi apresentada a empresários como um “projeto de articulação política pelo emprego” e exaltou os “avanços” da reforma trabalhista – Lei 13.467/2017.

Não é assim que os trabalhadores entendem a proposta da atividade. “Uma elite empresarial falida, que ao invés de trabalhar prefere aumentar seus lucros à custa dos direitos dos trabalhadores. Estão aqui no hotel mais caro de Porto Alegre para comemorar, mas não esqueçam que não existe almoço grátis no capitalismo”, ironizou o presidente licenciado da CUT/RS, Claudir Nespolo. Com faixas e bandeiras em frente à entrada do hotel, os manifestantes se anteciparam à chegada de empresários e jornalistas convidados para a conferência do ex-ministro seguida de almoço. Um a um, os convidados foram sendo vaiados ao descerem dos carros no acesso para o evento – uma conferência e almoço organizados no espaço Mercosul e no terraço do Sheraton. No cardápio, ballotine de frango com gorgonzola e espinafre e suflê de aspargos, e vinho nacional.

Para Amarildo Cenci, secretário-geral adjunto da CUT/RS e diretor do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS), a reforma representa um dos maiores retrocessos nas conquistas civilizatórias da classe trabalhadora brasileira desde 1943, quando Getúlio Vargas assinou a CLT. “É uma das grandes mentiras do século. O que estamos experimentando, na prática, é uma queda brutal dos salários, a retirada de direitos fundamentais dos trabalhadores e a precarização do trabalho. Se tem alguém ganhando com a reforma trabalhista são os empresários, que reduziram significativamente os custos da mão de obra em detrimento dos direitos trabalhistas”, afirma.

Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

TRT4 – Em resposta à ações da Justiça Federal no Rio Grande do Sul no dia 8 de agosto para anular a decisão do desembargador de plantão do TRF-4, Rogério Favreto, que concedeu habeas corpus para soltar o ex-presidente Lula, o movimento sindical instituiu no 13 de julho o Dia Nacional de Mobilização contra os desmandos do TRF-4 e do juiz Sérgio Moro.

Houve ato público às 14h, em frente à sede do TRF-4. Os sindicalistas denunciaram a perseguição e a prisão política do ex-presidente e defenderam “Lula livre para ser candidato nas eleições de outubro”.

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