SAÚDE

Coronavírus já infectou mais de 45 mil e causou 2,9 mil mortes

Ministro da Saúde relativiza gravidade da pandemia ao anunciar plano de redução do isolamento por regiões e admite que governo não tem como impedir colapso dos sistemas de saúde
Por Gilson Camargo / Publicado em 22 de abril de 2020
Ministros Braga Netto (Casa-Civil), Marcelo Álvaro (Turismo), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e o governador de Brasília, Ibaneis Rocha, participaram de coletiva com o titular da Saúde, Nelson Teich

Foto: Erasmo Salomão/Ascom/MS

Ministros Braga Netto (Casa-Civil), Marcelo Álvaro (Turismo), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e o governador de Brasília, Ibaneis Rocha, participaram de coletiva com o titular da Saúde, Nelson Teich

Foto: Erasmo Salomão/Ascom/MS

Pela primeira vez desde que o ministro da Saúde, o oncologista carioca Nelson Teich, assumiu a pasta mais sensível na crise de governo que derrubou seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, na última quinta-feira, o governo reuniu ministros para falar sobre a pandemia do novo coronavírus. O número de mortes em razão da pandemia do novo coronavírus (covid-19) chegou a 2.906, conforme balanço mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde. Já os casos confirmados subiram para 45.757. O índice de letalidade atingiu 6,4%. Os pacientes que conseguiram se recuperar da doença somam 25,3 mil.

São Paulo concentra o maior número das mortes (1.134), quase três vezes o número do Rio de Janeiro (490). Os demais estados com maior letalidade são Pernambuco (282), Ceará (233) e Amazonas (207). Com os leitos de UTI da rede pública superlotados, falta de insumos, de respiradores, de equipamentos de proteção e de pessoal, Manaus está no limite da capacidade de atendimento às vítimas da Covid-19. De acordo com a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) o Amazonas tem 2,3 mil casos confirmados, mais da metade na capital. O estado notificou mais de 200 mortes pela Covid-19. O cemitério Nossa Senhora Aparecida, no bairro Tarumã, Zona Oeste da capital, aumentou sua capacidade de sepultamentos em 60% nos últimos dias e concentra na entrada caminhões frigoríficos com as vítimas enviadas pelos hospitais públicos.

Hospital de Campanha do Rio-Centro. A capital fluminense está com 93% de lotação dos leitos de UTI da rede pública

Foto: Mariana Ramos/ PMRJ/ Divulgação

Hospital de Campanha do Rio-Centro. A capital fluminense está com 93% de lotação dos leitos de UTI da rede pública

Foto: Mariana Ramos/ PMRJ/ Divulgação

Com os ministro Braga Netto (Casa-Civil), Marcelo Álvaro (Turismo), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e o governador de Brasília, Ibaneis Rocha, o ministro da Saúde participou de coletiva de imprensa no Palácio do Planalto. Rocha adiantou que o DF iniciou a testagem da população e prepara a reabertura do comércio e das escolas. O ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto, anunciou um novo programa de investimento do governo federal, batizado de Pró-Brasil. O objetivo, segundo ele, é gerar emprego e recuperar a infraestrutura do país em resposta aos impactos trazidos pela pandemia do novo coronavírus. O primeiro lote com 500 mil testes para diagnóstico da Covid-19, comprados pelo Ministério da Saúde via Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), chegou nesta quarta-feira ao país. A distribuição aos estados deve começar nesta semana. O lote faz parte dos 10 milhões de testes RT-PCR (biologia molecular) adquiridos pelo ministério por intermédio via Fundo Estratégico da Opas. O restante chegará de forma escalonada, sendo cerca de 500 mil por semana. Os testes foram produzidos pelo laboratório Seegene, da República da Coreia. Teich também confirmou o general Eduardo Pazuello como novo secretário-executivo, cargo que era ocupado por João Gabbardo na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.

DIRETRIZES – De acordo com o ministro da Saúde, as ações da sua pasta envolvem outros ministérios e até a iniciativa privada para enfrentar a crise em decorrência da pandemia. Sem dar detalhes das ações “desenhadas”, informou que o governo montou “uma diretriz para que os estados desenhem seus programas de isolamento e distanciamento”. Adiantou que a entrega do programa está prevista para a próxima semana e que as regras não serão iguais para todos os estados, já que as realidades regionais e o avanço da doença são distintos em cada localidade. Teich afirmou que pela recomendação já anunciada pelo ex-ministro Mandetta, considerando a incidência de casos e a capacidade de atendimento – de pelo menos metade dos leitos, disponibilidade de trabalhadores da saúde e insumos –, seria possível migrar de um distanciamento “ampliado” para “seletivo”, com maior flexibilização e abertura de atividades econômicas. “Afastamento é medida natural na largada. Mas não pode ficar sem um programa de saída. Vamos demorar um ano e meio para ter vacina. O país não pode sobreviver este período parado”.

Ao responder às perguntas de jornalistas, a maioria dirigidas a ele, Teich relativizou a propagação do vírus e reclamou das projeções, que na sua opinião geram “números alarmantes”. Também contestou projeções da comunidade científica, especificamente a modelagem feita em março pelo Imperial College, de Londres. O estudo mostra que, no pior cenário, sem isolamento, o país teria mais de 1,1 milhão de mortos, ante 44 mil se mantido o distanciamento social. “São modelos matemáticos que tentam prever o que vai acontecer”, desdenhou.

Cemitério municipal de Manaus tem 60% mais sepultamentos devido às mortes por coronavírus

Foto: Rede Globo/ Reprodução

Cemitério municipal de Manaus tem 60% mais sepultamentos devido às mortes por coronavírus

Foto: Rede Globo/ Reprodução

IMUNIDADE DO REBANHO – Após afirmar que o número de pessoas infectadas no Brasil “é baixo” se comparado com o total da população, o ministro argumentou que “é impossível para um país sobreviver um ano, um ano e meio parado”. Com base nas taxas de infecção registradas atualmente, ele acredita que “nunca” será alcançado o percentual de 70% da população em contato com a doença. Ele citou o caso do Reino Unido, que inicialmente adotou a “imunidade do rebanho” para enfrentar a pandemia. Essa estratégia considera um cenário em que grande parte da população se tornaria imune após contrair a doença, sinalizou. “A gente hoje tem 43,5 mil casos do coronavírus no Brasil. Se a gente imaginar que pode ter uma margem de erro grande, digamos que a gente tenha aí 100 vezes, isso é só um exemplo hipotético, a gente tá falando em 4 milhões de pessoas. Nós hoje somos 212 milhões. Então, fora da Covid tem 208 milhões de pessoas que continuam com as suas doenças, com os seus problemas, e que têm que ter isso tratado. E o que é que representam, hoje, 4 milhões de pessoas num país como esse? Dois por cento da população”, comparou.

OTIMISMO – Questionado sobre a possibilidade de alastramento do colapso dos sistemas de saúde que já atinge diversos estados devido à flexibilização do isolamento, Teich reiterou que as consequências são imprevisíveis já que sabe muito pouco sobre a doença e admitiu que o governo aposta na sorte. “Primeiro, acredito que não vai acontecer tudo ao mesmo tempo. Segundo, nossa função é fazer isso (o isolamento) dar certo. São variáveis que dificultam o entendimento da doença. A gente vai buscar essa informação para fazer o que é mais adequado para aquela região. Não tem teste em massa. É preciso mapear a população para que a amostra reflita a realidade”. O ministro reiterou que serão adotados testes para diagnóstico e para “ver quem está imune ou não”. Segundo ele, o monitoramento contínuo vai gerar indicadores e a ideia é ter “testes disponíveis, capacidade de testar as pessoas certas, capacidade de interpretar e tomar as ações necessárias em cima do resultado. O que importa não é testar, mas como você conduz a partir do teste. Se acontecer isso aqui, recua. É testar e agir”.

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