SAÚDE

Covid-19: Plano de imunização deverá contemplar várias vacinas, defende especialista

O ministro Ricardo Lewandowski, do STF, dá 30 dias para o governo apresentar plano que contemple aquisição e distribuição universal de todas as vacinas disponíveis no mercado interno e internacional
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 2 de dezembro de 2020

O Supremo Tribunal Federal (STF) deve deliberar ainda nesta semana sobre a demanda de partidos de oposição que questionam o governo Bolsonaro por afirmar que não irá comprar a vacina Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan, em parceria com laboratório chinês.

O ministro Ricardo Lewandowski, relator da matéria no STF, já determinou que o Executivo Federal apresente no máximo em 30 dias um plano de vacinação. Lewandowski diz que o governo ainda deve contemplar a “aquisição e distribuição universal de todas as vacinas disponíveis no mercado interno e internacional, comprovadamente eficazes e seguras”.

O Ministério da Saúde divulgou ontem, 1° de dezembro, os primeiros pontos da estratégia “preliminar” para a vacinação da população. Nela os antes divulgados 80 milhões de pessoas a serem imunizadas passaram a ser 109,5 milhões divididos em quatro fases.

Na primeira, profissionais da saúde, idosos a partir dos 75 anos de idade, pessoas com 60 anos ou mais que estão em instituições de longa permanência (como asilos e instituições psiquiátricas) e população indígena. Na segunda, idosos de 60 a 74 anos. Na terceira, pessoas com comorbidades, como pacientes com doenças renais crônicas e cardiovasculares. Professores, forças de segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional e população privada de liberdade ficarão para a última etapa.

Estratégia mais correta

Especialistas asseguram que a aposta em apenas uma vacina para o plano de imunização da população brasileira deve ser descartada. “Não tem laboratório no mundo que tenha capacidade de produzir a quantidade para imunizar toda a população de imediato”, afirma Akira Homma, um dos maiores especialistas mundiais em imunização.

Homma entende que na corrida para solucionar a Covid-19, o Brasil deverá contar com mais de duas vacinas. “Pode ser que uma tenha resultados melhores em um ou outro determinado caso”, fala. É impossível, segundo ele, dizer se existe uma ou outra vacina que seja mais adequada para jovens ou idosos, por exemplo.

“Há muito tempo nós deveríamos estar trabalhando com a hipótese de várias vacinas para apresentar um Plano Nacional de Imunização”, defende o médico sanitarista José Gomes Temporão, que foi ministro da Saúde de 2007 a 2011. Preocupa, segundo ele, a falta total de coordenação do Ministério da Saúde nesse processo. “Até agora o que nós vemos são indecisões, falta de informações, falta de transparência, bateção de cabeças entre a vacina A e a vacina B”.

O médico sanitarista se refere ao caso das vacinas que estão sendo trabalhadas nos Instituto Butantan e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Riscos e investimentos necessários

Arte: Tiago Fagundes/Agência Brasil

Arte: Tiago Fagundes/Agência Brasil

Akira Homma, fundador e dirigente da unidade produtora de imunobiológicos da Fiocruz, a Bio-Manguinhos, por mais de 20 anos, diz que os brasileiros deverão ser imunizados de forma gradativa, assim que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) libere uma ou outra vacina.

Pesquisador emérito da Fiocruz e, agora, assessor científico sênior da Bio-Manguinhos, Homma observa que o Brasil, como outros países, está fazendo investimentos de risco necessários.

“Comprou antes para garantir ter o mais antecipadamente possível”, afirma. Ele se refere a parceria da Fiocruz com a Universidade de Oxford (Inglaterra) e a farmacêutica AstraZeneca.

Em paralelo ainda existem outros investimentos. São Paulo, com a Coronavac e o Paraná, com a Russa, Sputinik.

Vacinas promissoras X experiência brasileira

“Há uma perspectiva otimista que ao final do primeiro trimestre nós possamos começar uma campanha com um número bastante razoável de doses”, assegura José Gomes Temporão. Para ele o país tem vantagem “diante da grande experiência que o Brasil tem em vacinação de massa.

Ele enfatiza que isto só será possível também porque o Brasil está em uma situação bastante interessante, ao se comparar ao cenário internacional.

“Duas das mais promissoras vacinas estão sendo testadas aqui, em duas instituições que são dois dos maiores laboratórios produtores de vacinas do mundo, o Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz”, destaca.  “É o resultado de mais de 40 anos de investimentos em instituições públicas que garantiu ao Brasil uma capacidade de produção que só se encontra na China e na Índia, entre os países em desenvolvimento.

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