OPINIÃO

Não há salvação para Bolsonaro

Por Moisés Mendes / Publicado em 9 de maio de 2019
Presidente Bolsonaro na cerimônia de Assinatura do Decreto da Nova Regulamentação do Uso de Armas e Munições

Foto: Palácio do Planalto

Presidente Bolsonaro na cerimônia de Assinatura do Decreto da Nova Regulamentação do Uso de Armas e Munições

Foto: Palácio do Planalto

Se um líder salvador, um grande mediador de conflitos, aparecesse agora para abreviar o enredo do governo Bolsonaro, a solução encontrada seria apenas aparente. Nada mais assegura um bom final para o governo Bolsonaro.

Mesmo que a reforma da Previdência fosse aprovada, nada se resolveria. Se os generais decidissem anistiar as ofensas a eles dirigidas pelos Bolsonaros, pela voz de Olavo de Carvalho, mesmo assim nada estaria resolvido.

Se a economia reagisse, se os empregos reaparecessem, se as bolsas de estudos fossem devolvidas, e se professores e estudantes superassem as agressões do bolsonarismo, em nome de uma trégua nacional, tudo continuaria como está.

Nada e ninguém consegue salvar Bolsonaro e seus cúmplices. A direita, muito mais do que a esquerda, sabe o que acontecerá com Bolsonaro. Vai acontecer o que se passou com Sarney, com Collor, com Temer.

Acontecerá o mesmo processo de abandono que consumiu Eduardo Cunha e só não consumiu Aécio por causa da sua insignificância no contexto político pós-golpe.

A direita sacrificou todos os que deixam de ter utilidade. Foi assim com aliados aparentemente eternos que fracassaram em suas missões. Foram sacrificados todos os parceiros perdedores do que a própria direita chama de centro.

Mas Bolsonaro não é de centro, nem de direita é. Bolsonaro é da extrema direita. E Bolsonaro passou dos limites do que a própria direita que o acolheu considera razoável.

O compromisso do conservadorismo brasileiro com seus prepostos (incluindo membros da estrutura do Judiciário, empresários, os próprios políticos, a imprensa) vai até o vencimento do prazo de validade.

Parceiros imprestáveis, que não conseguem seguir em frente, que fracassam como representantes do reacionarismo, são largados na sarjeta. Bolsonaro talvez continue com o apoio do Brasil agrário, do latifúndio que desmata e mata, dos grileiros assassinos de índios, das milícias e de parte das polícias. Mas não terá mais o apoio dos ricos e da classe média que o sustentaram como salvação contra as esquerdas.

Um Bolsonaro sem força, enredado na batalha sem fim com os generais com os quais compartilha o poder, não serve à direita. A direita queria Alckmin ou Meirelles, aceitava até Álvaro Dias, mas engoliu Bolsonaro à força, porque não havia outra saída. E agora já pensa em Doria Júnior, em Luciano Huck, em Datena, em Amoêdo, em algum milagre tucano.

Bolsonaro sabe disso, entende que nunca foi a opção da direita que perdeu oito eleições até decidir que a saída seria um golpe. Sem querer, a direita criou os Bolsonaros e levou todos, pai e filhos, ao poder e ao desastre que consome agora os sonhos dos golpistas.

Bolsonaro poderá até cumprir parte do que prometeu à direita, mas nunca mais será uma solução, mesmo que provisória. O projeto prioritário é encontrar uma saída que arrede Bolsonaro de qualquer plano de médio prazo.

Esgotou-se a possibilidade de uma trégua com os militares, com os empresários e com o mercado, A imprensa do liberalismo mundial o detesta. Os democratas americanos e as universidades europeias o consideram um propagador de ódios, discriminações e perseguições.

Bolsonaro pode até conseguir a aprovação da reforma da Previdência. Se conseguir, terá cumprido sua única missão. Para todo o resto, e que resto, será preciso mais do que um Bolsonaro.

A máquina de demolição da direita dará um jeito de se livrar da criatura que falhou pela incapacidade de cumprir com as expectativas de que não deixaria de ser ogro repulsivo, mas que poderia enganar meio Brasil como um falso moderado no poder.

O que virá em seu lugar pode ser outra aberração da democracia. Mas não será nada parecido com Bolsonaro. Até os milicianos cariocas sabem que não há nada no Brasil que possa se assemelhar a Bolsonaro.

 

Moisés Mendes é jornalista e escreve quinzenalmente para o jornal Extra Classe.

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