MOVIMENTO

Carreata pede o fim da quarentena e de medidas de restrição no Rio Grande do Sul

Mais de cem carros saíram às ruas da capital gaúcha pedindo a retomada da normalidade, mas governador reafirma que se for preciso restringir ainda mais, vai restringir
Por Flavio Ilha / Publicado em 27 de março de 2020
Em carreata no centro de Porto Alegre, empresários protestaram contra as medidas de restrição e quarentena adotadas pelo estado para tentar deter a expansão do coronavírus

Foto: Igor Sperotto

Em carreata no centro de Porto Alegre, empresários protestaram contra as medidas de restrição e quarentena adotadas pelo estado para tentar deter a expansão do coronavírus

Foto: Igor Sperotto

No dia em que 969 pessoas morreram na Itália pelo coronavírus num período de 24 horas, mais de cem carros saíram às ruas de Porto Alegre na tarde desta sexta-feira, 27, para protestar contra as medidas de restrição e quarentena adotadas pelo estado para tentar deter a expansão da Covid-19 no Rio Grande do Sul.

A carreata foi realizada atendendo a um pedido do presidente Jair Bolsonaro que, contrariando as recomendações médicas e científicas, convocou os atos na noite de quinta-feira, 26, por meio da campanha “O Brasil não pode parar”.

Os carros se concentraram no Largo Zumbi dos Palmares, no início da tarde, e percorreram ruas centrais passando pelo palácio Piratini e pela prefeitura de Porto Alegre, seguindo depois para a zona Leste da cidade.

Com bandeiras do Brasil e animados por um carro de som, os manifestantes fizeram buzinaço mas foram impedidos pela Brigada Militar de sair dos veículos ou mesmo parar o trânsito. Dezenas de opositores à carreata protestaram com panelas e gritos de “Fora, Bolsonaro” e “Carreata da morte”, tanto das janelas dos edifícios quanto nas ruas.

Manifestantes usaram máscaras

Opositores à carreata protestaram com panelas e gritos de “Fora, Bolsonaro” nas janelas dos edifícios e nas ruas

Foto: Igor Sperotto

Opositores à carreata protestaram com panelas e gritos de “Fora, Bolsonaro” nas janelas dos edifícios e nas ruas

Foto: Igor Sperotto

Alguns manifestantes, mesmo de carro, usavam máscaras de contenção como forma de evitar contágio pelo novo coronavírus – embora os especialistas contestem a eficácia desse método para quem não é profissional da saúde. Em outros, havia crianças e pessoas idosas – essas, as mais vulneráveis ao contágio.

O ato reuniu essencialmente empresários inconformados com o fechamento do comércio. Cartazes nas janelas dos carros mostravam isso: “Eu pago teu salário”, dizia um deles. “Chega da ditadura dos políticos profissionais” e “O Congresso não se importa com o Brasil”, reclamava outro. Manifestantes e moradores responderam aos gritos de “assassinos”.

Região Metropolitana

Foram registradas carreatas também em algumas cidades da Região Metropolitana e no Vale do Sinos. Em Novo Hamburgo, Sapiranga e São Leopoldo houve concentração e buzinaço.

Em transmissão pela internet, o governador Eduardo Leite (PSDB) rechaçou a possibilidade de relaxar as medidas de contenção e disse que as decisões políticas não podem ser tomadas com base “em achômetro”.

“Compreendo as manifestações e a angústia dos empresários e dos empregadores, mas isso não vai embasar nossas decisões. O mundo todo está tomando as medidas necessárias para não disseminar o vírus. Aqui não vai ser diferente”, disse o governador.

Leite também citou o caso da cidade italiana de Milão, cujo prefeito liderou uma campanha similar há cerca de um mês “com consequências muito graves” e que depois pediu desculpas públicas pelo erro que cometeu. Milão, nos últimos 30 dias, registrou 4,4 mil mortes pelo coronavírus.

Carreata provocou reações indignadas de moradores do centro, que tentavam alertar os manifestantes sobre os riscos de contágio

Foto: Igor Sperotto

Carreata provocou reações indignadas de moradores do centro, que tentavam alertar os manifestantes sobre os riscos de contágio

Foto: Igor Sperotto

“Se for preciso restringir ainda mais, vamos restringir”, assegurou o governador Eduardo Leite

Segundo o governador, a quarentena no estado deve se estender pelo menos até o próximo fim de semana. Leite editou um novo decreto de contingência, adaptando a quarentena às novas determinações federais. Mas limitou a presença de pessoas em cultos religiosos a 25% da capacidade de cada templo, como forma de evitar aglomerações.

“Já que não podem ser fechados, pois o decreto federal os considera essenciais, optamos por essa limitação”, justificou.

O governador também pediu “autoridade e responsabilidade” aos prefeitos para avaliar a situação de cada município em relação à quarentena. Muitos chefes municipais estão sendo pressionados pelos comerciantes locais para ignorar as medidas de contenção em nome da preservação dos empregos locais. No Rio Grande do Sul, desde 10 de março foram registrados 194 casos de Covid-19, 115 deles em Porto Alegre, com duas mortes.

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