OPINIÃO

Rio Grande do Sul em duas metades

Barbosa Lessa / Publicado em 23 de novembro de 1999

Rio Grande do Sul em duas metades

Ilustração: Schröder

Ilustração: Schröder

Dentre as imagens de nosso passado histórico, vale relembrar aquela vez, por volta de 1880, em que a Metade-Norte da Província de São Pedro começou se queixando de abandono governamental, ergueu protestos na Câmara de Cruz Alta e terminou enviando à Corte o deputado Antônio Gomes Pinheiro Machado para que tentasse obter junto a D. Pedro II a mercê de se tornar uma província autônoma.

Pois agora começa a repetir-se o episódio, por conta da Metade-Sul. Não tenho tido tempo para acompanhar tal questão, mas, caso ela venha a ser encaminhada pelos devidos trâmites, só imagino a trabalheira que vai dar. Antes de mais nada, os legisladores terão de definir claramente a linha divisória entre os dois novos Estados, o do Norte e o do Sul.

Sei que não vai haver maior problema na longa reta desde a foz do rio Ibicuí até alcançar o Médio-Jacuí, mas, na hora de atravessar o Guaíba e se defrontar com Porto Alegre… bah! Por onde dobrar? Em ângulo reto para cima, até o Itaimbezinho e o Mampituba, ou em ângulo reto para baixo, até o porto de São José do Norte?

Nada disso! Seria uma injustiça se Porto Alegre – nossa maior e mais rica cidade – ficasse como uma simples telespectadora, torcendo para o novo Estado X ou o novo Estado Y.

E seria uma tremenda duma mal-agradecida se abandonasse um ou o outro para se entregar inteirinha a um só deles.

Ela precisa se subdividir claramente, para que a linha que vem vindo de tão longe possa cruzar firme e seguir até Viamão e Tramandaí.

Não vim aqui só para criar problema ao poder público, mas, como humilde cidadão, antevejo uma baita confusão quando a população porto-alegrense, até hoje uma e indissolúvel, tiver de optar por X ou Y.

Então, tomo a liberdade de sugerir uma primeira proposta de linha divisória, a partir do momento em que, vinda desde o Ibicuí, ela mergulha no Guaíba e se defronta com os arranha-céus da bela capital.

Proponho que a divisa chegue pelo Hipódromo do Cristal, suba o Morro Santa Teresa (de onde se descortinará o panorama da nova fronteira), desça a Corrêa Lima e vá pela avenida da Azenha até o fim, daí tomando o melhor rumo para Viamão e Tramandaí.

Uma das maiores vantagens desta proposta é a oportunidade de separar geopoliticamente o estádio Beira-Rio e o estádio Olímpico.

Como o Inter e o Grêmio andam meio desacorçoados, precisando de uma força, fantástico impulso receberiam ao se tornarem integrantes permanentes de dois Estados vizinhos que logo se tornariam rivais. O Novo Sul já nasceria como um gigante de duas cabeças.

Aparentemente tão simples, esta medida teria o mérito suplementar de solucionar vários problemas incontornáveis quando chegasse a hora de lançar bonitinhas as duas novas unidades federativas. Senão, vejamos:

Quais os dois hinos que substituiriam o velho “Como a aurora precursora” do antigo Rio Grande do Sul? Mas já estão prontos! E prontas também as bandeiras!

Se algum cidadão não quisesse continuar morando deste lado, era só se mudar para um apartamento mais adiante, no meio da sua torcida. Com tal fim, até a pé nós iremos…

Ou, então, o melhor é deixar assim mesmo como está, sem mexer no nosso velho e querido Estado do Rio Grande do Sul.

 

*Luiz Carlos Barbosa Lessa é jornalista, historiador, folclorista e escritor.

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