GERAL

Trabalho social na floresta

Valéria Ochôa / Publicado em 2 de junho de 1998

Luísa Regina de Araújo, 39 anos, professora de Educação Física e Educação Artística, está há 17 anos no magistério. No dia 9 de dezembro do ano passado, embarcou para a floresta amazônica. Era a primeira mulher gaúcha a fazer parte de uma missão da congregação salesiana na cidadezinha de São Gabriel da Cachoeira, chamada de “capital do alto Rio Negro”, distante 1.200 quilômetros de Manaus. Era também a primeira vez que a professora ia à Amazônia. “Tinha me dado uma tarefa, ser presença viva, positiva na comunidade, ouvir e conversar, trabalhar a religiosidade”, conta Luísa. “Também, discutimos questões como saúde, saneamento básico, alimentação. Neste trabalho, se faz um levantamento das dificuldades da população local”, observa a professora.

Ao chegar em São Gabriel da Cachoeira, fundada em 1657 por jesuítas, a professora diz que teve um choque cultural. “É selva mesmo. A gente vê em fotografia ou filme, mas não consegue imaginar a vastidão do lugar”. A cidade tem 33 mil habitantes – 25 mil moram na zona rural – e mais de 90% são índios. “Fala-se 21 línguas indígenas”, destaca a professora.

Porto-alegrense, Luísa entrou no curso de Educação Física em 1977. Antes trabalhava em uma instituição financeira. No último semestre da faculdade recebeu um convite para trabalhar no Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista (IPA). Descobriu a vocação de ensinar. “Sou apaixonada pelo que faço”. Tanto que, logo fez pós-graduação em Educação Física para excepcionais, Metodologia de Ensino Superior, Psicomotricidade e em Psicopedagogia.

Com 17 anos de sala de aula, Luísa diz que entrou na missão salesiana porque sentia necessidade de desenvolver um trabalho social, pela cidadania. Foi, gostou e tem planos de voltar e ficar mais tempo. “Fui uma das que mais perguntou”, lembra. “Não entendia o porquê da presença de garimpeiros na região, o porquê de tanta miséria, tanta pobreza, o porquê do alcoolismo, da prostituição”. “A situação dos índios não é gratuita. No Brasil, reina uma pobreza de mentalidade enorme, de que não é preciso fazer nada porque eles são índios. Se faz muito pelos militares que estão lá, mas para os índios não. Pelo contrário, eles são violentados”, denuncia. “De repente, me deparei com aquela gente com problemas de moradia, sem ter o que comer porque a caça está escassa, que sofrem uma discriminação enorme”, expõe.

“Aí é que entram as missões”, explica. Segundo ela, a idéia é esclarecer ao indígena a sua própria importância. Desde abril, Luísa faz parte da equipe de animação missionária da Inspetoria Sul da congregação salesiana. “Já me coloquei a disposição de ficar em São Gabriel da Cachoeira auxiliando o centro missionário, aprendendo as línguas Nhengatu e Ianomami.

Em São Gabriel da Cachoeira tem uma escola agrícola e outra que ensina o magistério. “Na maioria das vezes, o índio termina o segundo grau, volta para a aldeia ou fica na periferia da cidade”, relata. “No último caso, muitas vezes, alcoólatra e se prostituindo, sem perspectiva de vida”. Ela acredita que pode colaborar, ajudando o Centro Missionário Salesiano na cidade, com oficinas, palestras. Outra idéia é montar uma biblioteca. “Já que este é o ano dito da educação e da cidadania”. Enquanto não retorna para São Gabriel da Cachoeira, Luísa está trabalhando para mostrar a realidade dos índios da Amazônia. No Colégio Dom Bosco, onde leciona atualmente, montou uma exposição permanente com o artesanato, fotografia e informações sobre os índios.

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