Dieese completa 65 anos ao lado dos trabalhadores

Foto: Reprodução/Memorial da Democracia

Greve de metalúrgicos na região do ABC paulista. Trabalhadores em assembleia no Estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, em março de 1979

Foto: Reprodução/Memorial da Democracia

Fundado em 1955, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socieconômicos (Dieese) completa 65 anos nesse dia 22. Na sua origem a entidade partiu da decisão de 20 dirigentes sindicais de São Paulo de criar um organismo de assessoria técnica e desenvolver pesquisas e atividades de educação nos ambientes do mundo do trabalho. Hoje são mais de 700 entidades sindicais associadas Brasil afora. É uma história praticamente ininterrupta de apoio aos mais variados segmentos trabalhistas.

Em sua trajetória, a entidade apenas não conseguiu realizar suas funções no ano de 1964, quando devido ao golpe militar houve uma intervenção no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, onde estava sediado.

Foto: Reprodução/Memorial da Democracia

Metalúrgicos da Villares Metals Connect durante paralisação em 1978

Foto: Reprodução/Memorial da Democracia

Resistindo, menos de um ano após o Dieese retornou suas atividades em 1965. Mesmo nos anos de chumbo, o Departamento não mediu esforços em seu apoio ao movimento sindical, fornecendo estudos sobre a então política salarial da época, cada vez mais desfavorável aos trabalhadores.

O ápice da atuação no período se deu em 1977 quando técnicos do Dieese, coordenados à época pelo economista Walter Barelli, denunciaram, que o índice oficial da inflação de 1973 havia sido manipulado pelo governo militar.

A denúncia repercutiu forte na sociedade pois devido à manobra do governo federal houve um forte rebaixamento dos salários. Manifestações operárias por reposição salarial se alastraram pelo país.

Foto: Diesse/DIvulgação

Carolina Maria Ruy, coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical

Foto: Diesse/DIvulgação

Segundo Carolina Maria Ruy, coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical, o Dieese desde sua fundação vive um processo de expansão, consolidação e modernização. “Mas sua história é marcada, principalmente, pela coerência com seus princípios fundamentais: buscar a unidade na ação sindical e servir à Classe Trabalhadora como um poderoso instrumento na clássica luta entre capital e trabalho”, ressalta.

Utilidade Pública

O Dieese é reconhecido como uma instituição de utilidade pública em várias localidades. Atuando nas mais variadas frentes de dados e formação trabalhista, a entidade realiza convênios com governos, organizações internacionais e multilaterais, entre outras.

Desde sua fundação, o Dieese faz pesquisas permanentes que tornam públicas informações sobre salários, mercado de trabalho, custo de vida, perfis de categorias profissionais e de setores, acordos e convenções coletivas, greves, entre outras demandas de seus associados ou conveniados. A entidade também realiza pesquisas especiais sob demanda das mais variadas associações de trabalhadores com temáticas variadas como exemplo perfis socioeconômico de categorias profissionais.

Entre as pesquisas permanentes da entidade estão o Índice do Custo de Vida da cidade de São Paulo (ICV) que é feita desde 1955 para verificar mensalmente a variação de preço de mais de mil itens de consumo.

Já a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA) que teve início em 1959 no município de São Paulo hoje alcança as 26 capitais e o Distrito Federal. São 13 itens essenciais de alimentação que têm o seu valor médio acompanhados.

A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do Dieese que começou a ser realizada em 1985 hoje acontece mensalmente nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e Distrito Federal.

Toda essa gama de informações abastece o Sistema de Acompanhamento de Informações Sindicais (SAIS-Dieese),  banco de dados sobre salários, negociações coletivas e greves que acontecem em todo o Brasil. Os dados são divulgados em intervalos regulares desde a década de 1980.

Políticas públicas e educação

O Dieese ainda promove diversos trabalhos para apoiar ações sindicais em políticas públicas. O foco em geral se relaciona a trabalho, emprego e renda, saúde pública e dos trabalhadores, previdência e seguridade social, qualificação profissional e educação.

Em várias localidades o Dieese criou para cooperar com as várias esferas de governo sistemas de georreferenciamento do mercado de trabalho e de políticas públicas de emprego, trabalho e renda. São os Observatórios do Trabalho. No mesmo espírito, a organização também fomentou o surgimento do Observatório Nacional da Economia Solidária e do Cooperativismo.

Desde a década de 1970, o Dieese  capacita dirigentes sindicais. O Departamento implementou um método próprio de ensino e, atualmente, tem mais de 400 horas preparadas de cursos livres para o movimento sindical.

Em 2012, com a experiência adquirida ao longo dos anos,  o Dieese criou a Escola Dieese de Ciências do Trabalho.

Instituição de ensino superior, a Escola Dieese oferece graduação em Ciências do Trabalho, pós-graduação em Economia e Trabalho e extensão (formação sindical). Entre os cursos oferecidos, assuntos como matemática sindical, negociação coletiva, reestruturação produtiva e setorial, saúde, trabalho, ações sindicais e jornada de trabalho.

Pandemia

Foto: Reprodução/CUT-RS

Ricardo Franzoi, supervisor técnico do Dieese no Rio Grande do Sul

Foto: Reprodução/CUT-RS

Ricardo Franzoi, supervisor técnico do Dieese no Rio Grande do Sul, fala sobre as comemorações de aniversário do Dieese em um ano marcado pela pandemia. “Chegamos a dezembro, firmes, mantendo a equipe em segurança e cumprindo nosso papel histórico de apoio à luta do movimento sindical”, diz.

Para Franzoi, foram várias as conquistas que foram resultados da ação sindical que não paralisou durante a crise sanitaria e que teve sempre ao seu lado o Dieese.

“Impensável que se tenha conseguido mobilizar a proteção social proposta pelas Centrais Sindicais, movimento sociais, parlamentares, governadores e prefeitos, recepcionadas pelo Congresso Nacional sensível ao problema, aprovando um orçamento especial que proporcionou criar um Abono Emergencial de R$ 600 e que protegeu mais de 65 milhões de pessoas; um auxílio salarial que protegeu quase 10 milhões de trabalhadores, além recursos para que as micro, pequenas, médias e grandes empresas resistissem”, declarou.