MOVIMENTO

Comunidade escolar reivindica retomada de obras e retorno das aulas no Instituto de Educação

Referência em educação pública de qualidade, instituição da capital gaúcha é alvo de manobra para cessão do prédio histórico a uma empresa privada
Da Redação / Publicado em 3 de dezembro de 2021

Foto: Vinicius Reis/ ALRS

“Não bastasse interromper uma obra que estava indo bem, dizendo que não havia recursos, o governo anuncia R$ 59 milhões, só que as escolas estão abandonadas”, apontou a vereadora Sofia Cavedon (PT), que coordenou a audiência

Foto: Vinicius Reis/ ALRS

Audiência pública promovida pela Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, na manhã desta sexta-feira, 3, no Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa, reuniu autoridades e comunidade escolar para tratar da retomada das obras de restauração do Instituto de Educação General Flores da Cunha (IE) e da volta dos alunos à sede histórica da instituição, situada na Avenida Osvaldo Aranha, em Porto Alegre.

Criado em 1937 como primeira escola de formação de professores do Rio Grande do Sul, o Instituto de Educação, em Porto Alegre, está sendo direcionado pelo governo para a implantação de um museu privado e de um centro tecnológico de formação de professores.

A obra está paralisada desde 2019, mas o início dos trabalhos de recuperação integral do prédio iniciou antes, diante da precariedade das instalações físicas do espaço. A partir de 2016, por ocasião do início dos trabalhos da primeira empresa contratada, alunos, professores e servidores foram instalados longe da estrutura do prédio, em quatro locais distintos. Atualmente o Instituto de Educação atende cerca de 1,2 mil alunos da educação infantil, ensino fundamental, médio e EJA, e cursos “normal” e “normal com aproveitamento”.

Descaso com a educação

Foto: Vinicius Reis/ ALRS

“Queremos nosso prédio de volta, restaurado, modernizado e que foi pensado como escola pública”, reivindicou a diretora do IE

Foto: Vinicius Reis/ ALRS

Em outubro o governador Eduardo Leite (PSDB) anunciou investimentos na instituição, com o objetivo de criar no local o Centro de Desenvolvimento de Profissionais da Educação mediado por Tecnologias e o Museu Escola do Amanhã.

Na audiência, a deputada Sofia Cavedon (PT) avaliou que ao publicar, em novembro, portaria criando um Grupo de Trabalho (GT) para formatar projeto para retomada das obras, o governador “tornou evidente o descaso com a economicidade no serviço público, ao propor alteração de um projeto, licitado e pago”. A parlamentar apontou que as diretrizes do projeto foram elaboradas há oito anos. “Por isso queremos a imediata retomada das obras originais”, explicou.

A iniciativa do governo, na avaliação da deputada, é um profundo desrespeito com a comunidade escolar do Instituto e com a educação do estado. “Não bastasse interromper uma obra que estava indo bem, dizendo que não havia recursos, o governo anuncia R$ 59 milhões, só que as escolas, de forma geral, estão abandonadas. É um descaso e um desrespeito com a educação”, avaliou.

A representante do Movimento de Defesa do Instituto de Educação, Adriana Marcon, assinalou que esse novo projeto, pretendido pelo governo do estado, vai contra o projeto original da obra de restauro do IE, construído com a comunidade escolar. Ela apontou que a divisão da escola em vários espaços traz dificuldades para estudantes, professores e servidores. “Nesses espaços não existem laboratórios, sala de informática, sala de artes, quadras de esportes, nem espaços para prática de educação física e de circulação dos estudantes em seu intervalo de aula”, enumerou.

Com seus 152 anos de existência, o Instituto de Educação é uma referência em educação, ressaltou a diretora da instituição, Alessandra Lemes. “Queremos nosso prédio de volta, restaurado, modernizado e que foi pensado como escola pública”, reivindicou.

Luta em defesa da escola pública

A representante da Comissão de Restauro, Heloisa Rabelo, mostrou-se contra a criação do Museu dentro do prédio do IE. Ela pediu o retorno integral das obras de restauro concebidas pela comunidade escolar.

Heloísa salientou que o retorno dos alunos à sede do Instituto é também uma luta em defesa da escola pública e de qualidade e entregou à deputada Sofia Cavedon cópia do abaixo-assinado endereçado ao governo do estado. O documento reivindica o reinício das obras originais de restauro e contém cerca de 10 mil assinaturas.

O diretor-geral da Secretaria Estadual da Educação (Seduc), Guilherme Corte, por vídeo, insistiu que as obras de restauro serão mantidas e que ao fim da reforma toda a comunidade escolar voltará a frequentar o prédio histórico. Ele anunciou o reinício das obras para a primeira quinzena de janeiro de 2022.

Também se manifestaram na audiência o representante da Secretaria de Obras, Ricardo Todeschini;  a representante do Círculo de País e Mestres da escola, Luciana Assis Brasil; a presidente do Conselho Escolar do IE, Ceniriane Vargas; a aluna Maria Alburquerque;  duas mães de alunos da escola, Tatiana Gomes e Maria da Graça, a professora da Faculdade de Educação da Ufrgs, Laura Fonseca; o presidente da Umespa, Anderson Faria; o representante do Cpers, Alex Sarat; a vereadora Karen Santos (PSol); e o vereador Jonas Reis (PT).

Por vídeo, participaram do ato a deputada estadual Luciana Genro (PSol), as deputadas federais Fernanda Melchiona (PSol/RS) e Maria do Rosário (PT/RS), os vereadores de Porto Alegre, Pedro Ruas (PSol), Leonel Radde (PT) e Matheus Gomes (PSol) e o ex-aluno, Gustavo Spolidoro.

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