OPINIÃO

Aulas de má educaçãofessor, aulas de má educação

Paulo Gaiger * / Publicado em 12 de maio de 2010

Enquanto o conceito de desenvolvimento estiver atrelado ao PIB e às atividades produtivas e lucrativas, a humanidade, em sua grande parte, estará estacionada no shopping da barbárie. Também por isso, as artes, o meio ambiente e a educação não recebem a atenção devida. Não surpreende que, após a eleição do Brasil para sediar as Olimpíadas, ainda carregamos no peito, com boas doses de alienação ou cinismo, a medalha de ouro da maior e sempre pior desigualdade social do mundo. Os benefícios da economia crescente do Brasil não chegam às populações pobres, as que fabricam medalhas.

Quando Lula se colocou em defesa de José Sarney, o godfather do Maranhão implicado em escândalos e corrupção, sua atitude aética apoiou-se na pedra pragmática em que os fins justificam quaisquer meios. É a política venal da permissividade e do esquecimento: ao povo pobre, Bolsa Família; às construtoras, contratos milionários.

Quando leio sobre reuniões e tentativas de acordo entre os partidos políticos para as próximas eleições, parece que o destino do que é público e, portanto, de todos nós, é tramado por patifes e oportunistas, quadrilhas que disputam o butim antes do assalto.

A administração do Estado, historicamente um paraíso para a desfaçatez e a manutenção de privilégios, é covil preferencial de criminosos bem falantes e engravatados, de corporações, empresas, igrejas e latifúndios. A vaca laica tem as partes mais nobres roubadas quando não lhe furtam o leite diariamente. Verbas anunciadas para projetos sociais, muitas vezes chegam aos pobres em forma de caramelos e camisetas. Inauguram-se desenhos de projetos e edifícios em ruínas.

Um professor afetivo, com domínio de conteúdo e com jogo de cintura dificilmente se depara com problemas mais graves de conduta. Mas eles existem. Como agir sobre um aluno que persistentemente impede a aprendizagem dos outros? Não raro, após esgotados os recursos, a escola e os pais desistem, estabelecendo uma crise de autoridade.

A contenda escancarada por cargos e espaços dentro da administração pública revela a ausência de ideias e de políticas públicas, de projetos e programas de desenvolvimento humano, cultural, social e econômico. Diante do vazio de pensamento e de honestidade, é de se perguntar por que desejam ser presidente, governadores e deputados ou por que desejam se manter nos cargos? Alianças deviam se dar em razão de ideias sobre o ser humano e a vida que se deseja; sobre a justiça e a equidade; sobre a educação integral e libertadora; sobre o uso da terra e o meio ambiente; sobre as políticas urbanas e conceitos de progresso; sobre os direitos humanos, gênero e fraternidade.

O mais grave é que adolescentes aprendem mais facilmente os vícios da má educação. Sem dúvida, é fácil enganar e tirar proveito da desgraça alheia, menosprezar as regras, esnobar a justiça e esquecer todos os preceitos éticos. O cinismo e a dissimulação passam a ser valores. Muitos dos políticos candidatos e das elites que eles representam são excelentes professores do desprezo humano, embora, estes e aqueles, como seres humanos, sejam desprezíveis.

* Professor da UFPel, cantor, ator e diretor teatral

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