OPINIÃO

Professores devem garantir a relevância do diploma

Por Mágda Rodrigues da Cunha / Publicado em 13 de agosto de 2009

A decisão do Supremo Tribunal Federal de extinguir a obrigatoriedade do diploma para exercício da profissão de jornalista trouxe à tona um debate bem mais amplo do que se poderia imaginar em um primeiro olhar sobre o fato. O valor do documento legal recebido na conclusão da trajetória acadêmica passou a ser profundamente discutido. Nesses novos tempos em que a desregulamentação de profissões entra na pauta, professores devem refletir sobre qual o seu papel. E se não fizerem esta avaliação, estarão em descompasso com a história.

Afinal, qual a diferença que podemos proporcionar nos espaços e ambientes acadêmicos e nos contatos presenciais, que as modernas e recentes tecnologias e sites, com elevado grau de interatividade, não possam oferecer? Esta pergunta deve conduzir a reflexão docente e não traz nenhum menosprezo à profissão. Ao contrário, evidencia a relevância da atividade que deve ser pautada sempre pelo pensamento crítico, pelo debate, pela compreensão mais dos erros do que dos acertos e pela atuação na formação de cidadãos que possam trazer impacto à sociedade em que vivem. Então, fazemos isso melhor do que qualquer espaço virtual? Nossos alunos aprendem mais conosco do que em qualquer rede social?

No caso específico do jornalismo, recentemente, o Youtube passou a disponibilizar uma área com vídeos que ensinam técnicas jornalísticas. No entanto, o jornalismo é uma carreira multidisciplinar. Os acontecimentos que se desenrolam na sociedade são cada vez mais complexos e os eventos precisam ser analisados sob diferentes perspectivas. Para narrar a realidade é necessário conhecê-la, observar sua construção, contexto e as formas de melhor apurar o fato, investigá-lo e divulgá-lo. O jornalista aprende a ser o guardião da narração eticamente correta a partir das situações reais. O principal produto do jornalismo contemporâneo, a notícia, não é ficção. Os acontecimentos ou personagens das notícias não são inventados, diferentemente do que acontece na arte, que possibilita fazer uso da fantasia, projetar sonhos, construir uma nova realidade. E isso o jornalista só pode aprender na Universidade, através da prática das técnicas adequadas, mas também por intermédio de leitura, do debate e da orientação docente.

A Universidade é o espaço onde o profissional constrói sua trajetória, identifica o acerto, o erro, encontra o caminho da maturidade pessoal e compreende que sua atuação deve trazer resultados à sociedade. Aprende também que suas ações, se não forem bem direcionadas ou orientadas, podem causar sérias consequências a esta mesma sociedade. O papel do professor é fundamental nesse processo. Já concluímos que repetir conteúdos não funciona mais, mesmo que, em muitos momentos, nos vejamos afirmando que este é o desejo dos estudantes.

A consciência docente nessa relação é que vai determinar, em grande parte, a relevância do diploma. E precisamos garantir na mesma proporção a importância da atuação e do papel de um professor nesse contexto. Cada vez mais esse tutor é um facilitador e deve oportunizar a construção do conhecimento. O conceito de que um fala e ensina, enquanto muitos ouvem e aprendem, está caindo por terra, numa sociedade em que as modernas tecnologias energizam o comportamento em rede. Nesse cenário, muitos têm a oportunidade de produzir conteúdo de qualidade. O que a docência pode trazer de novo é a provocação, é o estímulo ao pensamento inovador. Repetir conteúdos é perder para a atualização à velocidade da luz proporcionada pela internet.

Nesses tempos de profunda transformação, jornalistas e educadores devem pensar no seu papel, na sua atitude frente aos seus públicos. Professores devem ser referências positivas no momento em que tanto se fala na ausência de fronteiras e limites. Jornalistas devem oferecer, sim, mais do que a audiência deseja para confirmar o que já conhece. E, somente estudando, pesquisando, conhecendo as técnicas de suas áreas e revisando constantemente suas atuações, é que esses profissionais vão garantir sua relevância junto a uma sociedade que necessita em escala crescente de informação com qualidade e formação superior.

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