OPINIÃO

O brincar e as relações humanas

Por Suzana de Paula Rosa / Publicado em 2 de outubro de 2011

Agora está na lei. De acordo com os Referenciais Curriculares Nacionais, de abril de 2010, e Sistema Nacional de Avaliação de Educação Superior (Sinaes), Portaria 808, de junho de 2010, há uma recomendação de infraestrutura para o curso de Pedagogia, Brinquedoteca.

Ao inscrever-me para mais um curso de Brinquedista, desta vez na Universidade de São Paulo (USP), pensei na importância que o brincar tem e na diversidade que essa atividade proporciona ao estreitarmos relações. E, mais uma vez, tive a certeza de que o brincar aproxima as pessoas. Éramos mais de 50 pessoas de diferentes regiões do Brasil em busca de um maior conhecimento sobre o brincar. Os interesses divergiam: brinquedotecas escolares, hospitalares, comunitárias, em centros comerciais, itinerantes… E o mais interessante é que nossas conversas centravam-se em duas palavras: a criança e a importância do brincar. Os palestrantes nos remetiam aos fundamentos de Os quatro pilares da educação, de Jacques Delors, em que a construção do conhecimento está cimentada e entremeada pelo lúdico e sua importância na formação da criança na sociedade contemporânea, pois a ludicidade permite desenrugar, desmembrar, descalcificar as relações estagnadas de um adulto enrijecido para as respostas da vida.

Vimos, inclusive, que há na Europa, uma pesquisa recente acerca do perfil comportamental de assassinos em série devido ao não brincar na infância. Segundo Freud, o lúdico dissipa angústias, proporciona trocas, expõe o ser humano às diversas possibilidades do ganhar e do perder, onde tudo pode, pois é “de brincadeira”, como define o educador Gilles Brougère. Desse modo, a criança vai experimentando a realidade e compreendendo o meio em que está inserida.

As relações de amizade de norte a sul do Brasil permanecem e, mais uma vez, tivemos a certeza de que o lúdico “quebra o gelo” do primeiro encontro, expandindo os diversos falares regionais do nosso imenso Brasil, penetrando nas fronteiras e invadindo os estados com a experiência de mais uma aprendizagem. Pode-se afirmar, portanto, que brincar é realmente muito sério, pois solidifica as relações, enaltecendo a infância e as oportunidades de conhecimento, que podem ser destacadas sob o olhar de um educador atento.

Agradecemos a Freud, Vygotsky, Winnicott, Gilles Brougère, Huizinga, Kishimoto, Nilze Cunha e outros pensadores e ludoeducadores, pois partindo de suas pesquisas e de seus textos conseguimos entender um pouco mais sobre a criança e a importância de um olhar atento às atividades que o espaço lúdico proporciona.

*Professora da Rede Cenec/ Osório. Especialista em Língua Portuguesa
(Fapa e Facos) e Brinquedista (Ufrgs) filiada à Associação Brasileira de Brinquedotecas (ABBri)

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