EDUCAÇÃO

O pão de cada dia

A professora Milca Souza divide seu tempo entre a docência e a coordenação do projeto Fábrica de Sonhos, que gera trabalho e renda para mulheres em uma comunidade da zona norte de Porto Alegre
Por Gilson Camargo / Publicado em 17 de setembro de 2020
Pães, bolos e quentinhas são feitos nas casas sob a orientação da professora e vendidos na comunidade

Foto: Alexandre Rodrigues/ Divulgação

Pães, bolos e quentinhas são feitos nas casas sob a orientação da professora e vendidos na comunidade

Foto: Alexandre Rodrigues/ Divulgação

A professora Milca, que coordena o projeto Fábrica de Sonhos

Foto: Alexandre Rodrigues/ Divulgação

A professora Milca, que coordena o projeto Fábrica de Sonhos

Foto: Alexandre Rodrigues/ Divulgação

A venda de pães caseiros foi a alternativa encontrada pela ativista social e professora Milca Lopes de Souza, 40 anos, para auxiliar um grupo de famílias do Recanto do Sabiá, no loteamento Timbaúva, zona norte de Porto Alegre a enfrentar a falta de trabalho devido a pandemia.

Seria uma atividade temporária, mas a iniciativa deu tão certo que ela já está procurando um imóvel para instalar uma ONG voltada para a geração de trabalho e renda com a confecção e venda de pães e quentinhas e atividades voltadas para formação e cidadania. A entidade já tem até nome: Fábrica de Sonhos, conta a professora, que atua há mais de dez anos como voluntária nessas comunidades.

Professora da Escola Adventista Viamão (CAV), Milca coordena os clubes Aventureiros Tesourinhos da Terra, para crianças de seis a nove anos, e Desbravadores Timbaúva, que atende a faixa etária dos 10 aos 15, programas universais mantidos pela igreja Adventista. “Eles desenvolvem atividades culturais ligadas à cidadania, valorização da natureza e do ser humano como um todo, da saúde, pra ajudar a gurizada na escola melhorar como filho, como cidadão etc.”, explica.

Quando veio a pandemia, as reuniões presenciais foram canceladas. “Só que os problemas continuam e alguns talvez nem sobrevivam porque onde eles moram o tráfico tomou conta. O limite entre o certo e o errado é bem tênue pra eles”, ressalta.

Moradores organizaram mutirão para construir casas na comunidade

Foto: Divulgação

Moradores organizaram mutirão para construir casas na comunidade

Foto: Divulgação

Desde abril, foram diversas campanhas solidárias, da fabricação de sabões de glicerina à entrega de cestas básicas semanais, passando por mutirões para construir casas. “Começaram a aparecer doações, voluntários ajudaram a fazer casas para o Kauan, de 9 anos, e para a Kimberly, de 12. E durante essas construções, em conversas com a mulherada, surgiu a vontade de ter uma ONG ou qualquer outra forma de organização. A Fábrica de Sonhos já existe no meu coração e algumas pessoas já estão até participando, surgiu a ideia de a gente fazer alguma coisa além da doação de comida”.

O projeto tem três vieses. A confecção e venda do “pão dos sonhos” e da “quentinha dos sonhos”, bolo de pote e cueca-virada, já são realidade. “Temos cinco mães fazendo em casa e as meninas vendendo. A primeira compra de ingredientes eu banquei com meu salário de professora, e disse: ‘agora é com vocês’. Expliquei direitinho como é que se faz o plano de negócios, quanto custa o material, a parte da vendedora, o lucro, como se organizar. São pessoas bem simples, sem estudo. Agora já temos três fornos doados pra ajudar e as coisas estão acontecendo”. O espaço também terá um projeto de alfabetização de adultos e crianças e oficinas. “O terceiro objetivo, que não é menos importante pra mim que sou adventista, é a evangelização”, completa Milca.

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