OPINIÃO

Euro: A Revolução Européia do Capital

MÁRIO MAESTRI *, de Bruxelas (Bélgica)* / Publicado em 28 de março de 1999

Desde o primeiro dia de 1999, 290 milhões de cidadãos, de 11 países da União Européia, vivem em um espaço supranacional regido por uma moeda – o euro. Durante os 36 próximos meses, as diversas moedas nacionais circularão como expressões fracionárias da nova moeda virtual, que as substituirá, fisicamente, a partir de janeiro de 2002.

A criação da moeda única constitui conquista histórica da economia européia. Desde agora, desaparece a pluricentenária conversão monetária quando das trocas entre países integrantes do pacto, estabelecendo-se a transparência quanto aos preços de mercadorias, salários, taxas, etc. Desaparece a especulação monetária entre os países que aderiram ao euro.

O processo de unificação européia nasceu em 1948, no início da Guerra Fria, para criar uma aliança supranacional que se opusesse, em forma mais efetiva, à expansão socialista no Velho Continente. Na época, a URSS emergia como segunda potência mundial e a poderosa Alemanha, derrotada e dividida, iniciava apenas a sua reconstrução.

O euro nasce em cenário radicalmente distinto. A unificação européia realiza-se sob a crescente hegemonia alemã e a nova Rússia capitalista debate-se em crise abismal. Hoje, não é a Leste, mas a Oeste, que o euro encontra seu provável e mais temível adversário.

Expressão da economia de 11 dos quinze países da União Européia, o euro torna-se inevitavelmente moeda internacional de refúgio alternativo a um dólar de comportamento imperial e a um ien abalado pela crise japonesa. Fenômeno que contribui para que a Inglaterra, vista no Velho Mundo como um decalque europeu dos USA, não aderisse, ainda, ao euro.

Há pesadas nuvens no céu de brigadeiro da nova moeda européia. A dura política de austeridade imposta pelos diversos governos às populações nacionais para cumprir as rígidas metas exigidas para participar do lançamento do euro agravou o desemprego e a decadência das condições de vida das populações do continente.

A unificação européia efetuou-se na esfera da circulação das mercadorias, dos trabalhadores e dos capitais e pouco fez quanto à unificação, uniformização e generalização da legislação social e trabalhista. A moeda única periga acelerar a migração das indústrias para as regiões de legislação atrasada, aprofundando a degradação social e ambiental.

O Parlamento Europeu, formado por deputados eleitos nacionalmente, com sede em Strasbourg, na França, e em Bruxelas, na Bélgica, cumpre função sobretudo simbólica, já que detém poucos poderes. O poder real concentra-se no novo Banco Central Europeu, com sede em Frankfurt, na Alemanha, responsável pela política monetária. O inevitável governo dessa instituição, autônoma aos governos e aos parlamentos europeus, pelo grande capital financeiro, sobretudo alemão, tem sido fortemente criticado por parte da esquerda européia.

As graves conseqüências sociais e econômicas da reorganização da Europa, nos anos 80, segundo as receitas neoliberais, determinaram, desde meados dos anos 90, uma radical volta dos socialistas, trabalhistas e sociais-democratas ao governo dos principais países europeus – Itália, França, Inglaterra, Alemanha. As populações européias aguardam ainda os resultados dessa reorientação política.

Durante o mesmo período, com reais resultados, a extrema direita tem procurado galvanizar, através de uma forte retórica nacionalista e xenofóbica, o sentimento de importantes setores populares de estarem sendo afastados crescentemente da gestão, mesmo formal, dos destinos de suas vidas. O prosseguimento de uma unificação européia que se despreocupa com a defesa e melhoria reais das condições de vida da população pode causar graves tensões à democracia do continente, comprometendo o próprio processo de unificação atualmente em curso.

* Mário Maestro é historiador e professor da UPF.

Línguas no ar – HLP, uma base de dados sobre as línguas do mundo na Internet

SANDRA COSTA, de Porto Alegre *

É duro admitir, mas a língua de maior circulação no ar internacional atual não é a nossa, é a deles, o inglês ( língua que se tornou uma espécie de latim dos últimos tempos1. Aconteceu, fatalidade histórica. Fazer o quê? Pelo menos usamos o mesmo alfabeto. É, porém, agradável constatar que o apetrecho de trabalho (polivalente) preferencial nestes últimos tempos tende a ser o computador, principalmente a rede mundial deles (dos computadores, não dos americanos), a World Wide Web. Agradável porque útil: a Internet encurta distâncias e proporciona acesso veloz a conhecimentos especializados numa extensão verdadeiramente oceânica a um custo, em comparação à era pré-rede, ínfimo. Juntando, portanto, fatalidade com utilidade, é possível até mesmo, sim, aprender a língua deles via Internet. Chego, então, finalmente ao ponto: uma página em http//www.june29.com//HLP, a The Human-Languages Page ( graúda base de dados sobre línguas no ar. Se você quiser, ela ensina até curdo. Em inglês, é claro.

Descrição. As páginas da rede costumam ser lógicas. Ilógicos somos nós, de vez em quando, mas isso é um outro assunto. Esta, foi organizada em nove tópicos: Línguas e literatura, Escolas e instituições, Recursos lingüísticos, Produtos e serviços, Organizações, Acréscimos recentes, Empregos e estágios, Dicionários e Aulas de línguas; e permite três formas de navegação: através dos índices de assunto, de um serviço de busca interna por palavra chave e do botão random, que escolhe uma página aleatória dentro da HLP para visitação.

Alguns links: uma espantosa quantidade de dicionários online (português, espanhol, inglês, grego, latim, multilíngues, um dicionário de etimologia de basco, um dicionário mundial de árvores, dicionários de gíria, um glossário de termos poéticos, vocabulário básico do albanês…), enciclopédias, sistemas de tradução, cursos de línguas (indonésio, copta, línguas aborígenes, tupi…). Há uma página sobre a genealogia dos caracteres chineses, oportunidades de trabalho (em companhias aéreas, empresas de tradução), associações de tradutores, programas de intercâmbio para estudantes de segundo grau, departamentos de línguas de universidades, sistemas de intercâmbio de dados entre lingüistas, a PedagoNet (uma página que se apresenta como classificados para auxiliar na troca de material pedagógico, (em http://www.pedagonet.com/ )…

Enfim. Segundo o designer da página, Tyler Chambers, que a colocou no ar em 94, o acervo atual ultrapassa 1800 links e cobre mais de 100 línguas. Você tem noção do que são 1800 links? Algo como 1800 livros, só que cada um deles proporciona acesso a serviços (de correio, compras, etc), e a uma nova lista de livros, que remetem a outros livros, que remetem a outros livros, que remetem a… O futuro chegou.

Esta página recebeu 13 prêmios de excelência. A parte gráfica não é bonita, mas quem se importa? O conhecimento é lindo.

* Sandra Costa é tradutora

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