GERAL

Indecisão crônica

Publicado em 21 de maio de 2000

No fica-não fica do ministro Rafael Greca, que se arrastou por meses a fio, mais uma mostra da indecisão crônica do presidente FHC. Perguntado sobre os motivos da demissão, disse que apenas havia aceitado o pedido feito pelo ministro. Perguntado ainda sobre o fiasco das comemorações, Fernando Henrique disse que os fatos não foram decisivos na fritura de Greca. Resta perguntar por que, então, Greca deixou o posto. A pasta, aliás, é só problema. No primeiro mandato de FHC, foi ocupada por Pelé até abril de 1998. Desde então, ficou vaga à espera da extinção.

Programa de auditório

Depois de um 1o de Maio romântico e polpudo, em que foram sorteados cinco apartamentos mobiliados e dez automóveis, a Força Sindical decidiu promover um acampamento com aposentados no próximo dia 10, em Brasília, para pressionar o Congresso a aumentar o valor do salário mínimo. O anúncio foi feito pelo presidente da entidade, Paulo Pereira da Silva. A Força reuniu cerca de 600 mil pessoas em São Paulo num ato muito mais show que ato que custou R$ 1 milhão.

Quick-drop

Levantamento do IBGE apontou que um rico ganha o equivalente a 50 pobres no Brasil. Os 1% mais ricos detêm 13,8% da renda do país, enquanto os 50% mais pobres abocanham 13,5%.

Um final mais que constrangedor

Demorou, mas o ministro do Esporte e Turismo Rafael Greca foi despachado de seu cargo – para alegria de Rita Lee – tão logo encerraram as atividades de comemoração dos 500 anos do Brasil. O fiasco foi total, o que mostra mais uma bola fora do governo ao manter Greca no cargo até passarem as festividades: o que era para ser uma saída honrosa passou a ser uma inevitabilidade constrangedora.

O ministro pouco perdeu com sua manutenção, pois já vem sendo investigado há meses pelo Ministério Público – por conta do seu envolvimento nas irregularidades detectadas no funcionamento dos bingos. O curioso é que o ministro atribuiu sua queda a uma campanha promovida justamente pelo jogo organizado.

Difícil de entender, pois foi com sua gestão e de seus amigos à frente do Indesp (especialmente o ex-diretor de Finanças do órgão, Luiz Antônio Buffara) que os bingos se transformaram em verdadeiros cassinos. Passaram a operar com máquinas caça-níqueis, burlaram constantemente a legislação em vigor, especialmente no que tange ao envolvimento com entidades esportivas, e chegaram a criar uma portaria específica para funcionar sem controle ou fiscalização.

O esquema foi desbaratado pelo Ministério Público, que denunciou o ministro e outros 14 assessores ou indicados por Greca. Antes disso, ele já vinha sendo alvo de investigação no Paraná devido à participação de sua mulher na administração dos Faróis do Saber.

O fato mais constrangedor porém – porque ridículo – foi a construção da réplica da nau capitânea de Cabral. Orçada em R$ 3,8 milhões, ela não navegou devido aos problemas de engenharia naval que apresentou. Mesmo com dois motores a ajudá-la, não conseguiu chegar de Salvador a Porto Seguro (cerca de 200 milhas por mar) para participar das comemorações.

Foi dinheiro público jogado ao mar, assim com parecem ser os R$ 120 milhões destinados à construção de quadras esportivas em 1.088 municípios carentes do país. Cada quadra custa a bagatela de R$ 110 mil, mesmo que não tenham arquibancadas nem infra-estrutura de treinamento. São apenas dois banheiros e cobertura metálica em forma de arco.

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