OPINIÃO

Um dia a gente se vê por aí

Por Moisés Mendes / Publicado em 26 de julho de 2018

Moisés Mendes nos vemos por aí

Foto: Mídia Ninja

Foto: Mídia Ninja

 

Os que desistem da política acabam por entregá-la, com todos os riscos da omissão, aos seguidores de Bolsonaro. O representante da extrema direita caminha, mesmo que de forma errática, para a chance real de chegar ao segundo turno.

Desistentes à esquerda abrem caminho para o reacionarismo em todas as frentes. Antes da ascensão de Bolsonaro, também por desistência de pelo menos um terço dos eleitores, a direita elegeu prefeitos nas grandes capitais. E os prefeitos do golpe estão destruindo as cidades.

Por desistência, quase sem esboçar reação, o brasileiro médio sucumbiu à reforma trabalhista. E já havia desistido de tentar impedir a reforma da Previdência, quando os próprios políticos em campanha abandonaram a ideia.

O Brasil desistiu de derrubar o jaburu. Desistiram de cobrar da Justiça o fim da impunidade de Aécio e de José Serra. Desistiram até reagir diante da prisão de Lula.

Sim, há os que não desistiram e ainda desafiam o golpe. Mas esses são minoria. Se fossem maioria, o golpe já teria acabado. Se as vontades fossem mesmo pela cobrança de punição da direita corrupta, o jaburu não estaria mais no poder. Nem ele nem o Quadrilhão. E o Supremo não continuaria com Romero Jucá e com tudo.

Em algum momento, o brasileiro desistiu de questionar os juízes seletivos da Lava-Jato. Disseminou-se uma sensação geral de abandono das ilusões da política e da democracia.

O brasileiro parece dizer: deixa assim, por enquanto, pra ver como é que fica. Que se espere, por obra de algum milagre, que a economia volte a crescer, que o horror do desemprego se esgote, que não aumentem a gasolina todas as semanas e que o botijão de gás não chegue a R$ 100.

Se o ambiente geral é de hipnose provocada pelo golpe, pela imprensa, pelos juízes, por que alguém pode achar que, mesmo assim, vale a pena fazer política? Que sentido há na democracia de um país destruído por um golpe que acabou por destruir os próprios golpistas?

O sentido, como dizia Jean-Paul Sartre, é o de que precisamos enfrentar o dilema das escolhas nos momentos graves. E a única escolha possível agora, para enfrentar a inércia, a resignação e a apatia é seguir em frente.

Depois de dois anos de golpe, vozes nas famílias, nas esquinas, nas empresas, nas escolas começam a anunciar que é possível e é preciso reagir. Espaços públicos, como bares, cafés, livrarias passam a acolher o debate pela volta da normalidade.

O brasileiro vai perdendo o medo do golpe. O país dos desistentes deixará de ser maioria. Não há alternativa que não seja a da reparação da democracia. E não há outro jeito de enfrentar o avanço da direita que não passe pela eleição de outubro.

Que não se desista desta eleição como muitos desistiram da eleição para as prefeituras. É a hora de voltar à política com o que ela ainda nos oferece e de acreditar que, com Lula encarcerado ou Lula em liberdade, o golpe pode ser derrotado.

É um desejo, é uma esperança, porque o imperativo agora é o dos sentimentos, não é o da racionalidade pragmática. As esquerdas precisam trazer de volta para a política os desistentes pós-golpe de 2016.

A direita será derrotada pelos que se emocionam e transmitem emoção, inclusive os que se arrependem de ter participado das passeatas e dos panelaços comandos pelo Globo. Os golpistas sabem que serão derrotados pelos que se emocionam.

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Este meu recado de crença na democracia me traz até aqui para uma despedida. Tomei a iniciativa de deixar de escrever no Extra Classe on-line, porque sou pré-candidato a deputado estadual pelo PT do Rio Grande do Sul.

O Extra Classe me ofereceu esse espaço quando deixei Zero Hora, em abril de 2016. Agradeço a acolhida do jornal e dos leitores. Um dia, quem sabe, a gente se encontra de novo. Um abraço.

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