OPINIÃO

Quem tem medo dos garotos de Bolsonaro?

Por Moisés Mendes / Publicado em 22 de abril de 2020

Foto: reprodução Twitter/ Eduardo Bolsonaro

Foto: reprodução Twitter/ Eduardo Bolsonaro

Eduardo Bolsonaro recorreu ao Supremo para tentar impedir a prorrogação da CPMI das Fake News. Por que tentar barrar a CPMI, se ele sempre disse que não tem nada a temer?

Eduardo quer exercer o poder absoluto dos Bolsonaros em todas as frentes. Se o Supremo ceder, terá vencido mais uma, sem precisar de um cabo e um solado, e sem o jipe, para calar o Judiciário.

Eduardo e o irmão Carluxo são chefes das engrenagens de produção de notícias falsas e das difamações, desde a campanha eleitoral. Agora, têm a estrutura estatal e trabalham dentro do Planalto.

Carluxo tem até gabinete no Palácio e já participou de reuniões do pai com ministros. O outro irmão, o senador Flávio, é o gestor dos negócios da família e também participante do esquema de disseminação de informações falsas.

Há indícios e provas contra eles. Todos agem para tentar expor adversários políticos e ex-cúmplices e massacrá-los pela calúnia. É deles o comando dos grupos que espalham notícias falsas sobre a pandemia.

A rede de fake news é apenas parte do poder dos manos. Os Bolsonaros aparelharam o Estado. Não há nenhum outro grupo mais temido em Brasília do que o dos filhos de Bolsonaro.

Eles sabem da vida de todo mundo, investigam quem querem investigar, demitem generais (seis já foram embora, muitos por interferência dos três), criam estruturas paralelas de ‘inteligência’, escolhem e mandam embora assessores de todos os escalões, interferem na retórica da política externa, atacam a China, insultam e difamam jornalistas (de preferência mulheres), ameaçam o Congresso e o Supremo.

E nada acontece com eles. Porque as instituições também parecem temer os Bolsonaros. Nenhuma outra família teve tanto poder. Nem os Vargas de Getúlio, nem os Sarney, nem os Magalhães de ACM, nem os Collor.

Só a Arábia Saudita tem mais príncipes no poder, mas lá os príncipes às vezes são expurgados. Aqui eles não expõem nem mesmo as desavenças..

Não há no mundo considerado democrático hoje (mesmo que em países com arremedos de democracia, como o Brasil) nenhuma família com o poder dos Bolsonaros.

Em número e tentáculos, talvez só os Bush tenham tido tanto poder, em outra escala, exercido muito mais pela força política e econômica que detiveram enquanto governaram.

Mas os Bolsonaros têm poder no submundo miúdo da política. Têm relações com milicianos. Têm o suporte de uma base militarizada e policialesca. Apoiam grileiros e garimpeiros. Os Bolsonaros levaram o mundo dos fora da lei para Brasília. E nada acontece com eles.

Eduardo recorreu ao Supremo, com boas chances de êxito, porque os Bolsonaros se impõem a tudo e a todos. Eduardo não quer que o avanço da CPMI, passada a pandemia, encontre mais provas de que tem uma estrutura de produção de informações falsas custeada com recursos públicos.

O sentimento generalizado é da impunidade dos Bolsonaros, conquistada pela capacidade de infiltração e aparelhamento em quase todas as áreas do poder, do meio ambiente à educação.

A foto da família, que ilustra esse artigo, é da reunião de pouco antes da participação de Bolsonaro no ato pró-ditadura de domingo em Brasília. Nesse encontro devem ter sido definidos os últimos detalhes do discurso agressivo que Bolsonaro faria logo depois dizendo que não negocia com ninguém.

Os Bolsonaros decidem tudo em família, como nas dinastias, e ninguém os enfrenta, com exceção talvez do Ministério Público estadual do Rio, persistente na investigação das rachadinhas do Queiroz.

A pergunta invertida talvez faça mais sentido: quem não tem medo dos garotos de Bolsonaro?

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