SAÚDE

Triplicou o número de mortes de enfermeiros no Brasil em três meses

Sobe para 350 o número de óbitos por covid-19 entre enfermeiros e já morreram 217 médicos durante a pandemia do novo coronavírus; ato em Porto Alegre pede mais testagem de profissionais de saúde
Por César Fraga / Publicado em 11 de agosto de 2020
Triplicou o número de mortes de enfermeiros no Brasil em três meses

Foto: Bruno Cecim/Ag Pará/Fotos Públicas

os casos confirmados de Síndrome Gripal por Covid-19, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os que mais são contaminados são os técnicos e auxiliares de enfermagem (62.633), seguidos dos enfermeiros (26.555) e médicos (19.858)

Foto: Bruno Cecim/Ag Pará/Fotos Públicas

De acordo com informações do conselho Federal de Enfermagem (Cofen) publicadas no site da Central Única dos Trabalhadores (CUT), na tarde desta terça-feira, 11, quase triplicou o número de mortes de enfermeiros durante a pandemia. Os dados são do Observatório da Enfermagem, site criado pelo Cofen para concentrar os números de infectados, mortos e internados. Conforme o Observatório, pelo menos 9 profissionais morreram em menos de 24 horas, elevando de 341 para 350 o número de óbitos na categoria no país.

Em maio, o país registrava 130 óbitos e o Brasil já era recordista mundial. “A triste e desonrosa – para o país – medalha de ouro ainda é nossa”, diz o Cofen em nota.

Os Estados Unidos e a Itália, países que foram epicentros da pandemia do novo coronavírus, juntos, registraram 204 óbitos de enfermeiros, segundo dados de julho do National Nurses United e Federação Nacional dos Enfermeiros da Itália (FNOPI).

Foi o caso do trabalhador do Serviço de Assistência Especializada de Porto Velho, em Rondônia, e membro do Conselho Regional de Enfermagem do estado, Raimundo Socorro Lopes Lamarão, faleceu na noite desta segunda-feira, 10, vítima da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

“A negligência do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) gera comportamentos de risco na sociedade, que tem a sensação de que a doença não é tão grave e intensifica o afrouxamento do isolamento social. Isso aumenta o risco do número de óbitos e casos da doença entre a população e com isso os profissionais de saúde ficam mais expostos, se contaminam e morrem mais”,  afirma o diretor do Cofen e enfermeiro em Brasília, Gilney Guerra. Para ele, se o país tivesse mais investimento no Sistema Único de Saúde (SUS) estes números seriam bem menores.

SUS sucateado antes da pandemia

“Só agora muitas pessoas entenderam o valor do SUS, que mesmo sucateado tem sido determinante para salvar vidas. Se as unidades de saúde tivessem mais equipadas, os profissionais de enfermagem tivessem mais treinamentos e os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) fossem de melhor qualidade estes números seriam menores, não só para os trabalhadores da saúde mas para toda sociedade”, afirma.

Em julho, segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério da Saúde, que está sem ministro há quase três meses, investiu apenas 26% dos recursos que recebeu para o combate a pandemia.  E é um dinheiro que poderia ter ajudado a salvar muitas vidas, aponta o enfermeiro.

Ato em Porto Alegre pede testagem

Ato em frente ao Ministério Público, em Porto Alegre pede mais testagem entre profissionais da saúde

Foto: CUT-RS/Divulgação

Ato em frente ao Ministério Público, em Porto Alegre pede mais testagem entre profissionais da saúde

Foto: CUT-RS/Divulgação

Em ato realizado pela CUT-RS e Sindisaúde-RS, no final da tarde da última segunda-feira, 10, em frente ao Ministério Público do RS, em Porto Alegre, os trabalhadores da Saúde cobraram apoio para a luta pela testagem em massa durante a pandemia do coronavírus e pelo fim das terceirizações dos postos de atendimento à população da Capital.

Os profissionais da Saúde denunciaram a política do prefeito Nelson Marchezan Jr. (PSDB) definida como “cruel e desumana”, por ter extinguido o Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família de Porto Alegre (Imesf) e vem demitindo os seus profissionais concursados, piorando o atendimento em meio à pandemia. A taxa de ocupação dos leitos de UTI voltou a ultrapassar os 90% na capital gaúcha.

Vestidos com jalecos brancos, usando máscaras de proteção e evitando aglomeração de pessoas, conforme as recomendações sanitárias da Organização Mundial de Saúde (OMS), os manifestantes gritaram palavras de ordem como “Fora Marchezan” e“Fora Bolsonaro”.

Denúncia em tribunal Internacional

No último dia 27 de julho, a Rede Sindical Brasileira UNISaúde, que representa mais de um milhão de profissionais do setor no país, denunciou Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional (TPI), Corte sediada em Haia, na Holanda, que julga graves violações de direitos humanos, como genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra.  A organização acusa Bolsonaro de crime contra a humanidade e genocídio por sua atuação na pandemia. Já é a quinta representação contra o governo.

Profissionais da saúde são os mais impactados

São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Amazonas e Mato Grosso foram os estados que mais registraram óbitos de profissionais de enfermagem. São as mulheres, entre 41 e 50 anos, a maioria entre os que perderam a  vida para a Covid-19, segundo o Observatório da Enfermagem.

Entre os profissionais, os enfermeiros e enfermeiras são os que mais morrem pela doença, mas os trabalhadores da saúde como um todo são as maiores vítimas da pandemia.

Dos casos confirmados de Síndrome Gripal por Covid-19, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os que mais são contaminados são os técnicos e auxiliares de enfermagem (62.633), seguidos dos enfermeiros (26.555) e médicos (19.858).

217 médicos mortos pela Covid-19

Levantamento feito pelo Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), na última semana, quando o país registrou a marca de 100 mil óbitos pela doença, revelou que a categoria perdeu 217 médicos vítimas da Covid-19.  São Paulo, Rio de Janeiro e Pará foram os estados que mais perderam médicos que estavam na linha de frente do combate à doença.

A maioria dos mortos é homem com mais de 60 anos, grupo considerado de risco pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Desvalorização dos profissionais de saúde

Para a médica e diretora do Simesp, Daniela Menezes, não se pode normalizar as mortes e os casos de coronavírus como Bolsonaro tem tentado minimizar desde o início da pandemia. O governo, segundo ela, com este descaso de Bolsonaro com a doença, tratando como a gripezinha, desconsiderando as mortes da população e dificultando as ações de saúde no combate à doença, é que mantem uma curva ascendente.

Mas segundo a médica, a categoria também tem enfrentado um aprofundamento da precarização do trabalho nesta crise em todos os âmbitos. “Neste momento de pandemia ao invés da gente ver a valorização dos profissionais da saúde, o Estado tem contratado terceirizado, sem vínculo empregatício, sem garantia de direitos e muito menos garantias de retorno ao posto de trabalho caso o profissional precise de uma licença de saúde, inclusive nos casos de Covid-19”, ressalta.

 

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