MOVIMENTO

Greve de fome em Brasília é encerrada

Após 26 dias sem a ingestão de alimentos reivindicando a votação da inconstitucionalidade da prisão em segunda instância pelo STF, os sete manifestantes encerraram hoje de manhã, 25, o movimento
Marcelo Menna Barreto / Publicado em 25 de agosto de 2018

Foto: Michelle Calazans/CMI

Foto: Michelle Calazans/CMI

Após 26 dias sem a ingestão de alimentos, somente sob o uso de soro e água, os sete militantes, em greve de fome pela votação da inconstitucionalidade da prisão em segunda instância pelo Supremo Tribunal Federal (STF), declararam no final da manhã deste sábado, 25, o encerramento do movimento. Em ato de solidariedade realizado no Centro Cultural de Brasília, mantido pelos Jesuítas, o agricultor Jaime Amorim informou em nome dos demais grevistas que o grupo atendeu o pedido de suas organizações sociais. Os militantes ainda divulgaram o Manifesto – Greve de Fome por Justiça no STF e uma Carta de agradecimento por toda solidariedade recebido no período em que se encontraram realizando o seu protesto em frente ao STF.

“Acolhemos o pedido de voltar as nossas bases sociais porque entendemos que ao evocar o instrumento de luta e resistência popular da greve de fome para mobilizar o povo ajudamos a despertar o debate político e forçar o debate com o poder judiciário em sua mais alta instância”, expôs Amorim. No entanto, o militante destacou que o fim da greve de fome não representa um final do que chamou de jornada. “Ao contrário, é uma nova etapa que começa”, sintetizou depois de afirmar que ao longo dos 26 dias do protesto os sete ativistas conseguiram “denunciar a volta da fome, mostrar para o mundo as consequências do golpe, o aumento da violência, o abandono dos mais pobres por parte do estado e o papel que o poder judiciário exerceu para que isso acontecesse”. “O judiciário cumpriu um papel decisivo a favor do golpe e contra o povo, mostramos para todos esses cenários em que se conduziu a judicialização da política e a politização do poder judiciário, o que é incompatível com uma sociedade democrática”, afirmou.

Ainda nos primeiros dias da greve de fome iniciada em 31 de julho, os sete militantes protocolaram onze pedidos individuais de audiência, um para cada ministro do STF. Somente conseguiram ser atendido por três ministros, Ricardo Lewandoeski, Gilmar Mendes e Rosa Weber. A presidente do STF, Carmen Lúcia, que segundo o prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel, recebido em audiência, teria se comprometido em receber os sete grevistas, mas não efetivou sua promessa.

Apesar disto, Amorim destacou ao final do movimento que tão importante quanto dialogar com os ministros do Supremo, foi conquistar a solidariedade ativa da população, que ampliou através de suas redes pessoais as mensagens dos grevistas, que repercutiram quase que exclusivamente pelos canais de mídias progressistas, sendo “propositalmente bloqueados pelos principais canais de comunicação da mídia burguesa”.

O silêncio dos magistrados foi algo que chamou a atenção durante esse período. O jornalista José Carlos Torves, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) chegou a escrever em sua página do Facebook que em visita de solidariedade ao seu amigo Frei Sergio Gorgen, um dos grevistas, teria ouvido o religioso registrar que, mesmo tendo tido contato com magistrados não notou qualquer sensibilidade com a situação e o seguinte desabafo “a vida só sensibiliza a quem lhe dá importância”.

Ato ecumênico em Belo Horizonte

Foto: Agatha Azevedo/Jean Gomes

Foto: Agatha Azevedo/Jean Gomes

O Movimento dos Sem Terra (MST) e a Frente Brasil Popular realizaram na sexta, 24, ato ecumênico em Belo Horizonte, na frente da residência da presidente do STF Carmen Lúcia. A cerimônia foi presidida pela presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs de Minas Gerais (Conic-MG), a pastora luterana Aneli Schwarz e pelo frei Franciscano Kaue Roque de Souza Lima.

Para Ester Hoffmann, do MST, a expectativa de mais essa ação, como os atos que estão se realizando em frente ao Palácio da Justiça de Minas Gerais há cinco dias, foi tornar público a insensibilidade da magistratura brasileira, que presencia pessoas em greve de fome para que “de fato, se cumpra a justiça”. Apesar da recente informação de que o ministro Dias Toffoli, futuro presidente do STF, teria dito ao advogado Marcelo Laveneré, da Comissão Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que só irá colocar em votação no ano que vem as ações que questionam a prisão em segunda instância, Ester afirma a importância do povo continuar mobilizado. “O STF deveria ouvir o clamor do povo, que é muito nítido”, destaca a militante que aponta o casuísmo de só querer discutir a questão após as eleições. “A intenção deles é jogar para o ano que vem para evitar a candidatura do Lula”, sentenciou.

Na semana em que viralizou um vídeo da presidente do Supremo e a Procuradora Geral da República Raquel Dodge cantando Não deixa o samba morrer, ao lado da cantora Alcione, Carmen Lucia sugeriu que os sete grevistas procurassem Dias Toffoli que tomará posse em setembro na presidência do STF. Duas semanas atrás, conforme o ator Osmar Prado e o prêmio Nobel da Paz, o argentino Adolfo Perez Esquivel, a magistrada teria se comprometido a receber os militantes em audiência.

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