POLÍTICA

Bolsonaro economiza com absorventes, mas não poupa dinheiro com o Centrão

Enquanto o presidente veta ações de forte impacto social, uma série de gastos inócuos sangra a União, sem contar os bilhões em emendas para garantir apoio no legislativo
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 8 de outubro de 2021

Foto: Reprodução/Pexels

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O veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à distribuição gratuita de absorventes para estudantes de baixa renda, mulheres de situação de rua ou de vulnerabilidade  aponta contradições de um governo criticado por sua ausência de visão social. Se de um lado, Bolsonaro alega via de regra a falta de indicação de fontes para o custeio de uma série de iniciativas vetadas, de outro, dinheiro público é drenado em ações nebulosas como os casos dos cartões corporativos usados pela família presidencial ou que acabaram em “zero” proveito para o país, usando as próprias palavras que o mandatário costuma usar.

Para a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), a falta de recurso alegada é imoral diante dos gastos absurdos com as demonstrações públicas do presidente para sua base de apoio. Indica ainda, segundo a parlamentar, que a Emenda Constitucional 95 que instituiu o teto dos gastos públicos “impactou forte a vida da população e das mulheres em particular. Só a perversidade justifica negar absorventes a mais de 4 milhões de adolescentes, por exemplo, que não têm em casa as mínimas condições de higiene, água, saneamento, muito menos o acesso a absorvente”, fala Rosário. Na manhã desta quinta-feira, 7, deputadas da bancada feminina protestaram no Plenário da Câmara e se articulam para derrubar o veto.

Dep. Maria do Rosário PT - RS

Reila Maria/Câmara dos Deputados

Dep. Maria do Rosário PT – RS

Reila Maria/Câmara dos Deputados

Revisão de princípios

Coordenadora da bancada feminina na Câmara, a deputada Celina Leão (PP-DF) ao criticar o veto afirma que o governo tem que revisar seus princípios. “Ele tem que repensar a forma de pensar a mulher no Brasil”, diz.

Um breve levantamento feito por Extra Classe mostra um pouco mais. Se Bolsonaro diz não ter dotação de R$ 84 milhões para atender 5,6 milhões de mulheres carentes, se torna desafiador explicar que só cinco das 12 motociatas em que o presidente participou em seu apoio custaram cerca de R$ 3 milhões à União. Isso sem contar as despesas que ficaram nas contas de estados e municípios.

Outros valores ainda saltam os olhos. Na disputa com o governador de São Paulo, João Dória (PSDB) pela primazia de vacinar o primeiro brasileiro contra a Covid-19, em janeiro passado Bolsonaro jogou fora U$ 500 mil (R$ 2,7 milhões no câmbio atual) em duas tentativas frustrada de buscar imunizantes na Índia.

Universal e Ponte

Em agosto, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) viajou a pedido de Bolsonaro para se encontrar com o presidente de Angola, João Lourenço, para tratar da crise sobre a atuação da Igreja Universal do Reino de Deus naquele país. Mais R$ 1 milhão somaram-se ao custo Bolsonaro. Da mesma forma que o das vacinas, saldo zero. O resultado não foi favorável ao apoiador Edir Macedo.

Também em agosto, Bolsonaro gastou R$ 711 mil para inaugurar no Amazonas uma ponte de 18 metros de comprimento e 6 metros de largura. Detalhe: o valor da obra foi de R$ 255 mil. Na ponta do lápis, a ação midiática do presidente nas proximidades de uma comunidade indígena daria para a construção de quase três passagens similares.

Spray nasal e cartão corporativo

Bolsonaro economiza com absorventes mas não poupa com Centrão

Foto: Isac Nóbrega/PR

Foto: Isac Nóbrega/PR

A cereja no bolo, no entanto foi em março. Uma comitiva patrocinada pelo governo se deslocou para Israel para buscar um possível acordo de cooperação para se produzir um Spray Nasal contra a Covid-19.

A estimativa de custos feitos na época pela imprensa aponta que cerca de R$ 440 mil foram gastos com os 10 integrantes, entre eles o filho 03 do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O valor total não pode ser fechado porque parte da ação foi patrocinada pela Força Aérea Brasileira, que não revela valores efetivados no uso de suas aeronaves, caso da comitiva transportada.

Bolsonaro também tem chamado a atenção no uso de seu cartão corporativo. Tirando os valores destinados a segurança e manutenção do Palácio da Alvorada, os gastos pessoais da família do presidente em viagens e despesas domésticas bateu recorde. Maior gasto desde 2001, R$ 5,8 milhões.

Outros nãos de Bolsonaro

Entre pautas que Bolsonaro vetou ou entrou na justiça para não ter que pagar estão o projeto de lei que facilitava acesso a remédios contra o câncer, o não financiamento de internet para alunos de escola pública. O presidente ainda recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a lei que beneficia incapacitados pela covid-19.

 

 

 

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