Letalidade do coronavírus aumenta, com 60 vítimas em 24 horas

Foto: Ministério da Saúde/ Divulgação
Lote de 5 mil testes para coronavírus desembarca no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo
Foto: Ministério da Saúde/ Divulgação
Ao mesmo tempo em que radicalizava os ataques às orientações de distanciamento social feitas pelo seu próprio ministro da Saúde com o pretexto de não deixar a economia parada e a população sem renda, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comunicava, na manhã desta quinta-feira, 2, que não sancionaria o auxílio emergencial de R$ 600,00 para trabalhadores informais, autônomos e sem renda fixa. No início da noite, em coletiva no Palácio do Planalto, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, informou que o presidente tinha acabado de sancionar o projeto de lei da renda básica emergencial que agora será regulamentada por meio de um decreto.
A medida (PL 1066/2020) foi aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado e estava desde o dia 30 de março à espera da assinatura do chefe do Executivo. Depois de anunciar que sancionaria o projeto, Bolsonaro especulou enviara uma medida provisória ao Congresso para a abertura de um crédito extraordinário no Orçamento antes de publicar a sanção do auxílio emergencial. A desculpa do presidente: não passar “um cheque sem fundo” ou incorrer em “crime de responsabilidade”, conforme justificou a simpatizantes e jornalistas no Palácio da Alvorada. Diante dos números da pandemia atualizados à tarde pelo Ministério da Saúde, Bolsonaro recuou. Ainda assim, o mandatário vetou trechos do projeto, apelidado de coronavoucher. A parte suprimida diz respeito ao aumento no limite de renda mínimo para o Benefício de Prestação Continuada (BPC). O texto original aumentava de um quarto de salário mínimo para meio salário em 2021.
Na noite anterior, no entanto, o presidente editava sem hesitação e sem cortes mais uma medida que coloca a corda no pescoço dos trabalhadores. Publicada na quarta-feira, 1º de abril, a Medida Provisória 936 estabelece o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda com a ideia de proteger o emprego e evitar demissões em massa durante a crise do coronavírus. Na prática, permite a suspensão de contratos de trabalho ou a redução salarial e de jornada para reduzir a folha de pagamentos.
Enquanto joga com a sorte dos sem emprego, sem renda, informais e autônomos, Bolsonaro aumenta a chantagem contra as diretrizes de isolamento da OMS adotadas pela equipe do ministério da Saúde, contra quem o presidente se volta diariamente.
No encontro com a claque de fanáticos e desinformados que faz plantão todas as manhãs junto ao cercadinho do Palácio, o presidente incentivou o desabafo de uma mulher que se dizia professora e pedia que o mandatário colocasse o exército na rua e reabrisse o comércio.

Imagem: WP/ Reprodução
Imagem do cemitério de Vila Formosa, em São Paulo, que teve 57 sepultamentos de vítimas da covid-19, estampou capa do Washington Post, com matéria que atribui o aumento da pandemia no Brasil à inação do governo
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COVAS ABERTAS – O comportamento do presidente brasileiro ao longo da semana foi manchete nos principais jornais e noticiários de tevê internacionais. O norte-americano Washington Post estampou na capa uma foto das covas abertas no cemitério Vila Formosa, em São Paulo, o maior da América Latina, que no dia 1º teve 57 sepultamentos de vítimas fatais pela covid-19. A matéria mostra a crise provocada pela “inação federal”, como o jornal descreve o modo temerário como Bolsonaro – e o gabinete do ódio – vem lidando com a pandemia do novo coronavírus.
Um levantamento da Universidade John Hopkins, dos Estados Unidos, divulgado nesta quinta-feira estima que o número de casos confirmados de covid-19 no mundo superou a marca de 1 milhão, com 50 mil mortes. O relatório mostra a evolução do contágio em todos os países com casos confirmados e constata que o número de infectados aumentou mil por cento desde 2 de março, quando eram 92 mil positivados.
No país, a infestação e as mortes aumentam diariamente. O Ministério da Saúde atualizou nesta tarde as estatísticas do coronavírus nas últimas 24 horas. Foram quase 60 mortes nas últimas 24 horas, totalizando 299 até às 17h – e aqui não estão contabilizadas as notificações feitas a partir desse horário pelas secretarias estaduais da Saúde. A Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, por exemplo, notificou às 19h mais 20 mortes que estavam em investigação e foram confirmadas pela força-tarefa, ampliando a estatística nacional para 319 óbitos. Até agora, são 7.910 casos confirmados da doença, sendo 1.074 desde a tarde de quarta-feira. A taxa de letalidade da covid-19 também aumentou, de 3,5% para 3,8%. São Paulo é o estado com o maior número de pessoas com diagnóstico confirmado. São 3.506 contágios e 208 óbitos. O Rio de Janeiro tem 992 casos e 41 mortes.
EMERGÊNCIA EM PORTO ALEGRE – O Rio Grande do Sul registrou 334 pessoas contaminadas e cinco mortes. Com 208 casos, Porto Alegre é a primeira capital a obter o reconhecimento da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil para a doença e teve reconhecida pelo governo federal um pedido de decretação de situação de emergência pelo prefeito Nelson Marchezan Junior (PSDB) no dia 18 de março. Com isso, passa a ter acesso a recursos federais e a usufruir de benefícios como dispensa licitatória, reorganização orçamentária, liberação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
Forças Armadas promovem ação de desinfecção no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), uma das medidas adotadas para prevenir a contaminação pelo novo coronavírus
Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
CAPACITAÇÃO – Outra portaria publicada nesta quinta-feira pelo governo federal traz recomendações aos gestores e trabalhadores da assistência social para garantir a continuidade de serviços e atividades essenciais, com medidas e condições que garantam a segurança e a saúde dos usuários e dos profissionais, em meio à pandemia de covid-19. A orientação se estende a todo o Sistema Único de Assistência Social (Suas) dos estados, municípios e do Distrito Federal. De acordo com nota técnica da Secretaria Nacional de Assistência Social, essas recomendações permitem articular com a área da saúde uma avaliação cotidiana da evolução da pandemia e das medidas a serem adotadas com as populações em situação de rua e de vulnerabilidade social.
Já o ministério da Saúde anunciou a capacitação de profissionais da área de saúde nos protocolos clínicos oficiais de enfrentamento à pandemia por meio de cursos a distância. Serão mobilizados profissionais das áreas de serviço social, biologia, biomedicina, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia e terapia ocupacional, fonoaudiologia, medicina, medicina veterinária, nutrição, odontologia, psicologia e técnicos em radiologia. Na quarta-feira, a pasta passou a cadastrar alunos de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia para atuar no enfrentamento ao novo coronavírus, com bolsa de até R$ 1.045
Laboratórios agropecuários poderão atuar no diagnóstico
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alterou por seis meses o regulamento técnico para funcionamento de laboratórios clínicos. A medida, em caráter excepcional, permitirá a participação de laboratórios federais de defesa agropecuária, vinculados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), na rede de laboratórios aptos a realizarem análises para o diagnóstico de covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. A medida abrange os laboratórios de Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo. Além das unidades de defesa agropecuária, há os laboratórios da Embrapa e da Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira (Ceplac). Os laboratórios estão distribuídos em 42 instalações localizadas em 19 estados e 27 cidades.