MOVIMENTO

Indígenas são atacados logo após resultado das eleições

Aldeias no Mato Grosso do Sul e Pernambuco foram alvo de violência
Por Leonardo Fuhrmann / Publicado em 30 de outubro de 2018

Em Jatobá, no sertão de Pernambuco, uma escola e um ambulatório do Programa de Saúde da Família que atendem a comunidade Bem Querer de Baixo, do povo Pankaruru, foram completamente destruídos no domingo por um incêndio criminoso. Os indígenas temiam por um aumento da violência desde o mês passado, quando posseiros foram retirados pela polícia de suas terras por determinação da Justiça Federal.

Em Caarapó, sul do Mato Grosso do Sul, cerca de 40 caminhonetes fizeram uma carreata no local onde há uma retomada da etnia Guarani Kaiowá, no domingo à noite, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O local é foco de tensão entre fazendeiros e indígenas, Em junho de 2016, um indígena da etnia foi morto e outros seis ficaram feridos depois de um ataque de cerca de 200 homens.

Em Miranda, cidade próxima de Campo Grande, os fazendeiros também soltaram fogos de artifício e fizeram disparos de armas de fogo em direção aos indígenas, após a vitória do candidato do PSL. Ninguém ficou ferido. Os indígenas do município já foram atacados a tiros outras vezes. Em uma delas, em 2014, o líder Paulino da Silva Terena, que já estava incluído no Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, foi baleado, em 2014. Dois ônibus de transporte escolar indígena foram incendiados na localidade, em 2011 e 2013.

Mesmo antes da vitória

Antes de confirmado o nome de Bolsonaro para presidente da República, os movimentos sociais já tinham sido alvos de ataques.

Em Dourados (MS), 15 indígenas ficaram feridos em um ataque a um acampamento ao lado da aldeia Bororo, na madrugada de domingo. Entre eles está uma criança de 9 anos. Os agressores usaram balas de borracha e bolinhas de gude. O ataque só foi interrompido com a chegada da Política Militar.

Ainda no Mato Grosso do Sul, em Dois Irmãos do Buriti (município que também abriga comunidades Terena), a violência atingiu camponeses do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na noite de sábado, homens em uma caminhonete fizeram o ataque o acampamento Sebastião Bilhar, aos gritos do nome de Bolsonaro. Um dos barracos foi incendiado pelos agressores. Com 240 famílias, o acampamento foi criado em julho do ano passado.

Foto: MST

Barraco incendiado em Acampamento

Foto: MST

Durante sua campanha, Bolsonaro atacou os direitos dos povos tradicionais e dos sem-terra. Em 2017, ele já afirmava que não pretende demarcar um centímetro sequer de terra para indígenas e quilombolas. Em 2018, também disse que os sem-terra devem ser enquadrados como terroristas e chamou os integrantes do movimento de “marginais”. “Invadiu? É chumbo!”, afirmou em maio deste ano, durante uma palestra na Associação Comercial do Rio de Janeiro.

*Repórteres do observatório De Olho nos Ruralistas, em parceria com o jornal Extra Classe

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