JUSTIÇA

Jovens fotógrafos da Maré inauguram exposição sobre Direitos Humanos

Mostra coletiva no Museu do Amanhã e roda de conversa discutem como é possível promover os direitos humanos por meio de atividades culturais e ativismo
Por Gilson Camargo / Publicado em 10 de dezembro de 2019
Imagem da exposição Se Essa Rua Fosse Nossa – Nossa voz, nossos direitos, nosso futuro inaugurada na área externa do Museu do Amanhã

Imagem da exposição Se Essa Rua Fosse Nossa – Nossa voz, nossos direitos, nosso futuro, inaugurada na área externa do Museu do Amanhã

Foto: Jacqueline Fernandes/ Observatório de Favelas/ Divulgação

O Centro de Informação das Nações Unidas (Unic Rio) e o Escritório Regional para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh), em parceria com o Observatório de Favelas, comemoram o Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado em 10 de dezembro, com uma exposição fotográfica e roda de conversa com jovens fotógrafos de comunidades cariocas.

As atividades acontecem no Museu do Amanhã e no Palácio Itamaraty, no centro do Rio de Janeiro. Neste ano, o tema da data adotada pela Assembleia Geral da ONU em 1948 é como jovens podem atuar na defesa dos direitos humanos.

A partir das 15h30 desta terça-feira, 10, nove fotógrafos da Maré – bairro carioca da região norte do Rio que “apesar das disputas e conflitos que atravessam o seu território, é solo fértil para projetos, redes e espaços que promovem os direitos humanos por meio de atividades culturais, ativismo e participação”, como assinala a ONU; discutem como é possível promover os direitos humanos por meio de atividades culturais e ativismo.

Durante uma semana, esses jovens participaram de oficinas do projeto Imagens do Povo, ação do Observatório de Favelas que desde 2004 alia a técnica fotográfica à formação crítica em relação a questões sociais e direitos humanos.

Também participam da roda de conversa outros seis fotógrafos do Projeto Favelagrafia, que reúne moradores de favelas que retratam seu cotidiano com imagens.

As fotos dos jovens do Projeto Imagens do Povo pretendem defender os direitos humanos e protagonizar a luta do empenho global para alcançar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), compromisso assumido pelos 193 países-membros da ONU, dentre eles o Brasil

O trabalho dos jovens fotógrafos da Maré está reunido na exposição Se Essa Rua Fosse Nossa – Nossa voz, nossos direitos, nosso futuro, a ser inaugurada às 18h, na área externa do Museu do Amanhã, e que integra o Marketplace de Ideias do Fórum de Educação Não Formal, que acontece nesta semana no Museu do Amanhã. O evento reúne líderes de juventude e é organizado pela Organização Mundial do Movimento Escoteiro, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e Escritório do Secretário-Geral das Nações Unidas para a Juventude.

Os fotógrafos são Thais Povoleri, Rodrigo Patrício Carvalho, Jacqueline Fernandes, Hector Santos, ONTEM (*), Dipreta (*), Carolina Olgador, Antonio Dourado e Matheus Affonso retratam temas como educação, saúde mental, direitos das pessoas LGBT, igualdade de gênero, erradicação da pobreza, entre outros (*nomes artísticos).

A roda de conversa e a exposição fotográficas são realizadas em parceria com o Observatório de Favelas, organização da sociedade civil que tem projetos, programas e práticas voltadas para a superação das desigualdades sociais, atuando em cinco áreas, incluindo direitos humanos.

Violações aos direitos humanos pioram sob Bolsonaro

Em relatório apresentado em setembro à ONU, os deputados Érika Kokay (PT-DF) e Helder Salomão (PT/ES), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM) alertam sobre a falta de compromisso do atual governo com os direitos humanos

Em relatório apresentado em setembro à ONU, os deputados Érika Kokay (PT-DF) e Helder Salomão (PT/ES), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM) alertam sobre a falta de compromisso do atual governo com os direitos humanos

Foto: Marina Lacerda/ Agência Câmara

O Brasil é apontado pelos organismos internacionais, de forma recorrente, como um dos países que mais incorre em violações aos direitos humanos, uma marca que se acentuou sob o governo Bolsonaro, inciado em janeiro deste ano

Ainda em 2017, o capítulo brasileiro do informe anual O Estado dos Direitos Humanos no Mundo, da Anistia Internacional, já apontava “violações no sistema prisional, nas ações de segurança pública que não buscam a preservação da vida nas favelas e periferias, afetando principalmente o jovem negro do sexo masculino; identifica o Brasil como um dos países do mundo com o maior número de defensores e defensoras de direitos humanos assassinados e aponta uma série de retrocessos legislativos já aprovados, outros que ameaçam direitos já adquiridos e as vitórias das mobilizações populares”. Em 2016, o Brasil atingiu a marca de mais de 61 mil homicídios. A maioria dos assassinatos documentados de defensores e defensoras de direitos humanos em todo mundo aconteceram no país. Apenas nos nove primeiros meses de 2017, 62 defensores foram assassinados, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a maioria morta em conflitos por terras e recursos naturais. Entre o dia 1º de janeiro e 20 de setembro, o Grupo Gay da Bahia registrou 277 pessoas LGBTI assassinadas no país, o maior número desde o início da compilação dos dados, em 1980.

O relatório “Direitos Humanos no Brasil em 2019”, apresentado em setembro – portanto antes dos massacres de jovens pela polícia militar na periferia de São Paulo e do Rio de Janeiro – na 42ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, em Genebra, na Suíça, aponta de forma detalhada, em 26 itens, uma série de números e exemplos que mostram a falta de compromisso do atual governo com os direitos humanos, além de não cumprir orientações de organismos internacionais. O relatório organizado pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM) evidencia o quadro extremamente crítico dos direitos humanos no Brasil. O documento da CDHM contextualiza a posição do governo federal diante da própria ONU e transcreve uma declaração do presidente Jair Bolsonaro quando ele ainda era candidato. “Se eu for presidente eu saio da ONU, não serve pra nada esta instituição”. “É uma reunião de comunistas, de gente que não tem qualquer compromisso com a América do Sul, pelo menos” (…) “Conosco não haverá essa politicagem de direitos humanos, essa bandidagem vai morrer porque não enviaremos recursos da União para eles”. Em setembro, quando completou nove meses de governo, Bolsonaro voltou a atacar e desdenhar da luta contra a violação dos direitos humanos: “Quando tem gente que não tem o que fazer, vai lá para a cadeira de Direitos Humanos da ONU”, afirmou no nono mês de exercício do cargo.

O relatório “Direitos Humanos no Brasil 2019” denuncia o caminho inverso do governo federal em relação às recomendações da Revisão Periódica Universal (RPU).

São 26 pontos tratando, por exemplo, do genocídio da juventude negra, letalidade policial e execução sumária; a situação do sistema carcerário e os massacres; extinção dos mecanismos de controle e participação social; violência no campo; desigualdade racial; violência contra as mulheres; redução das políticas de drogas, saúde mental e HIV/Aids e ataques à preservação do meio ambiente.

EXPOSIÇÃO – Confira a seguir imagens da exposição Se Essa Rua Fosse Nossa – Nossa voz, nossos direitos, nosso futuro inaugurada na área externa do Museu do Amanhã. Os fotógrafos são Thais Povoleri, Rodrigo Patrício Carvalho, Jacqueline Fernandes, Hector Santos, ONTEM, Dipreta, Carolina Olgador, Antonio Dourado e Matheus Affonso retratam temas como educação, saúde mental, direitos das pessoas LGBT, igualdade de gênero, erradicação da pobreza, entre outros.

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