OPINIÃO

Elas lideram a luta pela democracia

Por Moisés Mendes / Publicado em 15 de agosto de 2022

Elas lideram a luta pela democracia

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Elas lideram a luta pela democracia

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Bruna Brelaz, presidenta da União Nacional dos Estudantes

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Neste artigo, as mulheres têm nome. Poderiam ser apenas números, mesmo que expressivos, mas apenas números.

Eu poderia escrever, por estimativa, que elas foram 80% das figuras com protagonismo no evento pela democracia, na semana passada, diante do prédio da Faculdade de Direito da Ufrgs.

Poderia dizer apenas que, no ato pela democracia na USP, em São Paulo, das quatro pessoas que leram o manifesto contra o fascismo, três eram mulheres. Elas seriam números.

Mas vamos aos nomes, porque as mulheres são as mais vigorosas protagonistas da luta contra a ameaça de golpe.

São delas as vozes que falam mais alto, enquanto muito homem diz me-deixa-fora-dessa. Elas são as mais destemidas.

Vamos então à identidade das mulheres que deram o tom do ato em Porto Alegre, diante da escadaria do prédio do Direito.

Claudia Lima Marques, diretora da Faculdade de Direito; Roberta Baggio, professora de Direito Constitucional da Ufrgs, que fez o papel de mestre de cerimônia; Ana Paula Motta Costa, vice-diretora do Direito.

Maina Ribeiro Pech, representando defensoras e defensores públicos; Adriana Kunrath, vice-presidente da Associação dos Magistrados do Trabalho do RS; Carmela Grüne, pelo Instituto advogados do Brasil.

Cléa Carpi, primeira presidenta do Centro Acadêmico André da Rocha e ex-presidente da OAB/RS; Sulamita Cabral, primeira mulher professora do Direito da Ufrgs; Teresa Cristina Moesch, da Comissão de Defesa do consumidor da OAB.

Marta Barbosa, do Comitê pela Democracia e Estado de Direito e que representou outras 26 organizações; Jessica Moller, dirigente do Centro André da Rocha; Maria Cristina Carrion Vidal de Oliveira, do Sindicato dos Advogados do Rio Grande do Sul.

Beatriz Renck, desembargadora e ex-presidenta do Tribunal Regional do Trabalho; Marília Longo e Marina Gadelha, conselheiras da OAB. Todas, desde o começo da lista, com vínculos com o Direito e/ou com a Ufrgs.

E agora uma frase com três pontos de exclamação: Claudia Lima Marques e Ana Paula Motta Costa são as primeiras mulheres no topo da direção da Faculdade de Direito da Ufrgs!!! Acredite. As primeiras.

E vamos aos nomes do ato em São Paulo. O manifesto pela democracia, que já tem mais de 1 milhão de assinaturas, foi lido por Elisa Bechara, vice-diretora da Faculdade de Direito, e pelas professoras Eunice Aparecida de Jesus Prudente e Maria Paula Dallari Bucci.

Entre elas, no jogral em defesa da eleição, das instituições e da Constituição, apenas um homem, o jurista Flavio Flores da Cunha Bierrenbach, ex-ministro do Superior Tribunal Militar.

Falaram no evento na USP Bruna Brelaz, presidenta da União Nacional dos Estudantes; Telma Aparecida Andrade Victor, secretária de Formação da CUT; Beatriz Lourenço do Nascimento, da Coalizão Negra Pelo Direito; Patricia Vanzolini, presidente da OAB/SP; Neca Setúbal, da Fundação Tide Setúbal; Manuela de Morais, presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto.

Neca Setúbal, filha de banqueiro, da aristocracia paulistana, discursou pela democracia ao lado de Bruna Brelaz, “caboquinha” de Manaus, como ela mesma se define, primeira negra e nortista a assumir a UNE em 85 anos de existência. O dia não era dos homens.

É ampla e irrestrita a base da resistência feminina. Acolhe nomes do Direito, de todas as áreas do conhecimento e das artes, dos sindicatos. E acolhe Anitta.

Cléa Carpi e Sulamita Cabral estão ao lado de Camila Pitanga, Marieta Severo, Maria Rita, Ludmilla, Fernanda Montenegro, Pabllo Vittar, Marisa Monte, Zélia Duncan, Teresa Cristina, Gal Costa, Maria Bethânia, Daniela Mercury.

E todas elas estão ao lado da dona Maria, que vem comendo pele de galinha e cozinhando várias vezes o mesmo osso descarnado para que os filhos sobrevivam até o fim do fascismo.

As mulheres brasileiras nunca foram tratadas com tanta crueldade por um governo que as odeia e maltrata, assim como odeia gays, trans, indígenas, negros e diferentes.

Mas elas resistem, num país de muitos machos acovardados, porque a extrema direita ainda atende seus interesses econômicos mesquinhos.

O fascismo é na essência a ideologia que odeia e teme as mulheres e por isso tenta subjugá-las como figuras subalternas e obedientes dentro de famílias de homens inseguros. A extrema direita quer mulheres obedientes.

Mas os manifestos pela democracia são gerados e multiplicados por elas, no reduto do Direito, em seu mais amplo significado. Elas estão gerando a resistência.

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