POLÍTICA

Começa a caça aos opositores

Menos de 24 horas após a vitória de Bolsonaro, onda de incentivo à denúncia e listagem de intelectuais opositores toma conta do noticiário e das redes sociais dando início ao macarthismo tupiniquim
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 30 de outubro de 2018

Foto: Reprodução Facebook

Deputada de 27 anos quer alunos denunciando professores que considera “doutrinadores”

Foto: Reprodução Facebook

Uma versão verde e amarelo do fenômeno que vigorou nos Estados Unidos sob a regência do senador republicano Joseph McCarthy nos anos 50 começa a contaminar a política brasileira. Postada em grupos de apoio de Bolsonaro no WhatsApp, mensagem convoca seguidores ao boicote de artistas, jornalistas, celebridades e intelectuais que se manifestaram contra a candidatura do “Mito”, como também é chamado o presidente eleito. O caso que chamou mais a atenção foi a da deputada estadual eleita pelo PSL de Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo, que orientou em suas redes sociais alunos a registrarem em gravações de vídeo de celular condutas “ideológicas de professores doutrinadores” insatisfeitos com a vitória do capitão reformado do exército.

Eleita defendendo o projeto Escola sem Partido, Ana Caroline tem 27 anos, é professora de história da rede estadual catarinense e ironicamente se tornou conhecida ao processar sua ex-orientadora de mestrado na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) por “perseguição ideológica”. Como o Primeiro Juizado Especial Cívil de Chapecó considerou improcedente a ação da ex-aluna contra a historiadora Marlene de Fáveri, uma nova ironia agora surge pós-pleito: No estado de Santa Catarina, uma lei impede que alunos entrem em sala de aula com celulares. A nova deputada, alertada de sua gafe, passou a sugerir que os alunos levassem câmaras ou gravadores.

Caça as bruxas

No WhatsApp, o pedido de boicote que circula reúne mais de 700 nomes de artistas e intelectuais, como as atrizes Camila Pitanga e Patrícia Pillar, o médico Dráuzio Varella, a cantora Anitta, os apresentadores Zeca Camargo e Fernanda Lima, os atores Wagner Moura e Alexandre Nero e os cantores Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil

Foto: Reprodução internet

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Mais ostensivo foi o caso dos estudantes da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) que entraram armados na faculdade e anunciaram a chegada da “nova era”, vestindo roupas militares, camisetas homenageando Trump e ameaçando: “As petistas safadas vão ter de tomar cuidado”. Devido ao ocorrido, a direção da FEA-USP já informou que está abrindo sindicância e promete punições. Ainda na USP, um protesto contra a manifestação de 20 pessoas pró-Bolsonaro, a maioria, segundo diretores da instituição, não estudantes da universidade, foi confrontado por cerca de mil alunos.

Na Universidade de Brasilia (UNB) dez manifestantes favoráveis à Bolsonaro que gritavam que “Universidade não é lugar de comunismo” foram repelidos por mais de 200 estudantes aos gritos de “recua, recua” e “fora, fora”.

Em Fortaleza, um professor de sociologia do tradicional Colégio Santa Cecília teve uma recepção acalorada, sob forte aplauso de alunos, porque teve uma aula onde passou o filme Batismo de Sangue , filmada dizendo que era doutrinação comunista. A emoção do professor viralizou ontem nas redes sociais.

A própria deputada eleita Ana Carolina, segundo informou o Ministério Público, teve sua ação questionada e terá sua conduta investigada. A promotoria quer analisar “possível violação ao direito à educação dos estudantes catarinenses para adoção das medidas cabíveis”.

 

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