SAÚDE

Anvisa avalia mais dois pedidos de uso emergencial de vacinas contra covid-19

Requisições da Fiocruz e do Butantan para importação dos imunizantes da AstraZeneca/Oxford e Coronavac podem ser aprovadas em dez dias
Por Gilson Camargo / Publicado em 8 de janeiro de 2021
A Fiocruz obteve no sábado autorização para importar 2 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca

Foto: Erasmo Salomão/ MS

A Fiocruz obteve no sábado autorização para importar 2 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca

Foto: Erasmo Salomão/ MS

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) enviou nesta sexta-feira, 8, à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pedido de uso emergencial da vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca e pela Universidade de Oxford. A requisição abrange 2 milhões de doses a serem importadas do laboratório indiano Serum.

O Instituto Butantan, que no Brasil conduz os estudos da vacina desenvolvida pela empresa Sinovac, também enviou à Anvisa um pedido de uso emergencial da CoronaVac, vacina contra a Covid-19 produzida pelo laboratório chinês em parceria com o Instituto Butantan.

De acordo com a Agência, o prazo para a análise dos pedidos de uso emergencial dos imunizantes é de dez dias e a avaliação do pedido de registro definitivo pode ocorrer em até dois meses.

Um pedido feito no sábado pela Fiocruz para importação excepcional de 2 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca já foi aprovado pela agência. A importação terá um custo de R$ 59,4 milhões para a Fiocruz. As vacinas devem chegar ao Brasil em janeiro.

As regras para a autorização temporária de uso emergencial, em caráter experimental, de vacinas contra a covid-19 foram definidas em dezembro pela diretoria colegiada da Anvisa.

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson observa a irmã, Susan Cole, ser imunizada com a vacina de Oxford/AstraZeneca, em visita ao Chase Farm Hospital. O uso emergencial do imunizante foi autorizado no dia 30 de dezembro

Foto: Andrew Parsons / Nº 10 Downing Street

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson observa a irmã, Susan Cole, ser imunizada com a vacina de Oxford/AstraZeneca, em visita ao Chase Farm Hospital. O uso emergencial do imunizante foi autorizado no dia 30 de dezembro

Foto: Andrew Parsons / Nº 10 Downing Street

Na segunda-feria, 4, o Reino Unido ampliou seu programa de imunização contra a covid-19, utilizando a vacina desenvolvida pela AstraZeneca/Oxford que deve ser a primeira a ser utilizada no Brasil. O país foi o primeiro do mundo a confirmar contágio por nova cepa do coronavírus 70% mais transmissível, registrou recorde de 57.725 novos casos no dia 2 de janeiro A vacinação dos britânicos começou em dezembro com os profiláticos das farmacêuticas Pfizer e BioNTech. O uso emergencial da vacina da AstraZeneca foi autorizado no dia 30 de dezembro.

País tem quase 8 milhões de infectados

Até às 13h desta sexta-feira, o país totalizava 7.942.913 casos confirmados de infecção por coronavírus e 200.334 mortes, de acordo com a atualização parcial feita pelo consórcio de veículos de imprensa, que reúne dados das secretarias estaduais desde que o Ministério da Saúde passou a censurar os dados da pandemia, em meados do ano passado. Apenas seis estados atualizaram os dados desde o último balanço, feito às 20h de quinta-feira: CE, GO, MG, MS, RN e TO. Foram 1.120 mortes em 24 horas, registradas na quinta-feira, elevando a média móvel de mortes dos últimos sete dias para 741.

Aumento de leitos UTI covid pelo SUS

No RS, 95,8% da população está exposta a alto risco de contaminação e esgotamento de leitos

Infográfico: GDO/Divulgação

No RS, 95,8% da população está exposta a alto risco de contaminação e esgotamento de leitos

Infográfico: GDO/Divulgação

O Rio Grande do Sul atingiu nesta sexta-feira 474.917 casos confirmados de covid-19, sendo 4.964 registrados nas últimas 24 horas; e 9.359 mortes, das quais 66 notificadas em um dia. Os casos de internação hospitalar por Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) somam 32.812, ou 7% do total de infectados.

O governo estadual anunciou nesta sexta-feira a abertura de cem leitos, entre novos e reativados, de UTI adulto para pacientes de covid-19 e mais 68 novos leitos de retaguarda operacional, ou seja, que podem ser habilitados conforme necessidade. As vagas para dar cobertura de saúde em hospitais públicos do estado em caso de aumento de internações de pacientes graves foram abertas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

“Esses leitos foram pactuados entre a Secretaria da Saúde e municípios, e serão de fundamental importância durante os meses de verão, uma vez que projetamos um aumento do número de casos de covid-19”, explica o diretor de Regulação Estadual, Eduardo Elsade. “Preferimos não precisar usar essas vagas, mas teremos o suporte necessário para a garantia de acesso aos pacientes. Reiteramos o pedido à população de seguir os protocolos de distanciamento controlado”.

De acordo com Elsade, também foram disponibilizados equipamentos aos hospitais Vila Nova, Restinga, Universitário de Canoas e Pronto-Socorro de Porto Alegre para a abertura dos novos leitos de UTI. O único hospital da lista que ainda tem pendência para colocar os leitos em funcionamento é o Beneficência Portuguesa, de Porto Alegre, que depende da liberação de alvará sanitário. A instituição foi privatizada no ano passado.

Serão contemplados com dez leitos novos ou reativados cada um os hospitais São Vicente de Paulo, de Osório e de Cruz Alta, Universitário São Francisco, de Pelotas, HPS e Restinga, de Porto Alegre. Na capital, o Vila Nova terá 16 leitos suplementares e o Beneficência, 19. O hospital Universitário, de Canoas, 15. Já os leitos operacionais de retaguarda foram distribuídos ao Cristo Redentor (18), Clínicas (20) e Santa Casa (30).

Cogestão regional da crise

Em reunião com o governador Eduardo Leite (PSB) e prefeitos da Região Metropolitana, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), afirmou que capital passará a adotar o sistema de cogestão regional, no qual grupos de municípios podem adotar protocolos próprios no enfrentamento à pandemia. Junto com Alvorada, Viamão, Glorinha e Cachoeirinha, que integram Região 10, Porto Alegre poderá adotar critérios mais flexíveis, desde que não menos rígidos do que os da cor da bandeira precedente.

O plano de cogestão seria enviado ao governo estadual ainda essa semana e pede a flexibilização de atividades econômicas. “O comércio que cumpre os protocolos não é o propagador do vírus. A falta de conscientização das pessoas que promovem aglomerações desnecessárias tem muito mais impacto. É isso que precisamos e vamos combater”, argumentou Melo. O Ministério Público estadual informou que está acompanhando as tratativas entre o governo do estado e o município.

Estado perdeu o controle da pandemia

Estado perdeu o controle da epidemia desde outubro, avalia Pedro Hallal, da UFPel

Foto: AssCom/Ufpel

Estado perdeu o controle da epidemia desde outubro, avalia Pedro Hallal, da UFPel

Foto: AssCom/Ufpel

Para o epidemiologista e professor da UFPel, Pedro Hallal, coordenador da pesquisa Epicovid, o atual estágio da pandemia é motivo de muita preocupação. “Desde outubro a situação descontrolou no estado. De outubro pra frente o RS perdeu o controle do coronavírus que levou muito sucesso até setembro. Eu até noto, com base nos dados que a gente tem, que a última semana dá alguma sugestão de melhora em várias regiões do estado. Janeiro ainda será ruim, mas a partir de fevereiro a tendência é uma diminuição no número de casos e consequentemente no número de internações e óbitos”, avalia.

Segundo o pesquisador, a questão da flexibilização da abertura do comércio na capital não preocupa. “Não acho que seja o principal problema. O comércio tem sido mais penalizado do que deveria. Tem outras questões como bares, aglomerações, festas, com muito mais impacto sobre a transmissão. Então não colocaria na conta do comércio”.

De acordo com a médica Thiela Freitas, do Controle de Infecções Hospitalares do GHC, existe a expectativa entre os profissionais de saúde que as aglomerações de final de ano possam resultar em um aumento no número de internações de pacientes graves por covid-19. “Pode acontecer. Existe essa expectativa, mas teríamos que observar os próximos dias. De qualquer maneira, estamos preparados para um eventual aumento na demanda por leitos e vamos dar o máximo de atendimento possível”.

De acordo com a secretária da Saúde, Arita Bergmann, o fato de a grande maioria das regiões ter ficado com a bandeira final vermelha já representa um sinal de alerta para a população redobrar os cuidados, mas, além disso, as festas de fim de ano ainda não tiveram impacto nos dados do mapa desta semana.

“Ainda não temos como aferir o impacto no crescimento da transmissão do vírus como resultado do período de final de ano, Natal e Ano-Novo. Então, o fato de não ter bandeira preta não significa que possamos, neste momento, deixarmos de estar vigilantes em relação ao contágio. É fundamental evitarmos aglomerações, fazer o uso da máscara e lavar bem as mãos, porque a situação é crítica, como mostra a classificação preliminar”, alerta.

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