POLÍTICA

Senado substituiu convocação por “convite amistoso” para ouvir Pazuello

Ministro da Saúde participa de sessão temática para prestar esclarecimentos sobre medidas do governo contra a covid-19 – que já produziu 10 milhões de infectados e 235 mil mortos
Por Gilson Camargo / Publicado em 11 de fevereiro de 2021
General que ocupa o Ministério da Saúde na pandemia foi convidado a prestar esclarecimentos sobre medidas do governo contra a covid-19

Foto: Marcos Corrêa/PR

General que ocupa o Ministério da Saúde na pandemia foi convidado a prestar esclarecimentos sobre medidas do governo contra a covid-19

Foto: Marcos Corrêa/PR

Durante a sessão remota que aprovou na quarta-feira, 10, o projeto de autonomia do Banco Central, possivelmente a mais nociva para o país entre as prioridades encomendadas por Bolsonaro ao Congresso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) confirmou a sessão de debates temáticos para esta quinta-feira, 11, às 15h, com a presença do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

O general três-estrelas do Exército que ocupa o Ministério da Saúde foi convidado por senadores para explicar as dificuldades que o país tem enfrentado para agilizar a imunização da população contra a covid-19 e indicar quais medidas estão sendo adotadas pela pasta para promover a vacinação em todo o país. A pandemia já produziu quase 10 milhões de infectados e 235 mil mortes – 1,35 mil óbitos em 24 horas.

Em meio à pandemia, um leigo na Saúde

Em outubro, depois de desautorizar o ministro e suspender a compra da vacina chinesa contra a covid-19, Bolsonaro fez uma visita a Pazuello, que testara positivo para o novo coronavírus e se declarou submisso ao presidente

Imagem: GloboNews/ Reprodução

Em outubro, depois de desautorizar o ministro e suspender a compra da vacina chinesa contra a covid-19, Bolsonaro fez uma visita a Pazuello, que testara positivo para o novo coronavírus e se declarou submisso ao presidente

Imagem: GloboNews/ Reprodução

Autodefinido como um “leigo nas questões técnicas da área da Saúde” e “um executante”, Pazuello entrou em rota de colisão com Bolsonaro uma única vez, tendo se alinhado às diretrizes de negação da gravidade da pandemia adotadas pelo presidente.

Em outubro do ano passado Bolsonaro mandou cancelar um protocolo de importação de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac da China, anunciado pelo ministro em reunião com governadores. Mas o “choque das coisas” durou pouco. Pazuello foi mantido no cargo após declarar subserviência cega a Bolsonaro em uma live. “Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece”, rendeu-se.

Mentiras e omissões

Ao que tudo indica, a não ser pelos questionamentos de senadores da oposição, o militar não deverá ser confrontado com perguntas incômodas na audiência. No cargo desde 3 de junho de 2020, o militar já protagonizou operações fracassadas relacionadas à compra de insumos de vacinas e à crise do oxigênio de Manaus, erros de logística, sonegação de informações, propaganda de medicamentos contraindicados para covid-19, embromação do plano nacional de vacinação.

O governo afirma que o país é o sétimo do mundo em vacinação contra a covid-19, com pouco mais de 3,3 milhões de doses aplicadas. Porém, o site Our World in Data, coordenado por pesquisadores da Universidade de Oxford, mostra que o Brasil fechou os últimos sete dias imunizando em média 0,09% de sua população contra o coronavírus, o que empurra o país para o 49º lugar no ranking mundial de imunização.

A pedido dos deputados Alencar Santana (PT-SP) e Enio Verri (PT-PR), que relataram conduta omissiva do ministro e de seus auxiliares, o procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 23 de janeiro, a abertura de inquérito para apurar a conduta de Pazuello em relação ao colapso da saúde pública em Manaus (AM). No dia 6 de janeiro, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) já havia protocolado na Câmara um pedido de impeachment do ministro.

Frieza e ineficácia

A senadora Rose de Freitas (MDB-ES) fez um requerimento que previa a convocação de Pazuello, o que obrigaria a participação do ministro. No entanto, após apelo do líder do governo, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), Rose substituiu a convocação por convite: “embora não seja essa minha vontade diante da frieza, diante da ineficácia, diante da falta de destreza na administração do conflito que esse país está vivendo”, disse a senadora em entrevista à Rádio Senado.

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