POLÍTICA

Partidos condenam nota oficial do MEC e prometem recorrer à Justiça

Comunicado foi considerado uma forma de intimidar a legítima participação de estudantes em mobilizações, ferindo a liberdade de expressão
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 31 de maio de 2019
Ministro da Educação Abraham Weintraub, em vídeo divulgado em sua página no Twitter na quinta-feira, 30

Foto: Reprodução Twitter

Ministro da Educação Abraham Weintraub, em vídeo divulgado em sua página no Twitter na quinta-feira, 30

Foto: Reprodução Twitter

A nota oficial emitida pelo Ministério da Educação (MEC) na tarde dessa quinta-feira, 30, dia em que mais uma vez milhares de estudantes e profissionais da educação saíram às ruas em protesto contra os cortes realizados nas instituições de ensino público no país, promete ser mais um problema a ser enfrentado pelo ministro Abraham Weintraub. No comunicado, o MEC afirma que professores, servidores, funcionários, alunos e até mesmo pais e responsáveis “não são autorizados a divulgar e estimular protestos durante o horário escolar”; e orienta que sejam feitas denúncias por meio do site da ouvidoria do Ministério.

Entre as críticas de personalidades do mundo político e cidadão comuns, partidos condenam a atitude e prometem recorrer a Justiça. Nas redes sociais, vídeo onde o ministro aparece com um guarda-chuva ao som de I sing in the rain, aludindo que estava chovendo fake news sobre o MEC rouba cena e gera posts com crítica à postura e aos erros de português de Weintraub.

Para Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que concorreu à presidência pelo PSol nas últimas eleições, em tuíte falou “o ministro da Educação disse que os professores estão ‘obrigando’ os estudantes a ir para as manifestações. Ele não está entendendo nada. É a juventude que está empurrando todos nós para as ruas”. Um pouco antes o próprio Boulos ironizava na sua rede social: “Falar em coação, ninguém foi às ruas defender o fechamento do Congresso. Nem intervenção militar. Nem arrancar faixas em defesa da educação. Você deve ter se enganado de dia” referindo-se a Weintraub e aos atos pró-Bolsonaro no último dia 26.

O Psol protocolou representação contra o ministro da Educação na Procuradoria Geral da República (PGR), logo após o

Nota Oficial do MEC publicada no site do ministério no dia 30 de maio de 2019

Foto: Reprodução site MEC

Nota publicada no site do MEC no dia 30 de maio de 2019

Foto: Reprodução site MEC

conhecimento do comunicado do MEC. Para o partido, a nota comprova que “houve o uso de recursos públicos com o intuito de perseguir e intimidar as manifestações democráticas que estão sendo realizadas hoje e eventuais manifestações que ocorrerão em defesa da educação”.

Já o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) informou que convocará o ministro para que se explique na Câmara dos Deputados sobre o que considera uma intimidação a alunos e professores. De acordo com Molon, Weintraub ameaçou o direito à livre manifestação e “também precisará se explicar sobre o deboche e o desrespeito com que trata a educação e a cultura”.

Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), “o objetivo da nota do MEC claramente é intimidar a legítima participação de estudantes em mobilizações”, disse ao informar que o seu partido vai ingressar com um mandado de segurança, na próxima segunda-feira no STJ contra a medida publicada no site do ministério. Rodrigues ainda falou que, além do mandado de segurança, a Rede deverá utilizar todas as outras ações judiciais cabíveis. “Esta ação é de um autoritarismo atroz, um retrocesso que ofende o artigo 206 da Constituição que estabelece a autonomia universitária”, protestou.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) informou que o partido “entrará com uma representação contra esse senhor que se diz ministro da educação”. A deputada ainda registrou em suas redes sociais: “Ministro da Educação que dança em vídeo institucional com um guarda-chuva e diz ‘HAVIAM emendas’, ministro das Relações Exteriores que diz que a culpa do aquecimento global é por causa dos termômetros… Parece que o Brasil foi tragado para uma realidade paralela bizarra”.

Para a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) “em mais uma atuação autoritária, o MEC diz que professores, alunos e pais ‘não são autorizados a divulgar e estimular protestos durante o horário escolar’. Há apenas um tipo de regime onde cidadãos são proibidos de se manifestarem: ditaduras”.

Cidadãos comuns e personalidades também recorreram as redes para protestar contra a atitude do MEC e de seu titular. Em seu Twitter, o internauta Danilo Tavares disse: “Nenhum ministro da Educação tem a prerrogativa legal de determinar qual protesto um professor considera legítimo divulgar. Que calamidade esse ministério”. Jackson Raymundo preferiu sintetizar: “O ministro da Educação achando que o Brasil já está numa ditadura!”.

Também na rede social, Charles Costa registrou “Tente fazer outra coisa da vida Ministro! Porque se está difícil para você na Educação, imagina na comédia”, fazendo alusão ao vídeo onde o ministro Weintraub faz a performance com o guarda-chuvas.

Felipe Neto, conhecido por ter um dos maiores canais brasileiros do Youtube, ironicamente sugeriu: “Alguém pede pro ministro da educação parar de querer tomar o meu lugar como influenciador mongoloide?”.

Os jornalistas José Trajano e Gilberto Dimenstein também se manifestaram sobre o vídeo de Weintraub. “Ministro da Educação diz em vídeo: ‘haviam emendas’. Onde será que ele aprendeu português”, perguntou Dimenstein. Trajano sintetizou “Como é ridículo e ignorante o Ministro da Educação”.

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