SAÚDE

Pazuello defende o isolamento social e a autonomia de estados e municípios no combate a pandemia

O Ministro Interino da Saúde também reconheceu que é importante contar com a participação da imprensa “para fazer chegar informações corretas aos lugares de mais difícil acesso no país”
Por Gilson Camargo / Publicado em 10 de agosto de 2020
Pazuello: “Não é um número. Todos os dias sofremos as perdas

Foto: Ministério da Saúde/ Divulgação

Pazuello: “Não é um número. Todos os dias sofremos as perdas

Foto: Ministério da Saúde/ Divulgação

Enquanto as informações fornecidas pelas secretarias estaduais de Saúde mostravam que a Covid-19 já provocou 101.269 mortes e contaminou mais de 3 milhões de brasileiros até a tarde desta segunda-feira, 10, o ministro interino da Saúde, general da reserva do Exército Eduardo Pazuello, pedia a renúncia às diferenças partidárias e ideológicas no combate à pandemia. O militar comparou a crise sanitária a uma hemorragia e disse que o país “precisa entender como parar o sangramento”.

Em um pronunciamento que diverge da conduta e das declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que nega a gravidade da pandemia, faz uso político de medicamentos e pressiona pela abertura das atividades econômicas, Pazuello defendeu o isolamento social e a autonomia de estados e municípios na gestão de medidas preventivas e de isolamento.

Pazuello destacou que cabe aos municípios e estados a gestão de medidas preventivas e de afastamento social. Alertou que todas têm o apoio do governo, mas precisam ser seguidas de ações para identificar o diagnóstico da população. “Medidas preventivas e afastamento social são medidas de gestão dos municípios e estados, e nós apoiamos todas elas, porque quem sabe o que é necessário naquele momento precisa de apoio, e nós apoiamos”, disse.

Eduardo Pazuello, que responde pela pasta desde maio, quando o governo passou a omitir as informações sobre a evolução da pandemia da página do ministério, reconheceu que é importante contar com a participação da imprensa “para fazer chegar informações corretas aos lugares de mais difícil acesso no país”.

Campo de batalha

As declarações do ministro ocorreram durante a cerimônia de inauguração da Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19, na sede da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na zona norte do Rio de Janeiro. O ministro comparou a crise sanitária a um campo de batalha.

“Estamos em um esforço de guerra, lutando contra uma pandemia. O Orçamento (da União) que foi liberado é um orçamento de guerra. Quando as empresas aceitam as requisições de equipamentos e materiais isso é esforço de guerra. Quando a mídia chega conosco para, juntos, aumentarmos a capacidade do país em chegar ao mais longe rincão, levando a informação correta e necessária, estamos todos juntos nessa missão. Não existem, neste momento, diferenças partidárias ou ideológicas. Somos todos brasileiros combatendo, dia a dia, da melhor forma para que não haja mais mortos em nosso país”, discursou.

Covid-19: Fiocruz amplia capacidade nacional de testagem

Foto: Itamar Crispim/Fiocruz

Covid-19: Fiocruz amplia capacidade nacional de testagem

Foto: Itamar Crispim/Fiocruz

A nova unidade da Fiocruz vai ampliar a capacidade nacional de processamento de testes moleculares para detecção da covid-19 e está equipada com plataformas automatizadas.

Em pleno funcionamento, a unidade terá a capacidade de liberar até 15 mil resultados de testes moleculares por dia. O ministro destacou que a testagem inclui o acompanhamento e compreensão das curvas de casos, uma vez que o diagnóstico já foi feito anteriormente pelo médico. E acrescentou que dessa forma vai ser possível parar o sangramento que representam as mortes diárias pela Covid-19.

Quatro dias de luto

Os recordes de mortes por Covid-19 atingido no último sábado, que mereceram manifestações do Congresso, com a decretação de quatro dias de luto pela Câmara e pelo Senado, não teve qualquer manifestação oficial por parte do Palácio do Planalto. Na cerimônia, Pazuello fez uma referência consternada aos milhares de óbitos e acenou para uma eventual mudança de postura do governo em relação à pandemia.

O ministro recomendou que as pessoas que tiverem sintomas da doença que não esperem a situação se agravar para buscar atendimento. Segundo ele, não está correto ficar em casa até passar mal, com sintomas de falta de ar. Esse protocolo já foi alterado pelo Ministério da Saúde, explicou.

“Isso não funciona, não funcionou e deu no que deu. Nós, há dois meses, já mudamos esse protocolo. A qualquer sintoma, procure imediatamente a unidade básica de saúde, as triagens da UPA, procure o médico, que tem poder soberano de diagnosticar de forma clínica e epidemiológica, com exame laboratorial, com exames de imagens e testes para definir o diagnóstico”, aconselhou.

Líderes da oposição apontam omissão de Bolsonaro

Os líderes da Oposição, André Figueiredo (PDT-CE), e da Minoria, José Guimarães (PT-CE), na Câmara dos Deputados, lamentaram as mortes, acusaram o presidente Jair Bolsonaro de ser omisso e de minimizar a gravidade da doença e se solidarizaram com as famílias que perderam parentes na luta contra o coronavírus.

Figueiredo disse ainda que o presidente deverá ser condenado pela justiça brasileira e por órgãos internacionais. “Bolsonaro vai terminar sua vida política na cadeia. É vergonhoso ter um presidente que não se solidarize com as mais de 100 mil famílias enlutadas e não tenha responsabilidade de fazer com que o povo não sofresse tanto”, acrescentou.

A líder do PSol, deputada Fernanda Melchionna (RS), criticou o fato de Bolsonaro ainda não ter nomeado um novo ministro da Saúde desde a saída do médico Nelson Teich, no dia 15 de maio. “Não é nenhuma novidade que esta é a pior pandemia que a nossa geração já enfrentou, mas o problema é que Jair Bolsonaro decidiu combater a ciência e não o vírus”, criticou. A pasta é ocupada interinamente pelo general Eduardo Pazuello.

O líder do PT, deputado Enio Verri (PR), disse que Bolsonaro vem atuando com negligência e omissão e o culpou pela maior parte das 100 mil mortes. “Mortes de histórias, amores, pais, mães, filhos, amigos… Mortes que poderiam ter sido evitadas, se o Brasil fosse governado por um presidente que tivesse interesse nele.”

Para o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), ao tratar a Covid-19 como uma “gripezinha e reagir com desprezo e deboche diante das mortes no Brasil, Bolsonaro descumpre a Constituição e rasga o juramento que fez aos brasileiros”.

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