AMBIENTE

Abril teve desmate 74% maior do que o recorde na Amazônia

Área de alertas detectada pelo sistema Deter, do Inpe, ultrapassa 1.000 km2 pela primeira vez num mês que ainda é de chuvas
Da Redação / Publicado em 6 de maio de 2022
Garimpo ilegal na Terra Indígena Kayapó, no estado do Pará, Brasil

Foto: Observatório do Clima/Divulgação

Garimpo ilegal na Terra Indígena Kayapó, no estado do Pará, Brasil

Foto: Observatório do Clima/Divulgação

De acordo com o site do Observatório do Clima, no mês de abril, o governo Jair Bolsonaro “dobrou a meta” de desmatamento na Amazônia. Trata-se de um recorde para este período do ano. ‘Em plena estação chuvosa, a área de alertas de desmatamento na Amazônia em abril chegou a 1.012 km2, um número 74% maior do que o recorde anterior da série histórica, batido no ano passado pelo próprio Bolsonaro (580 km2). Comparada à média dos seis anos anteriores para abril, a área de alertas é 165% maior”, diz, em tom de ironia, o press release da ONG ambiental.

O informe afirma esta ser a primeira vez na história do sistema Deter-B, do Inpe, que os alertas mensais de desmatamento ultrapassam 1.000 km2 no mês de abril. Isso é grave porque abril ainda é um mês de chuvas na Amazônia — o último do chamado “inverno” amazônico, quando o ritmo das motosserras naturalmente arrefece. Antes do governo Bolsonaro, era raro um dado mensal de alertas ultrapassar 1.000 km2 até mesmo na estação seca.

O dado de abril se refere a apenas 29 dias. O mês ainda não fechou nas medições do Inpe, o que só ocorrerá na semana que vem. Portanto, o número final será maior que 1.012 km2.

No acumulado do ano até aqui (o Inpe sempre mede o desmatamento de agosto de um ano a julho do ano seguinte), os alertas já chegam a 5.070 km2, 5% a mais do que no ano passado e segundo maior número da série histórica — perdendo apenas para o recorde de 5.680 km2 batido pelo próprio governo Bolsonaro em 2020. Desde agosto passado, os alertas vêm batendo recordes: em outubro, janeiro, fevereiro e agora em abril.

Campeão de alertas

O Estado do Amazonas foi o campeão de alertas pela primeira vez no ano, com Lábrea, no sul do Estado, na primeira posição entre os municípios mais desmatados. Isso se deve à explosão da grilagem na região, por conta da tentativa do ex-ministro da Infraestrutura e hoje candidato ao governo paulista, Tarcício Freitas, de pavimentar na marra a BR-319 (Manaus-Porto Velho). A estrada corta uma das áreas mais intocadas da floresta amazônica e estudos indicam que seu asfaltamento quadruplicará a devastação.

Alertas mensais de desmatamento precisam necessariamente ser olhados com cautela por uma série de motivos. Primeiro, o sistema Deter não é feito para medir área desmatada, e sim para orientar o trabalho do Ibama (que, como é sabido, não tem ocorrido durante o regime Bolsonaro devido ao desmonte do órgão promovido pelo governo). O Deter é ágil, mas seus satélites são “míopes”, sendo incapazes de enxergar pequenas áreas desmatadas. O dado oficial é informado pelo sistema Prodes, mais lerdo, porém acurado, uma vez por ano.

Depois, as detecções mensais do Deter são muito atrapalhadas por nuvens, em especial nos meses de novembro a abril, quando a floresta está debaixo de chuva. Há uma chance grande de o número de alertas de abril incluir desmatamentos dos meses anteriores que não puderam ser vistos pelo satélite por estarem sob nuvens. No fim de cada mês, o Inpe informa o percentual da floresta que estava encoberto. O de abril será conhecido na semana que vem.

Surpresa

A magnitude do dado surpreendeu os técnicos e sinaliza que a taxa de desmatamento de 2022 deverá ultrapassar novamente os 10.000 km2. Não é possível descartar um inédito quinto aumento consecutivo da devastação.

“As causas desse recorde têm nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro. O ecocida-em-chefe do Brasil triunfou em transformar a Amazônia num território sem lei, e o desmatamento será o que os grileiros quiserem que seja. O próximo presidente terá uma dificuldade extrema de reverter esse quadro, porque o crime nunca esteve tão à vontade na região como agora”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

A ONG

O Observatório do Clima foi fundado em 2002, é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com 70 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Desde 2013 o OC publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil.

 

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