SAÚDE

Letalidade do coronavírus aumenta, com 60 vítimas em 24 horas

País tem 319 mortes e 7,9 mil contágios. Bolsonaro recua e sanciona auxílio emergencial para trabalhadores informais, autônomos e sem renda
Por Gilson Camargo / Publicado em 2 de abril de 2020
Lote de 5 mil testes para coronavírus desembarca no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo

Foto: Ministério da Saúde/ Divulgação

Lote de 5 mil testes para coronavírus desembarca no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo

Foto: Ministério da Saúde/ Divulgação

Ao mesmo tempo em que radicalizava os ataques às orientações de distanciamento social feitas pelo seu próprio ministro da Saúde com o pretexto de não deixar a economia parada e a população sem renda, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comunicava, na manhã desta quinta-feira, 2, que não sancionaria o auxílio emergencial de R$ 600,00 para trabalhadores informais, autônomos e sem renda fixa. No início da noite, em coletiva no Palácio do Planalto, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, informou que o presidente tinha acabado de sancionar o projeto de lei da renda básica emergencial que agora será regulamentada por meio de um decreto.

A medida (PL 1066/2020) foi aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado e estava desde o dia 30 de março à espera da assinatura do chefe do Executivo. Depois de anunciar que sancionaria o projeto, Bolsonaro especulou enviara uma medida provisória ao Congresso para a abertura de um crédito extraordinário no Orçamento antes de publicar a sanção do auxílio emergencial. A desculpa do presidente: não passar “um cheque sem fundo” ou incorrer em “crime de responsabilidade”, conforme justificou a simpatizantes e jornalistas no Palácio da Alvorada. Diante dos números da pandemia atualizados à tarde pelo Ministério da Saúde, Bolsonaro recuou. Ainda assim, o mandatário vetou trechos do projeto, apelidado de coronavoucher. A parte suprimida diz respeito ao aumento no limite de renda mínimo para o Benefício de Prestação Continuada (BPC). O texto original aumentava de um quarto de salário mínimo para meio salário em 2021.

Na noite anterior, no entanto, o presidente editava sem hesitação e sem cortes mais uma medida que coloca a corda no pescoço dos trabalhadores. Publicada na quarta-feira, 1º de abril, a Medida Provisória 936 estabelece o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda com a ideia de proteger o emprego e evitar demissões em massa durante a crise do coronavírus. Na prática, permite a suspensão de contratos de trabalho ou a redução salarial e de jornada para reduzir a folha de pagamentos.

Enquanto joga com a sorte dos sem emprego, sem renda, informais e autônomos, Bolsonaro aumenta a chantagem contra as diretrizes de isolamento da OMS adotadas pela equipe do ministério da Saúde, contra quem o presidente se volta diariamente.

No encontro com a claque de fanáticos e desinformados que faz plantão todas as manhãs junto ao cercadinho do Palácio, o presidente incentivou o desabafo de uma mulher que se dizia professora e pedia que o mandatário colocasse o exército na rua e reabrisse o comércio.

Imagem do cemitério de Vila Formosa, em São Paulo, que teve 57 sepultamentos de vítimas da covid-19, estampou capa do Washington Post, com matéria que atribui o aumento da pandemia no Brasil à inação do governo

Imagem: WP/ Reprodução

Imagem do cemitério de Vila Formosa, em São Paulo, que teve 57 sepultamentos de vítimas da covid-19, estampou capa do Washington Post, com matéria que atribui o aumento da pandemia no Brasil à inação do governo

Imagem: WP/ Reprodução

COVAS ABERTAS – O comportamento do presidente brasileiro ao longo da semana foi manchete nos principais jornais e noticiários de tevê internacionais. O norte-americano Washington Post estampou na capa uma foto das covas abertas no cemitério Vila Formosa, em São Paulo, o maior da América Latina, que no dia 1º teve 57 sepultamentos de vítimas fatais pela covid-19. A matéria mostra a crise provocada pela “inação federal”, como o jornal descreve o modo temerário como Bolsonaro – e o gabinete do ódio – vem lidando com a pandemia do novo coronavírus.

Um levantamento da Universidade John Hopkins, dos Estados Unidos, divulgado nesta quinta-feira estima que o número de casos confirmados de covid-19 no mundo superou a marca de 1 milhão, com 50 mil mortes. O relatório mostra a evolução do contágio em todos os países com casos confirmados e constata que o número de infectados aumentou mil por cento desde 2 de março, quando eram 92 mil positivados.

No país, a infestação e as mortes aumentam diariamente. O Ministério da Saúde atualizou nesta tarde as estatísticas do coronavírus nas últimas 24 horas. Foram quase 60 mortes nas últimas 24 horas, totalizando 299 até às 17h – e aqui não estão contabilizadas as notificações feitas a partir desse horário pelas secretarias estaduais da Saúde. A Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, por exemplo, notificou às 19h mais 20 mortes que estavam em investigação e foram confirmadas pela força-tarefa, ampliando a estatística nacional para 319 óbitos. Até agora, são 7.910 casos confirmados da doença, sendo 1.074 desde a tarde de quarta-feira. A taxa de letalidade da covid-19 também aumentou, de 3,5% para 3,8%. São Paulo é o estado com o maior número de pessoas com diagnóstico confirmado. São 3.506 contágios e 208 óbitos. O Rio de Janeiro tem 992 casos e 41 mortes.

EMERGÊNCIA EM PORTO ALEGRE – O Rio Grande do Sul registrou 334 pessoas contaminadas e cinco mortes. Com 208 casos, Porto Alegre é a primeira capital a obter o reconhecimento da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil para a doença e teve reconhecida pelo governo federal um pedido de decretação de situação de emergência pelo prefeito Nelson Marchezan Junior (PSDB) no dia 18 de março. Com isso, passa a ter acesso a recursos federais e a usufruir de benefícios como dispensa licitatória, reorganização orçamentária, liberação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Forças Armadas promovem ação de desinfecção no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), uma das medidas adotadas para prevenir a contaminação pelo novo coronavírus

Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Forças Armadas promovem ação de desinfecção no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), uma das medidas adotadas para prevenir a contaminação pelo novo coronavírus

Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

CAPACITAÇÃO – Outra portaria publicada nesta quinta-feira pelo governo federal traz recomendações aos gestores e trabalhadores da assistência social para garantir a continuidade de serviços e atividades essenciais, com medidas e condições que garantam a segurança e a saúde dos usuários e dos profissionais, em meio à pandemia de covid-19. A orientação se estende a todo o Sistema Único de Assistência Social (Suas) dos estados, municípios e do Distrito Federal. De acordo com nota técnica da Secretaria Nacional de Assistência Social, essas recomendações permitem articular com a área da saúde uma avaliação cotidiana da evolução da pandemia e das medidas a serem adotadas com as populações em situação de rua e de vulnerabilidade social.

Já o ministério da Saúde anunciou a capacitação de profissionais da área de saúde nos protocolos clínicos oficiais de enfrentamento à pandemia por meio de cursos a distância. Serão mobilizados profissionais das áreas de serviço social, biologia, biomedicina, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia e terapia ocupacional, fonoaudiologia, medicina, medicina veterinária, nutrição, odontologia, psicologia e técnicos em radiologia. Na quarta-feira, a pasta passou a cadastrar alunos de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia para atuar no enfrentamento ao novo coronavírus, com bolsa de até R$ 1.045

Laboratórios agropecuários poderão atuar no diagnóstico

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alterou por seis meses o regulamento técnico para funcionamento de laboratórios clínicos. A medida, em caráter excepcional, permitirá a participação de laboratórios federais de defesa agropecuária, vinculados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), na rede de laboratórios aptos a realizarem análises para o diagnóstico de covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. A medida abrange os laboratórios de Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo. Além das unidades de defesa agropecuária, há os laboratórios da Embrapa e da Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira (Ceplac). Os laboratórios estão distribuídos em 42 instalações localizadas em 19 estados e 27 cidades.

Comentários