POLÍTICA

Marun: leal a Temer e Cunha e contra os indígenas

Financiado pelo agronegócio e mandando na Funai do Mato Grosso do Sul, o secretário de Governo da Presidência é acusado de participar de fraudes no Ministério do Trabalho
Por Luís Indriunas* / Publicado em 22 de novembro de 2018

Foto: Wilson Dias/Agencia Brasil

Carlos Marun: ministro da Secretaria de Governo de Temer está sendo investigado

Foto: Wilson Dias/Agencia Brasil

O deputado federal Carlos Marun (MDB-MS) ficou conhecido nacionalmente por sua defesa incansável de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, preso por corrupção. Hoje ministro da Secretaria de Governo, Marun é um dos principais defensores do presidente Michel Temer contra as acusações que o assombram.

É com esse mesmo empenho que Marun defende os fazendeiros envolvidos com a morte de indígenas no Mato Grosso do Sul, enquanto nomeia chefes da Fundação Nacional do Índio (Funai) no estado.

Em sua declaração de bens entregue em 2014 ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o engenheiro Marun informou ter apenas R$ 94 mil – menos do que tinha em 2002, R$ 103 mil – e nenhuma propriedade rural. Nem a casa em Campo Grande (MS), declarada em 2010, está mais no seu nome.

Os negócios da família estão na mão de sua mulher, Luciane Garcia Marun. Ela já foi corretora de imóveis de alto padrão e hoje é proprietária de uma empresa de consultoria empresarial com foco em investimentos. Aberta em 2009, com o nome de Luanda, a empresa cresceu junto com a ascensão política do marido e, em 2016, tornou-se a Brazilian Opportunities Assessoria Empresarial, ou Bropp.

O casal tem usado viagens de missão oficial para apresentar suas propostas empresariais num vastíssimo espectro de atuação, do turismo à siderurgia, passando pelo agronegócio. O setor é responsável por 41% do R$ 1,6 milhão que custeou sua campanha a deputado em 2014.

O deputado recebeu R$ 103 mil da JBS, por meio da campanha para governador de Nelson Trad. Três anos depois, alinhado com Michel Temer, foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da JBS, que investigava os empréstimos  do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao grupo.

Essa comissão foi utilizada para pressões políticas, como a ameaça de indiciar o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por prevaricação. Janot é o autor da denúncia baseada na delação premiada dos donos da JBS que pesa contra Michel Temer.

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), abriu inquérito em setembro para investigar Marun e sua chefe de gabinete, Vivianne Lorenna Vieira, por suspeita de corrupção e associação criminosa no âmbito da Operação Registro Espúrio, que apura um esquema de fraudes no Ministério do Trabalho envolvendo a liberação de registros sindicais. Marun se diz inocente.

Político manda na Funai do Mato Grosso do Sul e apoiou Bolsonaro

Foto: Divulgação

Marun é braço direito de Temer e Cunha e acenou com apoio a Bolsonaro durante a eleição

Foto: Divulgação

Em âmbito nacional, a Funai está sob o comando do líder do governo na Câmara, André Moura (PSC). O órgão no Mato Grosso do Sul vive sob o domínio de Marun, que cria conflitos e mostra desconhecimento das reivindicações e anseios dos povos originários do estado.

Para a coordenação regional de Campo Grande, ele nomeou seu antigo assessor parlamentar Paulo Rios Júnior. O coordenador chegou a dar “certificados para caciques”, afrontando a premissa de autonomia da organização política dos indígenas. Marun defendeu a medida. Em abril, indígenas protestaram reivindicando a saída do atual administrador.

O ministro de Temer tinha tentado emplacar para o cargo o nome do coronel Renato Vida Sant’Anna, que saiu após protestos dos indígenas contra a ameaça de militarização do órgão.

Marun não se candidatou às eleições de 2018, mas foi um dos governistas que apoiaram publicamente Bolsonaro, dizendo que o projeto do capitão reformado se assemelha ao de Temer.

Assim como Temer, Bolsonaro deve continuar a não demarcar “nenhum centímetro” de terra para os povos tradicionais, como prometeu várias vezes durante a campanha.

*Repórter do observatório De Olho nos Ruralistas, em parceria com o jornal Extra Classe

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