POLÍTICA

Jogada ensaiada para privatizar a Petrobras

Na quarta-feira o presidente da Câmara fala em privatização da Petrobras para baixar preços, na quinta o presidente da República engrossa o coro
Por César Fraga / Publicado em 14 de outubro de 2021
Jair Bolsonaro: “já tenho vontade de privatizar a Petrobras, tenho vontade. Vou ver com a equipe da economia o que a gente pode fazer", disse em entrevista à rádio evangélica Novas de Paz, de Pernambuco

Foto: Alan Santos/PR

Jair Bolsonaro: “já tenho vontade de privatizar a Petrobras, tenho vontade. Vou ver com a equipe da economia o que a gente pode fazer”, disse em entrevista à rádio evangélica Novas de Paz, de Pernambuco

Foto: Alan Santos/PR

O presidente da República do Brasil Jair Bolsonaro e seus aliados do Centrão na Câmara dos Deputados viram a oportunidade de transformar a crise de popularidade do governo causada pela alta do gás de cozinha e dos combustíveis – o limão – em privatização da Petrobras – a limonada.

Nesta quinta-feira, 14, em entrevista à rádio evangélica Novas de Paz, de Pernambuco, Bolsonaro (sem partido), reclamou mais uma vez do preço dos combustíveis e de não poder direcionar os preços, alegando “ser crime de responsabilidade”. Em meio às desculpas e se eximindo de qualquer responsabilidade o presidente disse ter “vontade de privatizar a Petrobras”.

“Já tenho vontade de privatizar a Petrobras. Vou ver com a equipe da economia o que a gente pode fazer”, afirmou.

Jogada ensaiada

Na quarta-feira, 13, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que altera a regra sobre o ICMS de combustíveis e prevê a mudança do cálculo do tributo, agora ele é feito com a média do valor dos últimos dois anos. A proposta alega querer baratear o preço da gasolina, e foi bancada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Agora tenta buscar a cumplicidade do Senado, onde a proposta é vista com desconfiança.

Segundo Bolsonaro, o projeto não é o que ele queria, nem o ideal, mas deve ajudar. A expectativa é que com a mudança o preço do combustível reduza em cerca de 7%.

“Não é o projeto ideal, mas eu cumprimento o Arthur Lira, porque ele conseguiu aprovar o que foi possível”, disse. Também na quarta-feira (13), Lira deu uma entrevista em que defendeu a privatização da Petrobras.

“Essa é a pergunta que tem que ser feita: então não seria o caso de privatizar a Petrobras? Não seria a hora de se discutir qual a função da Petrobras no Brasil? É só distribuir dividendos para os acionistas?”, disse o presidente da Câmara em entrevista repercutida na Hora do Brasil, da rádio EBC.

Não é bem assim

O deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) rebate Bolsonaro e Lira: “a alíquota do ICMS não subiu em nenhum estado desde que Bolsonaro assumiu a presidência em janeiro de 2019. Os combustíveis estão caros unicamente pela política de preços adotada pelo próprio Bolsonaro”.

Já para o deputado Zé Neto (PT-BA), “o povo brasileiro sofrendo com dolarização da economia, carestia da cesta básica, que já passa de 30% ao ano, desgoverno crescente, e o fanfarrão do Ministro Guedes foge para os EUA para não esclarecer, na Câmara, quarta-feira, 13 de outubro, seus ganhos de 14 mil por dia em conta offshore”.

Na mesma linha foi o deputado Enio Verri (PT-PR), para ele não é o ICMS o responsável pelo alto valor do combustível, mas a política de preços da Petrobras. “Na verdade, o governo Bolsonaro apresenta um projeto que tenta disfarçar a sua responsabilidade. Se esse projeto fosse aprovado na semana passada, reduzindo em 8% o preço do combustível, nesta semana esses 8% já teriam sumido porque houve novo reajuste”, declarou.

O deputado Coronel Tadeu (PSL/SP) ao mesmo tempo defendeu a estatal e alfinetou o PT: “a culpa do aumento nos combustíveis é a falta de refinarias próprias e a necessidade de importação de combustíveis. “Os combustíveis chegam mais caros nos estados mais extremos porque não há refinarias. O governo petista deveria ter feito refinarias em vez de comprar a centenária Pasadena, nos Estados Unidos, uma bela de uma sucata”, criticou.

Política de combustíveis e manobra eleitoreira

“Bolsonaro não tem a menor ideia do que está falando, privatizar a Petrobras não é saída para o preço dos combustíveis. Empresa privada não abre mão de lucro. A solução é não dolarizar. Quer fugir da responsabilidade e entregar de mão beijada nossa maior estatal”, fustigou a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR).

A deputada Talíria Petrone, líder da bancada do Psol na Câmara discursou no plenário: “Estão vendendo ilusões para o povo brasileiro. Alterar o ICMS nos combustíveis não vai resolver o problema do aumento dos preços. Trata-se de uma manobra eleitoreira dos bolsonaristas para não discutir a política de preços da Petrobras”.

“O dólar alto é uma das principais causas da inflação e da explosão do preço dos combustíveis. E não o ICMS! A dolarização do preço dos combustíveis, política copiada do Temer por Bolsonaro, faz mal ao Brasil. É urgente mudar a política de preços da Petrobras!”, cravou o deputado gaúcho Henrique Fontana (PT).

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